sábado, 19 de fevereiro de 2011

DESAFIOS ESTRATÉGICOS BRASILEIROS

Por Eurico de Lima Figueiredo

“O envolvimento de empresas estratégicas nacionais é vital, cabendo à Petrobras papel de destaque; sindicatos também não podem ficar à margem

Paroquial. É esse o termo que descreve da melhor forma a posição da classe política e da opinião pública em relação às políticas externa e de defesa do Brasil.

Se, durante a campanha presidencial, o tema pouco frequentou a agenda dos candidatos, a situação não mudou em relação ao assunto quanto ao novo governo que se instalou em Brasília.

Tudo tem se passado como se o país ainda ocupasse os subúrbios da periferia e não ostentasse a posição, já agora, de oitava economia do mundo, celeremente caminhando para assumir a posição de quinta potência mundial. O provincianismo ganha feição paradoxal.

No plano internacional, as imagens preconcebidas em relação ao Brasil -durante tanto tempo retratado como o país do Carnaval, do futebol e do café- se desfazem. No plano interno, contudo, prevalece o desdém em relação às questões estratégicas que incidem sobre o futuro da nação.

O governo Lula lançou em dezembro de 2008 a Estratégia Nacional de Defesa. Foi o primeiro documento dessa espécie em toda a história republicana brasileira.

Nele, dois aspectos, em latência, devem ser realçados, entre tantos igualmente importantes.

Primeiro: ele se dirige aos brasileiros, e não a qualquer outro país ou comunidade de países. Pretende adequar o potencial econômico do Brasil ao seu perfil político-estratégico.

Segundo: entende que, em situações de conflitos de interesses, o principal bem dos Estados foi -e será, sempre!- a preservação de sua própria existência.

Não há lugar para o discurso da arrogância, por certo, tampouco para a mera submissão.

A nação carece de debate sério sobre o tema. Não dá mais para se comportar como se fôssemos potência de segunda categoria.

Cabe à primeira mandatária função essencial, assistida pelos ministros da área, o da Defesa e o dos Assuntos Estratégicos. A participação do Congresso não é menos importante. Um sistema de defesa democrático e poderoso não pode, contudo, se amparar apenas nesses atores. Deve envolver seriamente a comunidade científica.

É mister a participação militar, porquanto são as Forças Armadas que operam os dispositivos de defesa e segurança no contexto global.

O envolvimento das empresas estratégicas nacionais é vital, cabendo à Petrobras, entre outras, papel de destaque. Os sindicatos não podem ficar à margem. A mídia tem, nos últimos tempos, aberto espaços; é preciso ampliá-los. Defesa nacional e segurança internacional dizem respeito aos destinos da sociedade como um todo.

O Brasil aspira integrar o Conselho de Segurança da ONU. Os cinco países permanentes do Conselho (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia) detêm os mais dispendiosos e críveis sistemas de defesa no planeta. Guardam a perspectiva adequada. Cosmopolita.”

FONTE: escrito por Eurico de Lima Figueiredo, professor titular do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF). Foi presidente da Associação Brasileira de Estudos da Defesa (ABED). Publicado na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1802201108.htm) [imagem do Google adicionada por este blog].

2 comentários:

iurikorolev disse...

Maria Tereza
Excelente texto.
Entretanto, não sei se a presidente Dilma se interessa verdadeiramente pelo tema a ponto de investir muitos bilhões no setor, tirando um pouco do guloso (e ineficiente) serviço público

Unknown disse...

Iurikorolev,
Obrigada. Somente selecionei e postei o texto que encontrei navegando na web.
Infelizmente, qualquer país que hoje queira ter alguma capacidade de defender sua soberania, ou ao menos de dissuasão, necessitará despender muitos bilhões com suas Forças Armadas. O Brasil, relativamente ainda mais, porque reduziu sua capacidade de defesa a níveis ínfimos criminosos. Para chegar ao mínimo suficiente, precisará gastar muito. Não existe outra fórmula miraculosa.
Creio que há resquício de maligno neoliberalismo em generalizar e rotular o nosso serviço público e suas estatais (Petrobras, Banco do Brasil, Caixa, SUS, BNDES etc) de grande, guloso e ineficiente. Já foi desmascarado o nefasto trote que levamos de reduzir o Estado ao mínimo, tornando-o bem fraco e transferindo seus poderes e obrigações para o "mercado". Pesquisarei dados comparativos do tamanho do serviço público de outros países. Relativamente aos países mais desenvolvidos, o Brasil tem o agravante de partir do nada, de estar em desenvolvimento, e ter que despender fortunas na estruturação desses serviços para então começar a fornecê-los. É claro que a busca de maior eficiência é imperativo permanente.
Maria Tereza