domingo, 4 de novembro de 2012

DIREITOS HUMANOS NOS EUA, SEGUNDO A RÚSSIA

Delegado dos direitos humanos da diplomacia russa, Konstantin Dolgov. Foto: Kommersant

RELATÓRIO DE DIREITOS HUMANOS NOS EUA PUBLICADO PELA RÚSSIA

Do "Gazeta Russa"

NENHUM PAÍS PODE SERVIR DE MODELO DE DEMOCRACIA

Por Elena Chernenko, do jornal russo “Kommersant

Diplomata russo fala sobre relatório referente à situação dos direitos humanos nos Estados Unidos elaborado pela Rússia.

“Na semana passada, a Duma de Estado (câmara baixa do parlamento russo) aprovou o primeiro relatório sobre a situação dos direitos humanos nos Estados Unidos elaborado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia.

O coordenador do relatório e delegado dos direitos humanos da diplomacia russa, Konstantin Dolgov, explicou, em entrevista ao jornal “Kommersant”, por que Moscou resolveu produzir o documento no qual critica a administração norte-americana.

Kommersant: Como surgiu a ideia de fazer um relatório sobre os EUA?

Konstantin Dolgov: Os EUA continuam, sem razão, colocando-se como autoridade absoluta e líder inquestionável nas questões da democracia e direitos humanos. Muitas vezes, suas tentativas beiram a interferência direta nos assuntos internos. Infelizmente, a Rússia já se deparou com esse problema. No entanto, segundo nosso relatório, os próprios norte-americanos enfrentam problemas muito complicados em termos de direitos humanos.

Kommersant: Onde conseguiram informações para tirar essas conclusões?

K.D.: Em fontes do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, de organizações não governamentais diversas, como a “Human Rights Watch” e a “Anistia Internacional’, e de associações internacionais de jornalistas. Nesse ano, os EUA caíram 27 posições no ranking anual de liberdade de imprensa da conhecida organização internacional “Repórteres sem Fronteiras”, ficando com o 47º lugar.

Kommersant: Mas a Rússia está em 142º lugar nesse ranking...

K.D.: Sim, a Rússia está abaixo dos EUA na classificação. Mas há quanto tempo a Rússia está no caminho do desenvolvimento democrático? E os EUA? Não dá para comparar.

Kommersant: O senhor acha que os EUA não podem servir de modelo de democracia?

K.D.: É isso mesmo. Nenhum país pode servir de modelo de democracia. Nem os EUA, nem a França, nem a Suíça. Os problemas existem em todos os países, diferenciando-se pelo tamanho e natureza. Portanto, nenhum país tem o monopólio sobre os cânones dos direitos humanos.

Kommersant: O senhor não acha que o fato de a Rússia começar a criticar outros países por problemas em termos de direitos humanos dará ao Ocidente motivo para aumentar suas críticas em relação à Rússia?

K.D.: Será que é possível aumentá-las ainda mais? As críticas lançadas contra a Rússia pelos EUA e alguns países da UE são tão exageradas que é impossível haver críticas maiores. No entanto, não temos medo disso. Reagimos de forma contida a muitos relatórios críticos sobre a situação em nosso país.

Kommersant: Costumamos dizer que eles são injustos...

K.D.: Quando são injustos, dizemos isso. Bem, por exemplo, alguns relatórios anuais do departamento de Estado dos EUA sobre a liberdade religiosa no mundo repetiam a cada ano uma tese que não tinha, havia muito tempo, nada a ver com a situação real na Rússia. No mais recente relatório, a diplomacia americana reconheceu, até certo ponto, tal fato.

Kommersant: O relatório russo não estaria também interferindo nos assuntos internos dos Estados Unidos e, portanto, violando sua soberania?

K.D.: A Rússia não diz que a crítica em si é uma interferência. No entanto, algumas ações resultantes das críticas podem vir a constituir uma intervenção nos assuntos internos. Se começássemos a prestar ajuda financeira a algumas organizações não governamentais norte-americanas para a concretização de projetos políticos específicos, isso poderia ser acolhido como interferência nos assuntos internos.

Kommersant: Haverá novos relatórios do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia sobre a situação dos direitos humanos no mundo?

K.D.: Sim, o próximo relatório pode ser lançado muito em breve.”

FONTE: entrevista conduzida por Elena Chernenko, publicada no jornal russo “Kommersant” e no “Gazeta Russa”. Transcrita no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/relatorio-de-direitos-humanos-nos-eua-publicado-pela-russia).

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