segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

ANALISE DAS ACUSAÇÕES RAIVOSAS DE MARTA SUPLICY



(Foto publicada no Estadão)



Analisando os ataques suicidas de Marta Suplicy

Por Miguel do Rosário

"Renato Rovai, editor da "Forum", e profundo conhecedor dos bastidores da política paulista, em especial do PT, fugiu do lugar comum de apenas detonar a senadora como “traidora” etc, e fez uma análise objetiva das manifestações raivosas da senadora e ex-ministra da Cultura.

Segundo Rovai, os defeitos de Marta, a sua vaidade e prepotência constrangedoras, são comuns a boa parte dos políticos, inclusive dentro do PT, e isso acontece em função da maneira como o poder tem sido disputado dentro do partido.

A sua entrevista ao "Estadão", um curioso show de ataques suicidas a seus próprios aliados partidários, merece ser analisada em laboratório, com frieza e objetividade.

Suas acusações são levianas, quase fúteis, e todas acabam ricocheteando na própria Marta.

Disputas de poder intrapartidárias, que a senadora agora tenta pintar de cores góticas, são inevitáveis e até saudáveis.

O problema do PT não é esse.

Marta perdeu disputas internas, e não está sabendo lidar com essas derrotas.

No entanto, o caso nos permite analisar, de perto, a doença mais comum que acomete as principais lideranças políticas do país: essa mania de olhar antes para si mesmo, de se atribuir demasiada importância, esquecendo o coletivo, além dessa melancólica tendência de se embriagar facilmente com os holofotes da mídia, deixando de lado uma relação direta e franca com os eleitores e cidadãos.

Isso vale para Marta, mas não só para ela…"

Por Renato Rovai, em seu blog:

"Marta Suplicy é uma pessoa controversa e difícil, mas não deveria ser politicamente julgada por isso. Sua entrevista de hoje é recheada de armadilhas e sinaliza para uma saída ruidosa do PT, mas o partido deveria tratá-la como uma oportunidade para algumas reflexões.

Marta não é diferente de boa parte dos políticos. Ela se move muito mais em função dos seus interesses pessoais do que do projeto coletivo.

Marta também é tão vaidosa quanto a maioria deles. É tão arrogante quanto a maioria deles. Sabe fazer intrigas quanto a maioria deles. Gosta tanto de poder como a maioria deles, até porque é ele que permite exercer um lado autoritário que alimenta a alma da maior parte deles.

Marta não é uma espécie rara na política. Ao contrário, é um pouco a essência da vida pública no país.

A diferença é que, ao contrário da maioria dos seus pares, Marta é mais transparente. Fala em público aquilo que homens que se se julgam mais espertos preferem confidenciar a jornalistas em off no cafezinho do Congresso.

O excesso de vaidade e de transparência foi o seu principal adversário na reeleição à prefeitura de São Paulo. Naquele pleito, Marta perdeu para ela mesma. Seu governo era muito bem avaliado e seu adversário só amargava derrotas antes de superá-la.

Na entrevista a Eliane Cantanhêde publicada no "Estado de S. Paulo" de domingo (a entrevistadora [fanática pelo PSDB] também diz muito sobre a entrevista) Marta vai pra cima do PT como poucos dirigentes importantes o fizeram na história do partido. E Marta tem razão quando diz que o partido está em risco. O PT pode de fato, senão morrer, torna-se um projeto bem menor do que é ou já foi.

Mas o que Marta não diz é que ela é muito mais parte do problema do que da solução no que parece criticar.

Marta foi prefeita da maior cidade do Brasil e, quando teve a oportunidade de oxigenar o partido e criar uma nova referência de relação com ele a partir do governo, não fez diferente do que aqueles que hoje critica. Marta foi exageradamente pragmática, sufocou adversários internos, priorizou relacionamentos com setores da direita em algumas áreas e não apostou em novas lideranças. Marta usou a máquina da prefeitura como um trator do ponto de vista das disputas internas.

Isso não significa que seu governo tenha sido um desastre. Muito pelo contrário, ela fez uma administração histórica em São Paulo e suas marcas (como os CEU e os corredores) terão relevância por muitos e muitos anos.

A questão é que Marta hoje não tem poder e não pode exercê-lo do ponto de vista interno na mesma intensidade de quando era prefeita. Hoje são outros que movem o partido e suas estruturas a partir da força que detêm em governos ou parlamentos.

O PT se tornou um partido muito suscetível à força dos seus prefeitos, governadores, ministros e parlamentares. E muito menos permeável às demandas dos movimentos sociais do que em outros momentos.

Essa é a crise do PT e que já foi identificada por Lula e outros dirigentes. É isso que pode, senão matar o partido, diminui-lo e torná-lo insignificante.

