Brasília, 29/03/2010
"Por incrível que pareça, eu vou ser breve de verdade, porque a agenda hoje está demasiadamente carregada e eu tenho uma agenda internacional ainda.
Primeiro, eu queria, tanto ao Artur quanto ao Godoy, à Dilma, ao Guido Mantega, ao governador Jaques Wagner e ao prefeito Eduardo Paes, dar os parabéns pelos discursos feitos aqui.
Certamente, o Brasil já viveu outros momentos destes, em que o governo anunciou um conjunto de obras. Certamente, em alguns momentos as obras aconteceram, em outros momentos as obras não aconteceram. Vocês poderiam estar perguntando: “Por que o presidente Lula resolveu lançar o PAC 2 no seu último ano de governo, já que o PAC 1 foi lançado no seu primeiro ano de governo?” Apenas para efeito de registro histórico, o PAC 1 era para ter sido lançado também em 2006, antes das eleições. A gente não lançou porque já era mais ou menos o mês de setembro, e a gente não queria confundir o PAC 1 com as eleições de 2006. E nós entendíamos que era melhor, então, guardar para lançá-lo no começo do ano seguinte. Isso demonstra o otimismo que a gente tinha naquela época, com o lançamento de um programa da envergadura do PAC, que não queríamos utilizá-lo politicamente.
Por que, então, agora, tomamos a decisão de lançar o PAC 2? Primeiro, porque nós aprendemos – prefeitos, governadores, os gestores públicos do governo federal em todos os ministérios –, nós aprendemos que, entre anunciar uma obra - disponibilizar dinheiro no orçamento é a coisa mais fácil - e essa obra começar a ser executada, tem um tempo que não depende individualmente de nenhum de nós e que depende de todas as barreiras que, historicamente, nós criamos para nos autofiscalizar.
Estou dizendo isso com muito orgulho, porque nós fizemos um governo que, mais transparência, era impossível. Mas, dois exemplos que eu vou dar para vocês, inclusive um comunicado ao Eduardo Campos: eu não estou indo amanhã a Pernambuco porque nem sempre as coisas são como as pessoas dizem que são. Depois eu vou contar a minha viagem de Itabuna, você vai saber do que eu estou falando.
A Transnordestina, nós estamos trabalhando nela há cinco anos. Não são cinco dias, há cinco anos. Só a elaboração do projeto, a arquitetura financeira, que envolveu vários... ministro da Fazenda, presidente do Banco Central, ministro da Integração... Nós levamos mais de três anos para construir a engenharia financeira para fazer a Transnordestina. Quando nós concluímos a engenharia financeira, nós tínhamos nos esquecido da engenharia burocrática de cada ente que estava envolvido – seja do BNDES, seja do Finor, seja do Ministério da Integração, seja da empresa. Ou seja, sempre você tinha uma vírgula que, quando eu perguntava: Quando vamos começar?, diziam: “Um pouco mais, Presidente”. Depois, tem o problema dos governos estaduais com as desapropriações, que não é uma coisa fácil. Só para vocês terem ideia, na reunião que eu fiz em janeiro – porque agora eu estou fazendo reunião a cada trinta dias – estava tudo pronto, na de fevereiro já não estava pronto. Ou seja, só para ter uma ideia do transtorno que é você fazer uma obra de grande envergadura neste país. É por isso que de vez em quando se falava do “cemitério de obras paradas”. É porque nem todo mundo é perseverante como eu sou, para ir em cima, para concluir, porque senão elas não acontecem.
Veja, eu estou dizendo isso de público porque eu ia amanhã para a Transnordestina, para inaugurar a fábrica de dormentes, a maior do mundo, e a fábrica de brita que, sozinha a usina de brita, vai produzir mais brita que as quarenta que tem em São Paulo. E não vamos porque não está pronta. Esse compromisso foi feito comigo em janeiro, em janeiro. Não está pronta.
Poderíamos pegar outras obras. A Transnordestina, para quem é paulista, para quem é gaúcho, para quem é catarinense, para quem é... é uma ferrovia de quase 1.800 quilômetros, que vai ligar o Porto de Pecém ao Porto de Suape, em Pernambuco – Pecém, no Ceará – e vai até Eliseu Martins, no Tocantins, pegar a produção de soja que tem lá... no Piauí, no Piauí - é que ela vai chegar no Tocantins logo, logo. E vai pegar toda a soja produzida e vai ser um sistema de transporte muito moderno.
