quarta-feira, 10 de junho de 2009

ECONOMIA DO PAÍS DEVE REVERTER QUEDA JÁ NO 2º TRIMESTRE, DIZEM ANALISTAS

"O resultado do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no 1º trimestre confirma que o país está em recessão técnica. Mas, para analistas, esse cenário deve ser revertido já no segundo trimestre. Segundo eles, no final do ano, o país deve registrar expansão de 0,5% no PIB.

A analista da Tendências Consultoria Marcela Prada afirma que a reviravolta deve ser puxada pelo consumo, que foi estimulado por medidas como corte de IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) de veículos e eletrodomésticos.

Da mesma forma, o crescimento na produção industrial, que vem sendo observado desde janeiro, também deve ajudar na recuperação.

"O consumo das famílias deve ser o fator principal de expansão do PIB nos próximos trimestres. No fechamento do ano, o consumo deve encerrar com alta de 1,56%. Se compararmos com o crescimento de 5,4% do ano passado, é uma desaceleração forte. Porém, não chegará a uma queda justamente pelo auxílio das medidas do governo e da melhora na liberação do crédito bancário", diz.

CARROS E ELETRODOMÉSTICOS

O setor de bens duráveis, que inclui produtos como automóveis e eletrodomésticos, deve puxar o crescimento nos próximos trimestres, segundo Evaldo Alves, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Mas os outros ramos da indústria devem sofrer até o final do ano.

"Há os que atendem a estímulos como os que o governo deu e que respondem rápido, mas ninguém compra mais feijão nem mais remédio só porque o preço baixou. Esses setores vão ter de conviver com queda de renda neste ano, não vejo outra possibilidade", afirmou.

RETRATO DO PASSADO

Para Alves, integrante do Departamento de Planejamento e Análise Econômica da FGV, a divulgação do PIB é "um retrato do passado, dos três piores meses da crise".

Ele julga que o Brasil deve exibir ritmo de recuperação superior ao de países desenvolvidos, embora não vá chegar aos níveis acelerados de China e Índia.

"No fim do ano, eu aposto em um crescimento razoável, entre 1% e 1,8%. A divulgação desse PIB negativo do primeiro trimestre acaba não mostrando que, na verdade, não estamos em recessão técnica: estamos, sim, saindo dessa recessão."

RECUPERAÇÃO RÁPIDA?

O professor de finanças da FIA (Fundação Instituto de Administração) José Carlos Luxo explica que há bons motivos para acreditar na rápida recuperação da economia.

Como exemplo, ele cita as linhas de empréstimo para exportação, que haviam secado no início do ano e estão voltando aos níveis pré-crise.

Além disso, algumas empresas estão fazendo emissão de debêntures no mercado doméstico, o que mostra o aumento da confiança no Brasil.

"Os países emergentes como um todo estão se saindo melhor na crise do que os desenvolvidos", diz.

CONFIANÇA EM ALTA

De acordo com o economista-chefe da LCA Consultores, Braulio Borges, a confiança do consumidor e a da indústria em alta, o aumento das vendas de automóveis e a elevação no consumo de energia apontam para aquecimento da economia brasileira.

"Isso mostra que o país já não está mais em recessão no segundo trimestre e já deixou pra trás o fundo do poço. O que desencadeou esse otimismo é o fato de as empresas terem se livrado dos estoques indesejados no primeiro trimestre e iniciado abril com um nível normalizado. Além disso, as medidas tomadas pelo governo, como redução do IPI e liberação do consórcio, também ajudaram", diz.

Entre os setores que devem ser responsáveis por levantar a economia brasileira, Marcela Prada cita os de bens duráveis, principalmente aqueles que tiveram incentivo fiscal do governo, como veículos e eletrodomésticos.

JUROS EM 9%

Por conta da crença em melhoras no consumo, Luxo não vê muito espaço para queda na taxa básica de juros (Selic) no país a partir do segundo semestre.

"Ainda há pequenas chances de cortar a Selic por causa da inflação comportada, mas, no decorrer do segundo semestre, com a expansão do PIB e o consumo acelerando, a inflação pode voltar a preocupar. Por isso não vejo a Selic abaixo de 9%", afirma.

Para as exportações, Marcela acredita em recuperação apenas a partir de 2010. Neste ano, as vendas ao exterior devem cair 10%, segundo estimativa da Tendências.

"Não dá para contar com as exportações, muito menos com os investimentos para ter um PIB no azul neste ano. A ociosidade das empresas ainda está elevada e o consumo de produtos brasileiros está caindo muito no mercado internacional, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, que hoje compram quase a metade de tudo o que é exportado pelo Brasil", diz Braulio Borges.

Para Luxo, tudo dependerá do desempenho dos países desenvolvidos. Se eles ampliarem o consumo de commodities, das quais o Brasil é exportador, o preço tende a aumentar, e o Brasil sai ganhando", diz.

FONTE: portal UOL, em 09/06/2009, texto de Ana Carolina Lourençon e Maurício Savarese.

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