O BRASIL É CAPAZ
Por LUIZ SERGIO
"O impacto da 'política de conteúdo nacional' no setor naval é inequívoco: em 11 anos o número de trabalhadores empregados nos estaleiros brasileiros saltou de 7 mil para mais de 80 mil.
A indústria naval brasileira experimentou um período de grande crescimento entre as décadas de 1950 e 1980, chegando a empregar mais de 40 mil trabalhadores. A partir dos anos 1990, com o neoliberalismo [antinacional] do PSDB, houve verdadeiro desmonte do setor. Milhares foram demitidos, entre os quais me incluo. Em 1997, depois de deixar o cargo de prefeito de Angra dos Reis fui reintegrado ao Verolme (hoje BrasFels). Naquele mesmo ano, fiz parte da lista dos últimos 800 funcionários do estaleiro demitidos.
A realidade que vivi de perto não ficou restrita a Angra. Praticamente, todos os estaleiros brasileiros ficaram às moscas naquela época. O quadro só começou a mudar depois da posse do presidente Lula, em 2003. Lula estabeleceu a política de conteúdo local, conduzida e implementada pela então ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff.
O impacto dessa nova política é inequívoco: em 11 anos o número de trabalhadores empregados nos estaleiros brasileiros saltou de 7 mil para mais de 80 mil. Nos próximos quatro anos, preveem-se investimentos de US$ 100 bilhões na construção de 38 plataformas, 88 petroleiros, 28 sondas de perfuração e 146 barcos de apoio. Poderão ser criados mais de 20 mil postos de trabalho. A política de conteúdo local de Lula e Dilma fez com que o Brasil gerasse empregos aqui, não no exterior.
A primeira reação dos críticos foi dizer que plataformas feitas no Brasil seriam mais caras que as construídas no exterior. Esqueceram-se de colocar na conta o impacto positivo na vida de milhares de pais de família empregados; o valor gerado pelo consumo de bens e serviços; o surgimento de indústrias de apoio e empresas prestadoras de serviço; a qualificação contínua de mão de obra surgida com o impulso ao setor e a consequente consolidação da nossa indústria naval.
Não é preciso muito esforço para concluirmos que a decisão de garantir conteúdo local nos projetos da Petrobras fez a balança pender positivamente para o Brasil e os brasileiros.
O debate evoluiu para a qualidade e não apenas quantidade do conteúdo local. Há quem afirme que o percentual mínimo exigido vem sendo cumprido com “casco e solda” e que boa parte dos equipamentos vitais para plataformas e embarcações ainda é importada. Critica-se também o fato de os estaleiros não repassarem os incentivos que recebem aos demais elos da cadeia produtiva, entrave para o desenvolvimento das indústrias de base.
Esses e outros pontos merecem atenção. Devem ser objeto de estudo e debate isentos. Nenhuma política é tão boa que não possa ser aprimorada. O que está fora de questão é recuar da decisão de fortalecer nossa indústria naval. A política de conteúdo local foi acertada e segue sendo vital para o setor. Qualquer tentativa de voltar aos tempos em que metalúrgicos brasileiros amargavam o desemprego enquanto fazíamos encomendas na Coreia, Cingapura e Japão deve ser rechaçada. É necessário fazer no Brasil o que pode ser feito aqui."
FONTE: escrito pelo deputado Luiz Sergio e publicado no jornal digital "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/165547/O-Brasil-%C3%A9-capaz.htm).
COMPLEMENTAÇÃO
Se depender de "O Globo", o Brasil só faz barquinho de papel
Por Fernando Brito
"Cumprindo o seu dever de ser o mais tradicional porta-voz do Brasil Colônia, O Globo publicou terça-feira um editorial criticando as “políticas voluntaristas sustentadas por fartos incentivos fiscais e creditícios administrados por uma burocracia estatal, tudo protegido por um sistema de reserva de mercado” que permitiram o surgimento (no Império), o ressurgimento (com JK) e o segundo ressurgimento (com Lula e Dilma) da indústria naval brasileira.
É claro que "O Globo" sabe que, em parte alguma do mundo, a indústria naval deixou de depender do Estado para se desenvolver.
