quinta-feira, 8 de julho de 2010

BRASIL TEM TUDO PARA SER UMA GRANDE POTÊNCIA EM ENERGIA

“Em 2007 e em 2008, até o evento da quebra do Lehman Brothers, as commodities agrícolas viram seus preços atingir recordes sucessivos.

A média dos preços das commodities agrícolas entre janeiro de 2007 e setembro de 2008 ficou 50% acima dos praticados entre 2002 e 2006.

Essa explosão deve-se, em grande medida, à maior demanda por alimentação da China (e países em desenvolvimento em geral). Contudo, não se deve negligenciar a influência dos preços do petróleo nessa dinâmica.

Por estranha que essa relação possa parecer à primeira vista, ela se baseia no fato de que, com o preço do petróleo nas alturas, decorrente de cinco anos de crescimento mundial exuberante, estimulou-se não só a busca por novas jazidas como também a procura por combustíveis substitutos.

Cresceu exponencialmente, assim, o interesse pelo etanol, visto mundialmente como um substituto renovável à gasolina, bem como sobre todas as possíveis fontes de biocombustíveis.

Surge daí a ligação entre os preços do petróleo e das commodities agrícolas: a corrida norte-americana pela produção de etanol de milho levou a uma maior dedicação de área agricultável a esse produto, em detrimento da soja.

Dada a importância da produção de soja norte-americana, que responde por cerca de 50% da mundial, seus preços subiram.

Da mesma forma, houve uma realocação da produção de outras commodities agrícolas, tendo como consequência um aumento generalizado dos preços.

Daqui por diante, com uma perspectiva de crescimento mundial menor, o fervor pela produção de biocombustíveis deve diminuir (reduzindo o preço das commodities agrícolas).

Entretanto, se o Brasil deixar de lado a pesquisa e o desenvolvimento de combustíveis renováveis (os Estados Unidos já estão incentivando programas nesse sentido), arrisca-se a perder uma vantagem competitiva no caso de uma retomada do preço do petróleo.

O Brasil, graças ao Proálcool (Programa Nacional do Álcool) e à produção de veículos flex, sai na frente -- a venda de etanol já corresponde a cerca de 56% da venda de gasolina e responde por 13% do consumo total de combustíveis.

Não só isso: a produtividade do etanol da cana-de-açúcar, como o produzido no Brasil, é bem superior à do milho.

Ou seja, em termos de fontes de energia, embora as conquistas na produção de petróleo com o pré-sal prometam, não se pode esmorecer no desenvolvimento de fontes alternativas de combustíveis.

Só assim o Brasil terá tudo para se transformar numa das maiores potências energéticas do mundo.”

FONTE: escrito por Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados e mestre em economia pela USP. Publicado na Folha de São Paulo.

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