sexta-feira, 12 de junho de 2009

A CURA PARA O DESEMPREGO: DEMITAM O CHEFE

Terra Magazine

“Em 2004, fizemos um documentário chamado "The Take" (thetake.org) sobre as empresas administradas por trabalhadores argentinos. Durante o colapso econômico dramático naquele país em 2001, milhares de trabalhadores foram a suas fábricas e as colocaram em funcionamento, através de cooperativas de trabalhadores. Abandonados por chefes e políticos, eles reouveram os salários devidos e as rescisões, além de recuperar seus empregos.

Quando viajamos pela Europa e América do Norte divulgando o filme, uma pergunta sempre surgia: "Isso parece ter sido muito bom na Argentina, mas será que funcionaria aqui?"

Bem, com a economia mundial cada vez mais parecida com a situação da Argentina em 2001 (e muitas das razões são as mesmas) há uma nova tendência de ação por parte dos trabalhadores nos países ricos. As cooperativas estão surgindo como uma alternativa prática às demissões. Os trabalhadores nos EUA e Europa estão começando a perguntar as mesmas perguntas a seus colegas latino-americanos: Por que precisamos ser despedidos? Por que não podemos despedir o chefe? Por que o banco permitiu que nossa empresa falisse e lucrou bilhões de dólares do nosso dinheiro?

No dia 15 de maio no Sindicato Cooper em Nova York, participamos de um seminário chamado "Demitam o Chefe: A Solução do Controle do Trabalhador de Buenos Aires a Chicago". Tivemos a participação de pessoas do movimento argentino, bem como trabalhadores da causa da empresa Republic Windows & Doors, em Chicago.

Foi uma ótima maneira de ouvir diretamente o que tinham a dizer aqueles que tentam reconstruir a economia de baixo, e que precisam de apoio substancial do público, bem como dos criadores de políticas em todos os níveis do governo. Para aqueles que não puderam participar, eis um breve resumo de desenvolvimentos recentes do movimento:

ARGENTINA

Na Argentina, a fonte de inspiração direta para muitas ações de operários nos dias de hoje, houve mais movimentos de encampação nos últimos quatro meses do que nos últimos quatro anos.

Um exemplo:

Arrufat, uma fábrica de chocolates com 70 anos de tradição, foi abruptamente abandonada por seus proprietários em janeiro. Trinta funcionários ocuparam a fábrica e, apesar das altas contas de serviços não pagos pelos antigos donos, a empresa voltou a produzir chocolates, durante o dia, com a ajuda de geradores.

Com um empréstimo de menos de US$5.000 do The Working World (theworkingworld.org), um fundo de capital/ONG, fundado por um fã do documentário "The Take", eles puderam produzir mais 10 mil ovos de Páscoa - o melhor final de semana do ano para eles. Eles tiveram um lucro de US$75.000, cada um levou US$1.000 para a casa e guardaram o resto para a produção futura.

REINO UNIDO

A Visteon é fabricante de peças automotivas que se originou da Ford em 2000. Em uma de suas fábricas, centenas de funcionários foram avisados na última hora que seu local de trabalho estava fechando as portas. Dois mil trabalhadores em Belfast fizeram um protesto no telhado da fábrica em que trabalhavam e outros 200 em Enfield fizeram o mesmo no dia seguinte.

Nas duas semanas seguintes, a Visteon aumentou em 10 vezes seu pacote de demissão voluntária, mas empresa se nega a depositar o dinheiro para funcionários até que eles deixem a fábrica, e os trabalhadores se recusam a partir até que tenham o dinheiro.

IRLANDA

No início do ano, a fábrica em que os trabalhadores fazem o legendário cristal Waterford foi ocupada por sete semanas quando a empresa gestora do grupo, a Waterford Wedgewood, entrou em concordata depois de ser assimilada por uma empresa de private equity dos EUA.

A empresa americana colocou 10 milhões de euros no fundo de demissão e as negociações continuam para que sejam mantidos alguns empregos.

CANADÁ

Com o colapso das três maiores empresas automotivas, o sindicato Canadian Auto Workers ocupou pelo menos quatro fábricas e os escritórios de quatro legisladores de província.

Em todos os casos, as fábricas estavam fechando e os trabalhadores não receberam a compensação a eles devida. Eles ocuparam as fábricas para impedir que as máquinas fossem removidas, usando isso para forçar as empresas a negociar de novo - precisamente a mesma dinâmica dos trabalhadores na Argentina.

FRANÇA

Na França, tem havido uma onda de "detenção de chefes" este ano, na qual funcionários furiosos detiveram seus chefes nas fábricas que ameaçavam fechar. As empresas que sofreram a represália até agora são Caterpillar, 3M, Sony e Hewlett Packard.

O executivo da 3M fez uma refeição de mexilhões e fritas em seu cárcere de uma noite.

Comédia de grande sucesso na primavera francesa, o filme intitulado "Louise-Michel", conta a história de um grupo de operárias que contrata um matador de aluguel para matar seu chefe depois que ele fecha a fábrica sem avisar a ninguém.

Um sindicato oficial francês disse em março que "Aqueles que plantam miséria colhem fúria. A violência é feita por aqueles que cortam os empregos, não por aqueles que tentam defendê-los".

E no mês passado, mil trabalhadores das usinas de aço da Bélgica e França invadiram a reunião anual de acionistas da ArcelorMittal, a maior empresa de aço do mundo. Eles invadiram a sede da empresa em Luxemburgo, colocando portões a baixo, quebrando janelas e brigando com a polícia.

POLÔNIA

Também no mês passado, no sul da Polônia, na maior empresa de processamento de carvão na Europa, milhares de trabalhadores fecharam com tijolos a entrada da sede da empresa, em protesto a cortes de salário.

ESTADOS UNIDOS

Em Chicago, em dezembro, 260 trabalhadores da Republic Windows & Doors ocuparam sua fábrica por seis dias e abalaram as estruturas. Com a ajuda de uma campanha ferrenha contra o maior credor da empresa, o Bank of America ("Você se livrou, e nós acabamos vendidos!") e a massiva solidariedade internacional, eles ganharam a compensação devida. A fábrica está reabrindo sob nova direção, fazendo janelas que economizam energia. Todos os trabalhadores foram contratados novamente pelos salários antigos.

Uma tendência está se desenvolvendo em Chicago. A Hartmax, também sediada lá, é uma empresa de 122 anos, que faz ternos, incluindo o modelo azul marinho utilizado por Barack Obama na noite da eleição, além do smoking da posse. A Hartmax está em processo de falência.

O maior credor é o Wells Fargo, que recebeu 25 milhões de dólares do contribuinte americano para sair da crise. Mesmo tendo duas ofertas para comprar a empresa e colocá-la funcionando novamente, o Wells Fargo quer que ela seja liquidada. E 650 trabalhadores foram votados para ocupar a fábrica de Chicago se o banco levar a liquidação em frente.

Barack Obama ganhou a eleição prometendo uma recuperação de baixo para cima e não de cima para baixo. Um teste dessa promessa será o lugar que ele vai escolher para comprar seu próximo terno.”

FONTE: site Terra Magazine, de Bob Fernandes, em 11/06/2209. Artigo de Naomi Klein, do The New York Times. A autora é colunista do “The Nation” e “The Guardian” em Londres e é autora de “The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism”

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