Não foi diferente nos Estados Unidos e no Japão (onde o financiamento dos grandes estaleiros teve suporte nos esforços de guerra dos dois países) na China (preciso comentar?) e na Coreia do Sul, onde o general Park Chung-hee, que governou o país dos anos 60 e 70, subsidiou (diretamente e com obras públicas) a criação da que é hoje a maior produtoras de embarcações do mundo.
Chung-hee, aliás, chegava ao ponto de mandar comprar navios e desmontar, para que os engenheiros coreanos aprendessem como fazê-los. E incentivou como pôde os “chaebol” no setor (conglomerado de empresas, como a Samsung, Daewoo e Hyundai).
De um estudo de pesquisadores do IPEA, retiro um parágrafo, para dar ideia de como foi o “milagre coreano”:
"Cerca de 70% dos recursos que financiaram a rápida expansão (da indústria naval) do período eram provenientes do Fundo Nacional de Investimento – governamental -, e o restante era complementado pelo Banco de Desenvolvimento da Coreia. Além disso, os produtores gozavam também de subsídios e incentivos fiscais. Atualmente, grande parcela do financiamento à construção naval é feita pelo KoreaEximbank, por meio de um programa denominado Export Loan.
O princípio, na Coreia era o Keihek Zoseon, criado em 1976: o de que “a carga do comércio coreano deveria ser transportada em navio coreano, construído em estaleiro coreano”.
Já imaginaram um “nacionalismo arcaico” destes por aqui?
A alegação dos “entregadores de país”, como sempre, é uma suposta ineficiência e o “alto custo” da produção naval brasileira.
Pouco importa que isso represente bilhões de dólares mandados ao exterior e que não gerem empregos, renda e circulação de riqueza aqui.
Porque pouco lhes importam o Brasil e os brasileiros.
Para eles, que gostam tanto de falar nos “tigres asiáticos” como prova de nossa inferioridade, o destino do Brasil é apenas o de um dócil gatinho"
FONTE: escrito por Fernando Brito no seu blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/blog/?p=24124).
Por LUIZ SERGIO
"O impacto da 'política de conteúdo nacional' no setor naval é inequívoco: em 11 anos o número de trabalhadores empregados nos estaleiros brasileiros saltou de 7 mil para mais de 80 mil.
A indústria naval brasileira experimentou um período de grande crescimento entre as décadas de 1950 e 1980, chegando a empregar mais de 40 mil trabalhadores. A partir dos anos 1990, com o neoliberalismo [antinacional] do PSDB, houve verdadeiro desmonte do setor. Milhares foram demitidos, entre os quais me incluo. Em 1997, depois de deixar o cargo de prefeito de Angra dos Reis fui reintegrado ao Verolme (hoje BrasFels). Naquele mesmo ano, fiz parte da lista dos últimos 800 funcionários do estaleiro demitidos.
A realidade que vivi de perto não ficou restrita a Angra. Praticamente, todos os estaleiros brasileiros ficaram às moscas naquela época. O quadro só começou a mudar depois da posse do presidente Lula, em 2003. Lula estabeleceu a política de conteúdo local, conduzida e implementada pela então ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff.
O impacto dessa nova política é inequívoco: em 11 anos o número de trabalhadores empregados nos estaleiros brasileiros saltou de 7 mil para mais de 80 mil. Nos próximos quatro anos, preveem-se investimentos de US$ 100 bilhões na construção de 38 plataformas, 88 petroleiros, 28 sondas de perfuração e 146 barcos de apoio. Poderão ser criados mais de 20 mil postos de trabalho. A política de conteúdo local de Lula e Dilma fez com que o Brasil gerasse empregos aqui, não no exterior.
A primeira reação dos críticos foi dizer que plataformas feitas no Brasil seriam mais caras que as construídas no exterior. Esqueceram-se de colocar na conta o impacto positivo na vida de milhares de pais de família empregados; o valor gerado pelo consumo de bens e serviços; o surgimento de indústrias de apoio e empresas prestadoras de serviço; a qualificação contínua de mão de obra surgida com o impulso ao setor e a consequente consolidação da nossa indústria naval.
