segunda-feira, 23 de junho de 2014

CUIDADO BRASIL! A FESTA DA ENERGIA NO MUNDO ACABOU





A Agência Internacional de Energia disse que a festa acabou

Por Richard Heinberg (*), nos EUA

Serão necessários cerca de 48 trilhões em investimentos até 2035 para cobrir as crescentes necessidades energéticas mundiais, segundo disse a AIE.

"A 'Agência Internacional de Energia' (AIE, ou IEA, em sua sigla em inglês) acaba de publicar um relatório especial intitulado “Perspectivas mundiais de investimento em energia”, que deveria fazer com que os políticos começassem a se desesperar correndo em busca da saída – se quiserem ler as entrelinhas e ver o informe no contexto das tendências financeiras e geopolíticas atuais.

Serão necessários 48 trilhões em investimentos até 2035 para cobrir as crescentes necessidades energéticas mundiais, segundo disse a AIE [este mês] em Paris. A diretora-executiva da AIE, Maria van der Hoeven, declarou que a confiabilidade e a sustentabilidade dos futuros abastecimentos de energia dependem de alto nível de investimento. “Mas isso não se materializará, a menos que esteja em funcionamento um marco político crível, assim como acesso estável a fontes financeiras a longo prazo”, disse. “Nenhuma dessas condições deveria ser dada por garantidas”.

E aqui segue um pouco do contexto que falta ao informe da AIE: a indústria do petróleo, na realidade, está reduzindo custos no investimento "upstream" (em busca de novas jazidas e perfuração). Por quê? Os preços mundiais do petróleo – que, com o preço atual por barril entre dos 90 a 110 dólares, estão em níveis historicamente altos – são, no entanto, muito baixos para justificar a afronta a uma geologia cada vez mais exigente. A indústria precisa de um preço do petróleo de, pelo menos, 120 dólares por barril para financiar a exploração no Ártico e em alguns campos ultraprofundos. E não nos esqueçamos: os tipos de juros atuais são ultrabaixos (graças ao "quantitative easing" (QE) da Reserva Federal), de modo que conseguir investimentos de capital deveria ser mais fácil agora do que nunca. Se acabar o QE e os tipos de juros subirem, a capacidade da indústria e dos governos de aumentar o investimento em capacidade de produção de energia diminuirá no futuro.

Outros pontos do informe deveriam provocar, igualmente, um ataque de nervos nos políticos.

A "bolha da rocha" está se destruindo. Em 2012, a AIE previa que as taxas de extração de petróleo das formações rochosas nos EUA (principalmente, em Bakken, na Dakota do Norte e Eagle ford, no Texas) continuarão crescendo durante muitos anos, superando os EUA e a Arábia Saudita na taxa de produção de petróleo para 2030 e se transformando em exportador de petróleo em 2030. 


Em seu novo informe, a AIE disse que a produção de "tight oil" nos EUA começará a diminuir por volta de 2020. Alguém até poderia pensar que o pessoal da AIE andou lendo as análises do "Post Carbon Institute" sobre as previsões de "tight oil" e gás de rocha! (www.shalebubble.org). É uma bem-vinda dose de realismo, embora a AIE provavelmente siga pecando pelo otimismo: nossa própria leitura dos dados sugere que o declínio começará antes e será mais abrupto. Ajude-nos, OPEP! Você é nossa única esperança!"

Isto é o que "Wall Street Journal" coloca em seu artigo sobre o relatório: “Uma agência de controle de energia de máximo nível disse que o mundo precisará de mais petróleo do Oriente Médio na próxima década, à medida que o boom nos EUA diminua. Mas a Agência Internacional de Energia avisa que pode ser que os produtores do Golfo Pérsico não consigam cobrir a brecha arriscando preços do petróleo mais altos”.


[OBS deste blog 'democracia&política': 

CUIDADO BRASIL! Isso significa para o Brasil o seguinte: com o pré-sal, que está no caminho de colocar o país em condição de grande produtor e significativo exportador, e com o petróleo do Oriente Médio se esgotando, logo, logo, em menos de uma década, os EUA e seus aliados da OTAN começarão a intensificar a nossa instabilidade social, clima de guerra civil e golpes, aprovação pela ONU de "zonas de exclusão aérea" e intervenções militares para "proteger o povo" e "restaurar a democracia e a liberdade", "reorganizar a nossa economia" e implantar governos subservientes e masoquistas (como foram os do PSDB/DEM-PPS). Nossa mídia direitista e até as Forças Armadas e grande parte da "elite", tradicionais aliadas dos EUA e das grandes potências (sedes dos megainvestidores e empresas, isto é, do "mercado"), certamente colaborarão intensamente, como sempre. Não acreditemos de novo em histórias da carochinha, nem no discurso dos anos 90 de que isso é "modernidade", "globalização", "avanço", e de que os que não colaborarem são "jurássicos"].