Eu lembro que na campanha de [19]79, quando eu fui fazer um comício no Crato, na volta, o doutor Arraes, que estava me apoiando firmemente, disse para mim: “Ô Lula, me faça a Transnordestina. O Nordeste precisa reativar essa ferrovia”. Portanto, nós... toda a engenharia foi para que a gente inaugurasse ela em 2010, toda a engenharia; e vamos inaugurar somente lá para 2012, porque entre a vontade de fazer... E agora uma prova: não é falta de dinheiro. Porque antigamente, se dizia que não tinha dinheiro. Tem dinheiro. O que nós precisamos resolver nas prefeituras, nos governos dos estados e no governo federal é a facilidade dos projetos.
É importante e eu vou dizer [em] alto e em bom som para todo mundo entender: o que libera dinheiro não é discurso, o que libera dinheiro não é pressão política, o que libera dinheiro não é emenda parlamentar, o que libera dinheiro não é o estado ser mais rico ou mais pobre. O que libera dinheiro é o cidadão que governa uma cidade ou um estado, ou um ministro que governa uma pasta trazer um projeto consistente, com cumprimento de todas as exigências legais.
Por isso... todo mundo aqui já aprendeu, todo mundo aqui já aprendeu. Acho que não tem um prefeito neste país... não tem um prefeito e um governador, que a gente não tenha aprendido como é difícil a distância entre a gente ter o dinheiro e a gente ter a obra. É uma coisa... você pensa que é só a 319? Se fosse só 319...
Pois bem. Pois bem, companheiros. Por que foi importante, e eu queria fazer o lançamento do PAC 2, agora e urgente? Porque era para garantir que cada companheiro, desde uma empresa como a Petrobras, a uma empresa como a Eletrobras, a outras empresas importantes, até cada prefeito ou cada governador e cada ministro, vão ter um tempo para construir e preparar os seus projetos. Daqui até junho, de todas essas coisas que a ministra Dilma anunciou, nós já temos por volta de 441 projetos selecionados, inclusive, projetos selecionados já com projetos básicos em muitos casos, ou projetos executivos. Portanto, obra preparada para começar.
Agora, Aloizio, não pense que quando eu falo “obra preparada para começar”, ela começa. Demora um tempo. Eu lembro que antes de terminar o mandato, o Fernando Henrique Cardoso foi entregar a ordem de serviço da BR-101 lá na cidade de Osório, no Rio Grande do Sul. E eu, em 2004, fui lá buscar a ordem que ele deu e dar outra ordem. É, porque não aconteceu nada com a ordem que ele deu. E com a minha, quase que não acontece, porque tinha uma perereca no túnel, e a perereca “embirrou” seis meses a obra, seis meses.
Bem, então era necessário lançar... era necessário lançar o PAC agora, porque até junho – é importante vocês prestarem atenção - até junho o núcleo coordenador do PAC vai se reunir com os prefeitos e com os governadores para que a gente comece a destrinchar cada coisa. E isso é importante porque se não fizermos agora, quem assumir o governo no dia 1º de janeiro do ano que vem vai perder um ano fazendo o que nós estamos fazendo agora. Como nós não precisamos ficar parados, esperando obra, nós temos o PAC 1 funcionando, ou seja, nós vamos ter uma equipe, concomitantemente com a execução do PAC 1, trabalhando os projetos dos prefeitos com a sua estrutura, os governadores, para que o pessoal comece 2011 embalado. Mais ou menos que nem o time do Corinthians, ontem, embalado, embalado. Para não falar o time do Santos aqui, eu tenho que falar do Corinthians.
Então nós vamos ter, só para vocês prestarem atenção, prestarem atenção: entre abril e junho, nós deveremos estar discutindo mais de dez mil projetos. Entre vocês trazerem o projeto à mesa do ministro ou à mesa da coordenação do PAC e esse projeto se transformar numa coisa concreta... porque parte disso vai entrar no orçamento que a gente vai aprovar em... este ano, para 2011. A gente não pode deixar para fazer as coisas... porque aí só vão ser feitas a partir de 2012, e nós não temos tempo a perder.