Não é preciso muito esforço para concluirmos que a decisão de garantir conteúdo local nos projetos da Petrobras fez a balança pender positivamente para o Brasil e os brasileiros.
O debate evoluiu para a qualidade e não apenas quantidade do conteúdo local. Há quem afirme que o percentual mínimo exigido vem sendo cumprido com “casco e solda” e que boa parte dos equipamentos vitais para plataformas e embarcações ainda é importada. Critica-se também o fato de os estaleiros não repassarem os incentivos que recebem aos demais elos da cadeia produtiva, entrave para o desenvolvimento das indústrias de base.
Esses e outros pontos merecem atenção. Devem ser objeto de estudo e debate isentos. Nenhuma política é tão boa que não possa ser aprimorada. O que está fora de questão é recuar da decisão de fortalecer nossa indústria naval. A política de conteúdo local foi acertada e segue sendo vital para o setor. Qualquer tentativa de voltar aos tempos em que metalúrgicos brasileiros amargavam o desemprego enquanto fazíamos encomendas na Coreia, Cingapura e Japão deve ser rechaçada. É necessário fazer no Brasil o que pode ser feito aqui."
FONTE: escrito pelo deputado Luiz Sergio e publicado no jornal digital "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/165547/O-Brasil-%C3%A9-capaz.htm).
COMPLEMENTAÇÃO
Se depender de "O Globo", o Brasil só faz barquinho de papel
Por Fernando Brito
"Cumprindo o seu dever de ser o mais tradicional porta-voz do Brasil Colônia, O Globo publicou terça-feira um editorial criticando as “políticas voluntaristas sustentadas por fartos incentivos fiscais e creditícios administrados por uma burocracia estatal, tudo protegido por um sistema de reserva de mercado” que permitiram o surgimento (no Império), o ressurgimento (com JK) e o segundo ressurgimento (com Lula e Dilma) da indústria naval brasileira.
É claro que "O Globo" sabe que, em parte alguma do mundo, a indústria naval deixou de depender do Estado para se desenvolver.
Não foi diferente nos Estados Unidos e no Japão (onde o financiamento dos grandes estaleiros teve suporte nos esforços de guerra dos dois países) na China (preciso comentar?) e na Coreia do Sul, onde o general Park Chung-hee, que governou o país dos anos 60 e 70, subsidiou (diretamente e com obras públicas) a criação da que é hoje a maior produtoras de embarcações do mundo.
Chung-hee, aliás, chegava ao ponto de mandar comprar navios e desmontar, para que os engenheiros coreanos aprendessem como fazê-los. E incentivou como pôde os “chaebol” no setor (conglomerado de empresas, como a Samsung, Daewoo e Hyundai).
De um estudo de pesquisadores do IPEA, retiro um parágrafo, para dar ideia de como foi o “milagre coreano”:
"Cerca de 70% dos recursos que financiaram a rápida expansão (da indústria naval) do período eram provenientes do Fundo Nacional de Investimento – governamental -, e o restante era complementado pelo Banco de Desenvolvimento da Coreia. Além disso, os produtores gozavam também de subsídios e incentivos fiscais. Atualmente, grande parcela do financiamento à construção naval é feita pelo KoreaEximbank, por meio de um programa denominado Export Loan.
O princípio, na Coreia era o Keihek Zoseon, criado em 1976: o de que “a carga do comércio coreano deveria ser transportada em navio coreano, construído em estaleiro coreano”.
Já imaginaram um “nacionalismo arcaico” destes por aqui?
A alegação dos “entregadores de país”, como sempre, é uma suposta ineficiência e o “alto custo” da produção naval brasileira.
Pouco importa que isso represente bilhões de dólares mandados ao exterior e que não gerem empregos, renda e circulação de riqueza aqui.
Porque pouco lhes importam o Brasil e os brasileiros.
Para eles, que gostam tanto de falar nos “tigres asiáticos” como prova de nossa inferioridade, o destino do Brasil é apenas o de um dócil gatinho"
FONTE: escrito por Fernando Brito no seu blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/blog/?p=24124).
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