Vejamos: Como está a OPEP nesses dias? Iraque, Síria e Líbia estão em um caos político. O Irã definha sob as sanções comerciais dos EUA. As reservas de petróleo da OPEP continuam ridiculamente sobre-estimadas. E ainda que os sauditas compensem o declínio dos velhos campos de petróleo, colocando em produção novos locais, estão ficando sem novos campos para desenvolver. Dessa forma, parece que o risco de preços de petróleo mais altos é bastante grande.

Uma previsão de preços: “O quê? isso me preocupa?” (Frase célebre pronunciada pelo menino mascote da revista de humor MAD). Apesar de todos esses desenvolvimentos funestos, a AIE não apresenta nenhuma mudança em relação a sua previsão de preços de petróleo feita em 2013 (isto é, aumento gradual dos preços do petróleo mundial a 128 dólares por barril para 2035). O novo informe disse que a indústria do petróleo terá que aumentar seu investimento em "upstream" no período previsto em 2 trilhões de dólares, sobre as previsões anteriores de investimento da AIE.

De onde se supõe que a indústria petroleira vai deduzir que esses 2 trilhões de dólares [adicionais] saiam senão de preços significativamente mais altos? (Mais altos, em curto prazo, talvez, do que a previsão de preços em longo prazo da AIE de 129 dólares por barril e subindo). Essa previsão de preços é obviamente pouco confiável, mas isso não é nada novo. A AIE vem publicando previsões de preços absurdamente equivocadas durante toda a década passada. De fato, se o enorme aumento de investimento em energia recomendado pela AIE for feito, tanto a energia elétrica como o petróleo serão muito menos acessíveis. Para uma economia mundial estritamente atada à conduta dos consumidores e dos mercados, uma economia já em estancamento ou contração, as limitações energéticas significam uma coisa e apenas uma: tempos difíceis.

E o que acontece com as energias renováveis?

A AIE prevê que apenas 15% dos 48 trilhões necessários irão para energias renováveis. É necessário apenas para remendar nosso atual sistema energético de petróleo-carbono-gás de forma que não acabe na sarjeta por falta de combustível. 


Mas, quanto investimento seria necessário se a mudança climática fosse levada a sério? A maior parte das estimativas se referem apenas à eletricidade (isto é, passam por cima do crucial e problemático setor do transporte) e ignoram a questão da taxa de retorno energético. Inclusive, quando simplificamos artificialmente o problema dessa forma, US$ 7,2 trilhões divididos ao longo de vinte anos simplesmente não são suficientes. Um pesquisador estima que os investimentos terão que subir entre US$ 1,5 a 2,5 trilhões por ano. De fato, a AIE está nos dizendo que não temos o que nos falta para manter nosso atual regime energético e, provavelmente, não vamos investir o suficiente para mudar para outro.

Se você olhar para as tendências citadas e ignoradas e para as enganosas previsões de preços explícitas, a mensagem da AIE é clara: a estabilidade continuada dos preços do petróleo parece problemática. E com os preços dos combustíveis fósseis altos e voláteis, os governos provavelmente terão mais dificuldade de dedicar o capital de investimento progressivamente escasso ao desenvolvimento de nova capacidade energética renovável.

Quando ler esse informe, imagine-se na pele de um político de alto nível. Você não vai querer começar a pensar em uma aposentadoria antecipada?"


FONTE: escrito por Richard Heinberg(*), ecólogo e professor universitário norte-americano, especializado em temas relacionados aos aspectos ambientais e sociais do uso de energias e suas fontes e, em particular, os relacionados às consequências resultantes das teorias do esgotamento do petróleo. Artigo publicado no site "Carta Maior"  (http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Meio-Ambiente/A-Agencia-Internacional-de-Energia-disse-que-a-festa-acabou/3/31163). [Título e trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política']

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