quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

OLHARES MAIS CUIDADOSOS

O Site “Terra Magazine”, do jornalista Bob Fernandes, ontem publicou o seguinte artigo de Rui Daher. O autor é administrador de empresas e consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola.

“Como que a confirmar seu estilo arrasa-quarteirão, na última segunda-feira, a "Folha de São Paulo" deu grande destaque à previsão de que as exportações do agronegócio deverão recuar US$ 20 bilhões.

Por quê? Ora, porque assim "apontam projeções". De quem? De três analistas de fundos de investimento e de empresas ligadas à exportação. Fosse consultada, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da CNA, e o recuo nos colocaria na beirinha do abismo.

Delira-se um terror que, lembra a música de Caetano Veloso, e "pipoca aqui, ali, pipoca além" no noticiário da crise. Fatores positivos, capazes de amenizar a força do tacape, são esquecidos ou relativizados.

Para protagonizar o pânico, temos as quedas: de demanda, preços, investimentos, crédito, disposição para diminuir o protecionismo. Por enquanto, nada se falou sobre a queda de Diego Hipólito, em Pequim.

Como as exportações do agronegócio, em 2008, atingiram o recorde de US$ 71,9 bilhões, 23% superior a 2007, desempenho que dificilmente poderia ser repetido neste ano, pronto, nosso mundo caiu.

Não se deu atenção ao fato de que o volume físico exportado, que tem oscilado próximo a 100 milhões de toneladas, teve, inclusive, uma queda (3,3%) compensada, no entanto, pelos preços exuberantes e pouco comuns pagos pelos produtos de nossa pauta. Soja e derivados, carnes, açúcar, madeiras, café, couro, fumo e frutas compõem 90% das exportações do agronegócio.

Pouca novidade. Até aqui falamos do que, sabíamos, seria bom. Isto hoje, pois um ano atrás, com a apreciação do real, éramos entupidos por análises pessimistas para a balança comercial do agronegócio.

Esqueçamos o passado glorioso. IBGE e CONAB acabam de divulgar projeções factíveis que apontam para uma queda ao redor de 5% na produção de cereais, leguminosas e oleaginosas, grupo que participa abaixo dos 30% no total (em US$) das vendas externas do agronegócio.

Como a área plantada será mantida, entende-se que a previsão de queda é devida a fatores climáticos e ao menor uso de tecnologia no campo. Fertilizantes, sobretudo.

Não se pretende aqui negar um desempenho pior em 2009, ou de reproduzir um otimismo mal informado.

Há uma crise econômica internacional de grandes proporções que afetará nossa agropecuária. Discutível é a dramaticidade dada ao seu horizonte, ainda mais por que comparada à excepcional base de 2008.

Nos últimos doze meses, as cotações de importantes commodities agrícolas caíram forte.

De 15% para o milho até 48% no suco de laranja, passando por 26% na soja, 32% no algodão e 41% no trigo.

Surpresa? Nem tanto. Assim como a indústria automobilística sonhou uma eterna quebra mensal de recordes, o setor agropecuário poderia ter desconfiado, a partir de meados do ano passado, de um inchaço de preços provocado pelos recursos especulativos que migraram para as Bolsas de Mercadorias.

Para a miríade de agentes ligados ao setor, hoje, qualquer fator positivo é relativizado. E é duro ir contra essa corrente. Não me refiro aqui às pequenas recuperações nos preços de algumas commodities, por incipientes. Ou ao fato de que, até agora, não há sinal concreto de queda na demanda de alimentos.

Mas, responder com muxoxos de incerteza ou alegando "custos de produção dolarizados" ao impacto na agropecuária da valorização do dólar parece um fatalismo exacerbado. Ou interesse escuso.

No ano passado, 77% das exportações do setor ocorreram a um dólar médio de R$ 1,69.

Para o Ministério da Agricultura, já considerando uma queda de 21,6% nas exportações em dólar, caso a cotação da moeda americana se mantenha em 2009 ao redor de R$ 2,35, a receita das exportações igualaria os previstos R$ 132,5 bilhões de 2008.

E aí se saberia que quando "desanoitece amanhã, tudo mudou".”

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