Na medida em que o Brasil aprendeu a se planejar, na medida em que nós estamos construindo... eu considero isso, Dilma, uma carteira, uma carteira de obras. É que nem uma carteira de advogado. O advogado, quando ele se forma... eu estou vendo aqui o Jobim, estou vendo o Tarso Genro, advogados. O advogado, quando ele se forma – o Temer –, ele pensa que vai ganhar dinheiro. Aí, monta um escritório. Aí, ali passa um mês sem aparecer um cliente, passam dois meses, e quando aparece o primeiro cliente ele só vai receber o dinheiro daquele cliente quatro ou cinco anos depois, quando a causa é julgada. Isso, se ele ganhar. Se ele perder...
Então, o que nós estamos construindo no Brasil é uma prateleira de projetos nas prefeituras, nos estados e no governo federal para que quem vier a governar este país, em qualquer momento, não pegue o país como vocês pegaram as prefeituras, como vocês pegaram os governos dos estados e como nós pegamos aqui, em que você não tinha projeto. Tudo, você tinha que começar praticamente do zero.
Essa é uma coisa que o Brasil, na hora em que construir essa carteira, o Brasil vai poder pensar em outras coisas. Vocês viram que nós falamos aqui muito em PAC de infraestrutura, PAC... mas o Fernando Haddad sabe que vai ter que construir mais coisas para a Educação; o Sergio Rezende sabe que vai ter que construir mais coisas para a Ciência e Tecnologia; a Embrapa sabe que vai ter que pensar um pouco mais para frente, porque é pensando quatro anos para frente que a gente pode construir este país mais rapidamente, para que as futuras gerações não vivam a situação que nós vivemos.
Eu estava vendo a Dilma dizer um dado aqui que me deixou impressionado: o último grande investimento em infraestrutura foi feito pelo Geisel. Você pode dizer o Brasil planejado, com aqueles planos decenais, quinquenais, que eram feitos pelos militares. Está certo que o Geisel deixou também a dívida externa para a gente pagar, ele deixou. Mas o dado concreto é que depois dele ninguém teve mais competência ou possibilidade de fazer qualquer coisa para a frente, porque o país estava endividado. Nós passamos duas décadas discutindo apenas a questão de pagamento de dívida.
Bom, nós estamos em um outro momento agora. O que nós estamos querendo é dar fôlego para que este país possa pensar o futuro, em que um presidente da República venha a fazer um discurso e ele não tenha que ficar falando mal de quem saiu, e que ele tenha que apresentar propostas à frente, propostas para os nossos netos, para os nossos filhos.
E é isso que eu acho que nós fizemos, com todas as mudanças. Vocês estão lembrados que em 2007 eu disse, no começo do segundo mandato: é preciso destravar este país.
Por conta desse discurso de destravar o país, o companheiro Luciano Coutinho nos levou, junto com o Miguel Jorge, ao BNDES, para a gente aprovar um programa chamado Política de Desenvolvimento Produtivo – PDP, que é, na verdade, é uma espécie de revolução, que trata, entre outras coisas, da inovação tecnológica, porque se nós não fizermos inovação tecnológica, muitas das coisas que nós sonhamos não acontecerão, sobretudo de o Brasil se transformar na quinta economia do mundo, na quarta economia do mundo ou na sexta economia do mundo.
Nós estamos trabalhando firmemente para não sermos apenas campeões de exportar suco de laranja, minério de ferro ou soja. Nós queremos exportar muito mais coisas, dentre elas o conhecimento e a inteligência do povo brasileiro, que será aprendida em um processo de qualificação, melhorando as universidades, fazendo mais universidades, mais escolas técnicas, mais Cefets. É isso que vai permitir que a gente possa fazer o Brasil ingressar no rol dos países desenvolvidos.
E obviamente que isso só pode ser feito se você tiver a roda da economia girando, se você estiver gerando emprego, se você estiver gerando salário, se você estiver gerando renda. Porque uma coisa, uma coisa todos os economistas, todos os advogados, todos os políticos precisam saber: a coisa mais importante que aconteceu neste país, no nosso governo, foi a prova de que é plenamente possível você compatibilizar o crescimento com a distribuição de renda, concomitantemente, não esperar que o segundo degrau seja feito para você subir o primeiro. E o resultado disso foi o enfrentamento da crise, no ano passado. Vocês não sabem como me enche de orgulho quando as pesquisas mostram que as classes D e E das regiões mais pobres do Brasil consumiram mais do que a classe A, da região Sul do país. Eu gostaria que a A também tivesse consumido mais, porque aí o PIB teria crescido um pouco mais. Mas, ao mesmo tempo, nós temos que lembrar dos efeitos de uma pequena política de transferência de renda, o que causou na opinião pública.
