Li hoje no site “Vi o Mundo”, do jornalista Luiz Carlos Azenha:
“Obama's War with the Right (& Media)
Saturday 28 February 2009
por Robert Parry, Consortium News
"Em uma mensagem surpreendentemente ambiciosa sobre o orçamento, o presidente Barack Obama abriu as portas para a Direita Americana não apenas ao ligar a atual crise econômica à irresponsabilidade dos últimos oito anos sob George W. Bush mas ligando a origem dela às políticas anti-regulamentação, anti-sindicatos e anti-governo de Ronald Reagan.
"Na maior parte das últimas três décadas, uma porção desproporcional da riqueza da nação foi acumulada pelos muito ricos", diz a mensagem de 142 páginas que acompanha o orçamento. "Avanços tecnológicos e a crescente competição global, embora tenham transformado indústrias completamente -- e provocado o nascimento de outras --, acentuaram a tendência de aumento da desigualdade".
Embora Obama tenha atribuído o que chamou de "legado de mau gerenciamento e má escolha de prioridades" ao governo Bush, não há como não notar a mensagem mais ampla -- que os problemas que foram "exacerbados" pelo cortes de impostos de Bush e outras políticas pró-ricos vinham sendo construídas desde a declaração de Regan, em seu discurso de posse, em 1981, de que "o governo é o problema".
Obama fez até mesmo uma referência rápida a essa formulação no preâmbulo da sua mensagem orçamentária. "Precisamos colocar as ideologias de lado e não perguntar se nosso governo é muito grande ou muito pequeno, ou se é o problema ou a solução, mas se ele está trabalhando pelo povo americano", disse Obama.
Para a Direita Americana, essas palavras equivalem a um grito de guerra, e líderes direitistas já trouxeram à luz sua curiosa acusação de "luta de classes", uma mensagem irônica dado que a crescente disparidade de riqueza revela que a "luta de classes" estava no coração das políticas de Regan e Bush -- e os ricos estavam ganhando a luta.
Ainda assim, embora pareça audácia para um jovem presidente enfrentar as bem posicionadas forças da reação em Washington, há outra razão para Obama e seus apoiadores se preocuparem. A mídia nacional permanece essencialmente prisioneira das regras pró-republicanas das últimas três décadas.
Tanto na mídia direitista quanto na mídia tradicional, as notícias continuam sendo estruturadas em torno de um fracasso de Obama, absolvendo Bush (sem mencionar o ícone, Reagan).
Olhem, por exemplo, as notícias principais do New York Times e do Washington Post no sábado. Ambos descrevem a queda de 6,2% no PIB americano durante o último trimestre de 2008. Embora tenha sido o último trimestre do governo Bush, as reportagens focalizaram fracassos de Obama.
O New York Times cita "uma sensação de desconexão entre as projeções da Casa Branca [de Obama] e a dura realidade cotidiana dos Estados Unidos". O Washington Post diz que "os números piores que o esperado abasteceram as dúvidas sobre se o governo Obama avaliou adequadamente os desafios que enfrenta".
O que chama a atenção nessas duas reportagens -- e em outras, de outros jornais -- é que o nome Bush não é encontrado nelas. Em vez de refletirem negativamente em Obama, os textos poderiam ter muito bem dito que George W. Bush deixou para trás uma confusão econômica ainda pior do que se pensava.
Os jornais poderiam ter explicado como as políticas de Bush -- os grandes cortes de impostos para os mais ricos, a desregulamentação e a queda do nível de vida da classe média -- empurraram os Estados Unidos para a beira de uma catástrofe econômica. Poderia ter havido pelo menos uma referência a como Bush contribuiu para "a dura realidade cotidiana dos Estados Unidos".
Ou alguns comentaristas, que criticaram o tom pessimista de Obama sobre o estado da economia -- acusando-o de causar desânimo -- poderiam ter se desculpado e admitido que o presidente estava mais correto que eles. Poderiam ter notado, inclusive, que foi Bush quem causado o verdadeiro "desânimo" na economia.
Mas isso exigiria o rompimento do paradigma da mídia nas últimas décadas -- e não há qualquer sinal de que a poderosa mídia direitista tem qualquer intenção de mudar seu caminho ideológico, nem a mídia tradicional parece disposta a parar com suas tentativas sem fim de provar que não é "liberal".
Nos dias de hoje, Bush só é mencionado positivamente.
Por exemplo, embora tenham se esquecido de mencionar que a economia americana despencou durante o último trimestre do governo Bush, a mídia americana deu crédito a Bush quando Obama anunciou que vai retirar as tropas de combate americanas do Iraque até 31 de agosto de 2010. A CNN e outras empresas de mídia citaram a estratégia de aumentar o número de tropas de Bush como a razão que permite a Obama cumprir sua promessa.
Em outras palavras, Bush ganha crédito quando Obama termina uma guerra desnecessária lançada por Bush há mais de seis anos, enquanto é atribuída a Obama a queda de 6,2% do PIB que aconteceu sob Bush.
No momento em que Obama começa sua perigosa jornada política -- em busca de um sistema nacional de saúde, uma economia mais verde, investimentos em educação e infraestrutura e impostos mais altos para os ricos -- pode esperar contínua hostilidade da maior parte da mídia, seja a direitista, seja a tradicional.
Esse problema estrutural pode acabar sendo fatal para os objetivos do presidente.
Sobre o autor do artigo acima: "Robert Parry broke many of the Iran-Contra stories in the 1980s for the Associated Press and Newsweek. His latest book, Neck Deep: The Disastrous Presidency of George W. Bush, was written with two of his sons, Sam and Nat, and can be ordered at neckdeepbook.com. His two previous books, Secrecy & Privilege: The Rise of the Bush Dynasty from Watergate to Iraq and Lost History: Contras, Cocaine, the Press & 'Project Truth' are also available there. Or go to Amazon.com.”
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