sábado, 19 de fevereiro de 2011

BELO MONTE PODE VIABILIZAR HIDROVIA NO XINGU


BARRAGEM CRIARIA CONDIÇÕES PARA NAVEGAÇÃO NO MÉDIO XINGU; PROPOSTA FOI IGNORADA DURANTE DISCUSSÃO DO PROJETO

INCLUÍDAS NO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL, ECLUSAS VÃO PERMITIR O TRANSPORTE EM ESCALA DE GRÃOS E DE MINÉRIOS


A construção da usina de Belo Monte, no Pará, poderá viabilizar -após a formação do reservatório- a expansão da hidrovia do baixo para o médio Xingu. O lago da usina criará um desvio do maior obstáculo para a navegação na região, os cem quilômetros de rio com leito rochoso chamado de "os pedrais".

A formação do reservatório dentro da Volta Grande do Xingu, onde atualmente existem somente propriedades rurais, permitirá a navegação.

Embora viável, a discussão do tema ainda não apareceu.

A viabilidade da transposição foi incluída nos estudos de impacto ambiental apresentados ao IBAMA. O trabalho não chegou a ser discutido nas audiências públicas.

A Eletronorte, subsidiária da Eletrobras que assina o estudo, aponta três arranjos diferentes para a construção das eclusas (espécie de elevador que permite às embarcações transpor barragens).

Caso seja construído, o conjunto viabiliza a transposição das embarcações no degrau de 95 metros que passará a existir entre o canal de navegação do baixo Xingu e o reservatório da usina.

As eclusas foram dimensionadas para receber comboios de até 200 m de comprimento e 24 m de largura.

A profundidade do canal será de 3 m, suficiente para o trânsito de comboios com até 2,5 m de calado (parte submersa das embarcações).

O trecho navegável no baixo Xingu tem 298 quilômetros (de 1.815 km de extensão) e conecta Belo Monte (onde há um terminal da Petrobras) ao rio Amazonas.

Os estudos feitos pela Eletronorte são preliminares. Não informam, por exemplo, quantos quilômetros seriam adicionados à hidrovia, tampouco o potencial de carga.

COBRANÇA

A inclusão de estudos prévios de eclusas em projetos hidrelétricos virou cobrança do setor hidroviário.

Todos os construtores de usinas precisam apresentar à ANA (Agência Nacional de Águas) pelo menos um pré-estudo do aproveitamento hidroviário do rio que será barrado. É condição para que o empreendedor obtenha a outorga de uso da água.

A expansão da hidrovia do Xingu pode conectar a região centro-norte de Mato Grosso a uma nova opção de escoamento agrícola. Boa parte da safra de um dos maiores Estados produtores do país sai por caminhões para Santos (SP) e para Paranaguá (PR).

A região do Xingu não é produtora de grãos, mas tem potencial mineral. No entorno de Altamira, por exemplo, já foram identificados potenciais reservas de bauxita, matéria-prima do alumínio -indústria só viável com grande oferta de energia.

A Nesa (Norte Energia S.A.), responsável por Belo Monte, refuta a ideia da hidrovia devido aos obstáculos, mas o Ministério dos Transportes diz que o rio Xingu integrará o Plano Hidroviário Estratégico do governo. As prioridades agora são as hidrovias do Teles Pires/ Tapajós e do Tocantins.

Telma Monteiro, coordenadora de energia para a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, acompanha o assunto pela perspectiva socioambiental e critica a ausência da hidrovia na discussão ambiental.

"Não sou contra a hidrovia. A questão é que o assunto é citado no estudo da usina e apontado como viável. Com a hidrelétrica pronta, a questão vira fato consumado e de repente aparecerá um projeto hidroviário no médio Xingu sem que ninguém tenha se dado conta", diz.”

FONTE: reportagem de Agnaldo Brito publicada na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1802201111.htm) [imagem do google adicionada por este blog].

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