O povo nordestino, o povo do Norte e o povo da periferia dos grandes centros urbanos – de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro – sabe disso. O Sérgio Cabral sabe da alegria daquele povo da favela de ver o Estado lá dentro, não apenas levando polícia, mas levando assistência, levando casa, levando educação, levando emprego, levando cultura. As pessoas percebem que o Estado está lá dentro. E qual é o meu orgulho? É o que acontece no Rio de Janeiro, acontece em São Paulo, acontece em Salvador, acontece em Aracaju, acontece em Recife, acontece em Fortaleza, ou seja, não tem uma capital deste país... Eu vou dizer mais: não tem uma cidade deste país que não tenha hoje um investimento do PAC.
É por isso que a Dilma disse corretamente: ser republicano não é retórica de palanque. É colocar em prática. Certamente, alguns companheiros governadores de outros partidos não vieram, mas têm representantes, têm vices. E, se não vieram, não foi por oposição. É porque estão preocupados em gastar o dinheiro do PAC 1, que eles já receberam neste mandato. Tenham certeza disso, de que a preocupação de todos eles é inaugurar as obras antes de terminar o 2 de abril. Eu mesmo estou convidado para algumas, mas não posso ir porque tenho muita coisa para fazer aqui, amanhã.
Então, eu quero terminar, companheiros, dizendo para vocês apenas duas coisas. Eu não estou contente com o que nós fizemos até agora, e acho que nenhum de vocês está contente, porque nós temos a obrigação de fazer mais, temos competência de fazer mais. O povo pobre deste país precisa que a gente faça mais, e a economia precisa que isso aconteça.
Eu fico imaginando se nós, naquele momento de crise, tivemos que fazer um investimento de quase R$ 12 bilhões no Bolsa Família, o próximo governo não pode se contentar com [R$] 12 [bilhões], vai ter que fazer mais. Ou vai ter que gerar tanto emprego, que um dia não vai precisar mais ninguém ter o Bolsa Família. Porque quando a gente começou a fazer o programa Bolsa Família, qual era a crítica que a gente recebia? “Cadê a porta da saída? A porta da saída? A porta da saída?”. Os coitados não tinham nem entrado. Eu não sei porque pobre incomoda tanta gente neste país! Não, porque a verdade é essa, é que incomoda. Você dizer que vai fazer as coisas para os pequenos neste país incomoda, é perda de tempo. Inclusão, fazer estrada, fazer Bolsa Família, tudo isso é secundário. O que é importante é fazer infraestrutura. Obviamente que nós concordamos, mas se a gente fizer um aeroporto e do lado de fora tiver o povo morrendo de fome, quem vai viajar de avião? Quem vai viajar de avião se o povo não pode comer? Vejam, um pouco dos pobres andando de avião já está dando problema nos aeroportos. Todo dia o Jobim chega e mostra para mim: “Está crescendo 10% ao ano, está crescendo 10% ao ano”. E vai crescer mais.
Eu lembro a primeira vez que eu entrei em um avião. A primeira vez que eu viajei em um avião era coisa de rico, eu me preparei para viajar. Em 1975, eu fui eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e tinha um congresso da Previdência aqui.