Por isso, a entrevista de Marta deveria ser tratada como um ponto de inflexão pela militância e dirigentes. Não é o momento para agir com o fígado e sair por aí xingando-a ou acusando-a disso ou daquilo. É hora de aproveitar para pensar o que leva personalidades políticas importantes a se acharem donos de um projeto e se comportarem como se não devessem nada a ninguém.

Isso vale para Marta, mas não só para ela."

FONTE: artigo escrito por Renato Rovai, em seu blog e transcrito e comentado por Miguel do Rosário no blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/blog/?p=24213).[Título e trecho entre colchetes acrescentado por este blog 'democracia&política'].


COMPLEMENTAÇÃO

A solidão de Marta Suplicy


Por Altamiro Borges

"A senadora Marta Suplicy, ainda no PT, parece decidida a mudar de campo, bandeando-se para a oposição. Em entrevista a Eliane Cantanhêde – aquela da “massa cheirosa” tucana, que também se bandeou, da Folha para o Estadão –, a ex-prefeita da capital paulista e ex-ministra de Dilma Rousseff resolveu detonar o partido que a projetou no cenário político. Ela não poupou ninguém. Disse que o ministro Aloizio Mercadante é “um inimigo”, chamou o presidente petista, Rui Falcão, de “traidor”, criticou os rumos do governo federal e fez intrigas contra o próprio Lula. No meio da venenosa conversa, porém, ela deixou implícito o motivo de tanta mágoa e bronca. A sua incontrolável ambição política!

Num dos trechos da entrevista publicada no domingo (11), Marta Suplicy confessa que chegou a pensar que seria a candidata à sucessão de Lula, em 2010. “Pensei sim. Quando era neófita, tinha clareza de que poderia ser presidente. Depois, isso caiu por terra, até que um dia o Lula, no avião dele, quando era presidente, me disse: ‘Minha sucessora vai ser uma mulher’. E pensei que ou seria eu, ou Marina ou Dilma. Logo vi aquela história de ‘mãe do PAC’ e que era a Dilma. Pensei: ‘O que faço?’ Bom, ou ficava contra e não fazia coisa nenhuma, ou ajudava. Mais uma vez, decidi ajudar. Sempre achei que iria acabar ficando meio de fora das coisas, talvez pela origem, talvez por ser loura de olho azul, não sei”.

O Estadão e os outros veículos que repercutiram a entrevista preferiram não dar destaque para essa confissão. Não se sabe se foi pela “origem” de classe da senadora ou em respeito à “loura de olho azul”! Mas o trecho confirma a solidão política de Marta Suplicy. Como prefeita da capital paulista, ela fez uma gestão ousada, progressista, mas não conseguiu se reeleger – muito em função da campanha demolidora da mesma mídia que agora a bajula. Como Ministra da Cultura, ela até retomou um pouco do protagonismo do setor, que havia sido sucateado pela antecessora. Neste longo período, porém, a petista foi se isolando. Ela colocou o seu projeto político pessoal acima dos projetos coletivos, partidários.

Descartada em suas ambições – seja no sonho presidencial ou no desejo de disputar a prefeitura paulistana, em 2012, ou o governo estadual, em 2014 –, ela fez corpo mole. Ela pouco se envolveu na eleição de Fernando Haddad e quase não apareceu nas atividades de campanha de Dilma Rousseff e Alexandre Padilha, em outubro passado. Num gesto desestabilizador, Marta Suplicy chegou a pregar o “volta, Lula” – o que irritou o comando petista. Fragilizada, já deixou o Ministério da Cultura atirando. Com a indicação de Juca Ferreira, a ex-ministra cometeu a indelicadeza de atacá-lo com falsas insinuações – sempre diante dos holofotes excitados da mídia tucana.

Agora, Marta Suplicy afirma que sempre foi “alijada e cerceada” no PT. Não dá ainda para saber qual será o seu futuro político. Nem ela parece ter total consciência. A única verdade que afirma carregar é que “ou o PT muda ou acaba”. Numa falsa indignação, ela se baseia nas manchetes da [tucana] mídia para chegar a esta conclusão: “Cada vez que abro um jornal fico estarrecida com os desmandos. É esse o partido que ajudei a criar e fundar?”. Ela garante ainda “não tomei a decisão nem de sair, nem para qual partido, mas tenho portas abertas e convites de praticamente todos, exceto PSDB e DEM”. Ela também não confirma se disputará a prefeitura de São Paulo em 2016 contra Fernando Haddad.

Mas será que alguém ainda tem dúvida?"


FONTE: escrito pelo jornalista Altamiro Borges em seu blog  (http://altamiroborges.blogspot.com.br/2015/01/a-solidao-de-marta-suplicy.html).

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