Li hoje no site “Terra Magazine” o seguinte texto de Alberto Luiz Fonseca, de Sidney, Austrália. O autor é mineiro e diplomata, serve atualmente na Embaixada do Brasil em Sidney, Austrália. Filho de pais músicos, foi fundador do "Café com Letras", conhecido café e livraria de Belo Horizonte:
“Nós, seres humanos, gostamos mesmo é de estórias, né? Mesmo que seja estória pra boi dormir. Vejamos então o que está em voga no cenário internacional hoje em dia.
Em primeiro lugar, estamos todos esperando que a turma do Obama entre em ação, certo? Parece que promete.
Vocês viram que a Hillary Clinton, nova Secretária de Estado (cargo equivalente ao de Ministra das Relações Exteriores para nós) dos Estados Unidos, em sua primeira viagem internacional, foi visitar a Ásia, sobretudo China e Indonésia? Foi.
Ah, China, todo mundo sabe o porquê. Mas, e a Indonésia? Bom, começa pelo fato de ser a maior nação islâmica do mundo, modelo de democracia islâmica, além de ser a maior economia do sudeste asiático.
Depois, a sede da organização regional ASEAN (que é como se fosse o Mercosul do sudeste asiático) fica em Jacarta, capital da Indonésia. E a presença do Presidente Obama na cúpula da ASEAN - que ocorre na Tailândia neste fim-de-semana - está confirmada!
Não por acaso, alguns especialistas indicam que a primeira região a sair da recessão global será exatamente essa. Fica, portanto, a lição: não nos esqueçamos da Ásia.
E o mais? Bem, temos aí pela frente a já famosa Cúpula do G-20, em Londres, dia 2 de abril. Rumo ao chamado novo "Global Deal". Vamos acertar ações coletivas dos países para enfrentar a recessão global e o aperto de crédito.
Em Londres, no dia 2 de abril de 2009, fiquem de olho no que vai sair dali. Nome pomposo o evento já tem: "The London Summit on Stability, Growth and Jobs".
Delicioso, para mim, está sendo ouvir certos intelectuais e políticos falando na imprensa internacional do risco de "desglobalização" do mundo.
Leitor, leitora, no churrasco do fim de semana, com seus colegas de faculdade, seus amigos do trabalho, usem o termo. Pode ser até "desglobalization", em inglês, para ficar mais chique. Esse é o termo do momento.
O que significa? Bem...
Parece que os mesmos intelectuais de plantão querem agora que haja cooperação internacional para preservar os "benefícios" da Globalização. Uai, (desculpe mas aqui tenho de ser mineiro na expressão), o vilão não era exatamente a Globalização? Não entendo nada. Às vezes, é isso mesmo. É pra não entender.
Os famosos "formadores de opinião" são assim mesmo: querem que você esqueça algumas coisa, lembre-se só de outras.
Já leram "1984", do George Orwell? No livro, o membro do Partido chefiado por Big Brother que quiser ter sucesso na carreira tem de esquecer as coisas todas que, mesmo tendo acontecido de verdade (há poucos dias), contradizem a mentira que o Partido está contando hoje. Ele então deve acreditar nessa mentira, como se fosse a verdade.
Com isso, dentro da cabeça do bom partidário, a verdade se "renova" toda semana. Vão, eles todos, como carneirinhos, acreditando no que o partido divulga. Ah, claro, quem se lembra de um fato que contradiz o partido é um traidor da causa.
No mundo real, nosso, há coisa parecida, garanto-lhes que há. Mais sutil, mas com resultado não menos eficaz. Vejam, por exemplo, o seguinte: quando sobe o preço do barril de petróleo, sobe o preço da gasolina na bomba.
"Muito justificado!" Dizem, no jornal noturno (em rede de TV nacional) as assessorias de imprensa da Petrobrás, do sindicato dos petroleiros, dos distribuidores de picolé, dos posto-de-gasolinistas e outros.
Depois, engraçado... quando baixa o preço do barril de petróleo, o preço da gasolina na bomba NÃO baixa. E niguém explica nada no jornal-noturno-da-TV-em-rede-nacional. Simplesmente não se discute o assunto. Esquecemos. Dá-lhe, George Orwell. Um visionário, escrevendo seu livro em 1948. Vocês não acham?
Outro novo conto da carochinha, que está aí para quem quiser ler nos grandes jornais mundiais, "The New York Times, "The Times" e outros, é o seguinte. Agora, nós vamos fazer a "reformulação" do sistema financeiro internacional. Haverá um novo FMI, novo Banco Mundial etc.
Ah, sim, mais outra. A moda agora é "mais governo".
Parece criança brincando, não parece, caro leitor, cara leitora? Até outro dia, o brinquedo era de "menos governo". Governos são maus administradores, gastam mal o dinheiro público, a iniciativa privada é muito mais eficiente, blá, blá, blá.
Agora, mudou. Governos são responsáveis, cuidam do bem estar de todos, enquanto empresas, bancos e seus executivos só querem saber de "levar o seu".
Além disso,como estes últimos ficaram muito "desregulados" na brincadeira anterior, agora o mundo está sofrendo. Solução: acabou essa brincadeirinha. Vamos brincar de novo, mas com novas regras.
Enquanto isso, num giro pelo mundo real... Há poucos dias, dois submarinos com propulsão nuclear e armados com míssies nucleares, o "Triomphant", da França, e o "Vanguard" britânico (gostaram dos nomes, super-chans, não acham?), durante seus passeios subaquáticos.... colidiram em pleno Oceano Atlântico!
É verdade. Poderia ter começado a 3ª Guerra Mundial - e ninguém nem notou. Vejam que a notinha da Agência Reuters sobre o acidente saiu em vários jornais pelo mundo afora.
Mas, não com muito destaque, claro. Inglaterra e França são do time dos "bonzinhos", ninguém vai fazer estardalhaço, certo?
Ora, como se sabe, o princípio do sistema internacional para o desarmamento nuclear é assim: quem já tem bomba nuclear fica com ela (esses são os "bonzinhos"); quem não tem, não pode desenvolver (esses são os "malvados").
E o Presidente Omar Al-Bashir...quem!? Omar Al-Bashir, Presidente do Sudão. Continua aprontado das suas. E a pirataria na costa da Somália aumentou assustadoramente em 2008.
E os direitos humanos na ex-Birmânia em Miyanmar?
Será que só vamos prestar atenção nessas coisas todas quando o Jorge Benjor fizer uma música sobre elas?...
(PS: gosto muito do Benjor, viu? Sou fã.)”
segunda-feira, 2 de março de 2009
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