Quando eu vim para cá me prepararam: “Olha, só tem gente rica no avião. Você leva uns 30 lenços porque vai colocar tudo para fora”. Eu entrei no avião, amarrei a barriga, quase que estouro. Naquele tempo tinha champanhe no avião, Rollemberg. Tinha champanhe, Vicentinho. Champanhe, tinha comida no prato, garfo... E eu falei: não vou comer nada, não vou beber nada. Sentei duro ali, travei a mão ali, fechei os olhos. Eu falei: daqui para a frente, quero ver o que vai acontecer. Fiquei só esperando vomitar. Aquele saquinho de plástico que tinha, eu pus uns 10 lá na minha sacolinha. Quando eu menos... quando eu menos espero, o cara comunica: “Parou em Brasília”. Então era coisa de rico mesmo, eu me preparei. Hoje, não, hoje os pobres estão viajando de avião. Tem mais gente viajando de avião, sabe. E nós queremos que mais gente viaje mais de avião. Nós queremos que mais gente viaje de avião, que possa percorrer esse Brasil inteiro. E isso só pode acontecer se a gente continuar fazendo distribuição de renda. E aí, Guido, você disse uma coisa que para mim merece registro. Fazer tudo isso sem perder a noção, de cuidar com carinho da responsabilidade fiscal e de controlar a inflação neste país. Porque a inflação, na hora em que volta, ela volta exatamente para corroer o salário das pessoas que ganham salário.
Então, essa é uma coisa sagrada que nós não podemos perder de vista. Este país pode crescer bem, este país pode ter juros menores e este país pode ter a inflação controlada, porque nós aprendemos isso.
E aí eu queria fazer um apelo aos companheiros congressistas, aos companheiros congressistas: gente, ano de eleição não é hora de a gente fazer loucura em votação. Ano de eleição é hora de a gente pensar na próxima geração. E a gente só vai poder cuidar bem da próxima geração se a gente agir com o máximo de cuidado e com o máximo de responsabilidade.
Eu sei da quantidade de propostas que já apareceram para o pré-sal. Mas, se a gente não tomar cuidado, a gente vai diluir tanto que a gente vai terminar não utilizando esse recurso para significar a independência do Brasil.
Eu estive na Bahia agora, Jucá, eu estive na Bahia. E estavam lá os policiais, querendo piso. Não é que eu ache que R$ 3.500,00 é um salário alto. Eu não acho. Se eu ganhasse isso, quem sabe, eu estava até protestando. Mas é importante a gente olhar quantos estados brasileiros podem pagar um piso de R$ 3.500,00, hoje. Quantos governadores? Estão todos ali. É perguntar para alguns quantos podem pagar.
Então, eu penso que essa harmonia entre as votações que a gente vai fazer e a realidade de cada lugar que a gente mora, vive, não pode ser perdida por causa do ano eleitoral.
Eu queria fazer um apelo a vocês. Um apelo que começa pelo comportamento do presidente da República, que deve passar pelo comportamento de quem vai ser candidato a presidente da República neste país, que passa pelo comportamento dos ministros que vão sair e dos ministros que vão ficar. Se tem uma coisa sagrada que fez este país chegar onde chegou foi a seriedade do nosso comportamento até agora. A nossa seriedade, no fundo, no fundo é o que permitiu – e o Sérgio sabe disso –, foi o que permitiu que a gente fosse lá em Copenhague e ganhasse o direito de realizar as Olimpíadas em 2016. É essa seriedade que permite que o Brasil seja elogiado por onde passa hoje.
Aqui tem muita gente que viaja. E todos vocês sabem que o Brasil nunca foi tratado com 10% do respeito que ele tem hoje. Porque aqui a gente provou que tem até mais competência de fazer as coisas melhor do que aqueles que antes davam tanto palpite nas nossas coisas, e agora estão lá endividados e num emaranhado de confusões, que não sabem como sair. Enquanto o mundo desenvolvido está sofrendo o desemprego, neste país, no pior ano da crise, nós criamos 905 mil empregos; este ano, até agora, em dois meses, já criamos quase 400 mil novos empregos. Eu tenho a certeza de que este ano será um ano extraordinário, para alegria do povo brasileiro, para alegria dos dirigentes sindicais não fazerem greve nem passeata no meu último ano de mandato, e para alegria do trabalhador, que vai poder ganhar um pouco mais.
Por último, companheiros e companheiras, a partir de amanhã muitos companheiros irão deixar o governo, porque muitos estarão na luta democrática. Você sabe que é assim, não é? Quando o presidente da República vai querer tirar o ministro, então ele fala: “Mas eu, Presidente? Eu sou tão dedicado! Eu...” É duro tirar. É duro, você não sabe como é triste tirar um ministro. Agora, quando eles querem sair, eles inventam o seguinte discurso para mim: “Olha, o povo precisa, a base decidiu. A base decidiu, eu tenho que ir. Não tenho como faltar com a minha base. O meu estado quer”. Mesmo que depois, nas eleições, ele tenha uma “merrequinha” de voto, assim, ele nem se arrepende, porque ele fez aquilo que era vontade dele. Ninguém segura, ninguém segura alguém que quer ser candidato a deputado, é um negócio impressionante. A deputado e a outras coisas, também. Não apenas a deputado.
