sexta-feira, 19 de junho de 2009

ANTONIO DELFIM NETTO: "O DESASTRE"

“Uma forma prática de medir a evolução da economia é avaliar a variação anual do PIB em cada trimestre, comparando com o do trimestre homólogo do ano anterior. Se compararmos o PIB do 1º trimestre de 2009 com o do 1º trimestre de 2008, teremos uma estimativa do crescimento anual do PIB no período. Em 9 de junho, o IBGE divulgou as seguintes taxas de crescimento para o PIB brasileiro nos últimos trimestres.

Entre o 3º trimestre de 2008 e o 1º trimestre de 2009 (seis meses), houve uma redução do PIB físico da ordem de 4,5%, produzida pela morte súbita do crédito interbancário no Brasil, importada dos EUA em setembro depois da liquidação do banco de investimento Lehman Brothers. Não deixa de ser estranho que um país cujo sistema financeiro é razoavelmente hígido e relativamente fechado tenha sofrido um ajuste de tal magnitude.

É fato que poderíamos ter feito um esforço fiscal um pouco melhor, postergando os compromissos com as despesas de custeio e dando maior suporte ao investimento, uma vez que o funcionalismo, ao contrário do trabalhador comum, está absolutamente protegido do estresse da recessão.

O que andou mal foi a política monetária, que, a despeito de estar na direção correta, foi sempre atrasada e sempre inferior à capacidade do Banco Central de dar conforto ao sistema bancário. Esse é um mistério que ainda está para ser esclarecido. O Banco Central sabia em setembro de 2008 que, para restabelecer o crédito interbancário e reduzir a dramática queda do setor real da economia, tinha que executar as medidas que tardiamente estão sendo tomadas em junho de 2009.

A queda do PIB entre o 1º trimestre de 2009 e o 4º de 2008 foi menor do que os mais otimistas imaginavam. O 2º trimestre, que está terminando, parece ter sido ligeiramente melhor e registrará, talvez, um pequeno crescimento em relação ao 1º. Restam seis meses para melhorar nossa performance.

Supondo (não "prevendo") um crescimento de cada trimestre sobre o anterior de 0,5% no 2º trimestre, 1,2% no terceiro e 1% daí em diante (o que não parece um absurdo), terminaremos 2009 com uma queda em torno de 1%.

Nada está dado: um esforço maior no 3º trimestre poderá nos aproximar do terreno positivo. A boa notícia é que já poderemos estar crescendo entre 3,5% a 4% ao ano no segundo trimestre de 2010.”

FONTE: artigo do ex-Ministro Antonio Delfim Netto na Folha de São Paulo de 18/06/2009.

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