terça-feira, 6 de novembro de 2012

OS NOSSOS TRISTES COMEDIANTES REACIONÁRIOS

SOBRE OS HUMORISTAS BRASILEIROS


Paulo Nogueira, do “Diário do Centro do Mundo

“À falta de graça, eles aliam reacionarismo que os isola da voz das ruas

O Brasil, conforme constatou agudamente um leitor do “Diário”, tem uma esquisitice humorística: os comediantes são "reacionários" [isto é, são da direita pró-grandes conglomerados econômicos e financeiros internacionais]. Não vou entrar no fato de que são essencialmente sem graça. Me atenho apenas ao "conservadorismo". Comediantes, como artistas em geral, costumam, em todo o mundo, ser progressistas. Eles quase sempre têm forte consciência social que os leva a criticar situações de grande desigualdade e a ser “antiestablishment”.

Os comediantes brasileiros fogem da regra, e essa é uma das razões pelas quais são tão sem graça. Marcelo Madureira é um caso extremo de conservadorismo petrificado e completo alinhamento com o chamado “1%” [a autoproclamada "elite"]. Marcelo Tas é outro caso. De Londres, não o acompanhei, mas ao passar algumas semanas no Brasil, agora, pude ver – sem sequer assistir a um episódio de seu programa – o quanto ele é mentalmente velho.

O que o CQC fez a Genoíno em nome da piada oscila entre o patético, o ridículo e o grotesco. Não me refiro apenas ao episódio em si de explorar o drama de Genoíno. Também, a sequência foi pavorosa. Vi no “YouTube” Tas ter uma disenteria verbal ao falar de Genoíno. Corajosamente, aspas, chamou-o repetidas vezes, aos gritos, de “mequetrefe”.

Não sou petista.

Jamais votei uma única vez em Genoíno.

Mas Tas tem condições morais — e conhecimento, pura e simplesmente — para julgar e condenar Genoíno? Várias vezes ele diz que Genoíno foi condenado pela justiça. E daí? Quem acredita na infabilidade da justiça brasileira acredita em tudo, como disse Wellington.

O que me levou a procurar Tas no “YouTube” foi uma mensagem pessoal que recebi de Ana Carvalho. Ela estava no local em que houve a confusão entre o humorista Oscar Filho [OF] e amigos de Genoíno. Ana acabou sendo citada num texto que OF escreveu, e ficou tão indignada que decidiu escrever sua versão dos fatos numa carta aberta que ela, cerimoniosamente, me pediu que lesse. Li. Primeiro, ela esclarece: ao contrário do que OF escreveu, ela não é militante do PT. Estava apenas votando, com a família, no lugar do tumulto, e tentou ajudar a serenar os ânimos, como boa samaritana.

Ana relata o que ouviu, na refrega, do produtor do CQC e de Genoíno. Do produtor, berros que diziam que os “'mensaleiros filhos da puta' iriam ser punidos: em vez de um minuto, o programa falaria horas do caso". De Genoíno, ela ouviu: “Calma, calma, sem bater, sem bater”. Mas quem publicaria o que ela ouviu? Essa pergunta Ana fez a si mesma, e é um pequeno retrato da maneira distorcida com que a grande mídia trata assuntos de política no Brasil. A resposta é: ninguém. Nem “Folha” e nem “Estadão” e nem “Veja” e nem “Globo” publicariam o relato de Ana – embora ela fosse testemunha privilegiada da confusão.

Há formas e formas de violência. O que o pessoal do CQC fez foi violência mental, uma tortura. Não faz muito tempo, o mundo soube que presos nos Estados Unidos tinham sido torturados com sessões de música ininterrupta da série Vila Sésamo. Vinte e quatro horas, sete dias por semana. (O autor ficou perplexo com o uso dado a sua canções tão inocentes.)

O que o CQC fez tem um nome: tortura moral. Humor não é isso. Citei, em outro artigo, os repórteres do “Pânico” que invadiram o funeral de Amy Winehouse para fazer piada. Tivessem sido pilhados, terminariam na cadeia – e teriam formidável dificuldade para convencer a justiça londrina de que a liberdade de expressão, aspas, os autorizava a fazer o que fizeram.

Humor sem graça, como o feito no Brasil, é um horror. Mas consegue ficar ainda pior quando, à falta de espírito, se junta um reacionarismo patológico, uma completa desconexão com o povo brasileiro, e este é o caso de Marcelo Tas e seu CQC.”

FONTE: escrito por Paulo Nogueira, do “Diário do Centro do Mundo”. Transcrito no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-comediantes-reacionarios) [Título, imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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