Mas, de qualquer forma, eu... vários companheiros vão sair, nós vamos ter uma despedida aqui, um “trololó” com eles. Todo mundo sabe que eu não vou fazer mudança no governo, ou seja, todo mundo sabe que eu não vou... não adianta nem partido pedir ministro, que não tem, a equipe que vai ficar é a equipe que está trabalhando, nós vamos fazer os ajustes que tem que fazer e não tem... Que ninguém venha me pedir a presidência da Petrobras ou da Caixa Econômica, do Banco do Brasil, do BNDES, não venha... A não ser que o Zé Alencar pedisse. Como ele não pede...
Então, nós vamos continuar. Eu estou marcando uma reunião para segunda-feira, depois da Semana Santa, uma reunião com todo mundo que vai ficar, porque eu posso dizer para vocês: quem quiser ficar, sabe que vai trabalhar o dobro dos que saíram, porque agora, a fiscalização nas obras vai ter que ser muito mais rígida, porque a gente não pode se deixar pegar na disputa eleitoral. Ministro não é para cuidar de finanças de campanha de ninguém, ministro é para trabalhar e para cuidar do dinheiro público corretamente. Nós vamos fiscalizar isso, para que as coisas funcionem bem. E nós precisamos fazer o que o Brasil fez no Chile em 1962: Pelé se machucou... - porque tem vários “Pelés” que vão sair - e o Garrinchinha e sua turma conseguiram ganhar a Copa do Mundo de [19]62.
Então, eu só queria agradecer a vocês e dizer o seguinte: Companheira Dilma, você, que foi a mãe do PAC 1... Certamente, eu não posso ficar chamando você de mãe eterna do PAC 2, porque daqui a pouco surge outra mãe aí, adotiva, e vai... E também não vou chamá-la de avó do PAC, porque isso não ajuda. Mas, de qualquer forma, eu quero que vocês saibam, eu quero vocês saibam, e isso aqui eu falo de coração, amanhã, no dia em que a Dilma for sair – eu sei que vocês não estarão aqui, muitos de vocês, porque têm outras atividades –, mas eu gostaria de dizer uma coisa para vocês: se não fosse a trinca da Dilma – ela, a Erenice, a Miriam Belchior e mais a Tereza –, eu estou dizendo... se não fosse a dedicação dessas companheiras, talvez a gente não pudesse nem estar lançando isso aqui hoje, porque eu estou prometendo desde setembro, elas ficaram pedindo conversa comigo em setembro, outubro, novembro, eu não pude conversar. Eu só vim conversar com elas no começo do ano. E elas, eu sei que se dedicaram sábado e domingo até altas horas da noite, para a gente poder apresentar para vocês.
Certamente, isso aqui vai passar por um ajuste, pente fino, nas discussões com os governadores de estados que vão querer uma coisa, vão querer aprimorar outra, vão querer tirar outra; com prefeitos, que vão querer tirar umas, colocar outras... De qualquer forma, o PAC não é do Lula. O Lula só tem mais nove meses aqui. Nove? Acho que menos, até. Estou querendo ganhar alguns dias. Mas, de qualquer forma, esse PAC, se for feito por vocês, governadores e prefeitos, esse PAC, quem entrar aqui na Presidência não vai poder simplesmente pegar e dizer: “Eu não vou fazer isso aqui, vou rasgar e vou fazer outra coisa”, porque terá os governadores eleitos e os prefeitos eleitos no pé, para que ele cumpra o compromisso do Estado brasileiro com a redenção definitiva deste país.
Parabéns, companheira Dilma. Parabéns, companheiro Guido Mantega. E parabéns a todos vocês que, ao longo desse tempo, contribuíram para que a gente pudesse chegar onde nós chegamos.
Está encerrado este ato."
FONTE: compilado por CLAUDIA ANTUNES, do RIOCentro de Eventos e Convenções Brasil 21 – Brasília-DF. Reproduzido no blog "Tijolaço", de Brizola Neto.
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