terça-feira, 16 de junho de 2009

EMERGENTES VIVENCIAM NOVO BOOM

HÁ SINAIS DE UMA RETOMADA ECONÔMICA GLOBAL, COM POUCA AJUDA DA EUROPA E DOS EUA

SERÁ EXUBERÂNCIA IRRACIONAL OU SINAIS DE CRESCIMENTO FORTE?


“Investidores em Londres e Nova York têm testemunhado primeiros sinais de uma tênue retomada, mas seus colegas nos países em desenvolvimento dizem estar assistindo a uma recuperação plena.

Após uma queda esmagadora, os mercados de ações nos países emergentes navegam numa onda de otimismo de que a recuperação da economia global seja iminente e estaria sendo liderada pelo mundo em desenvolvimento, especialmente a China. Embora os mercados emergentes ainda estejam muito abaixo dos picos que alcançaram há mais de um ano, os investidores estão novamente vendo suas chances de crescimento como melhores que as de EUA ou Europa.

O resultado disso é que o índice acionário Nifty, da Índia, deu um salto de mais de 60% nos últimos três meses. O índice acionário chinês CSI 300, de Xangai e Shenzehen, e a brasileira Bovespa tiveram alta de cerca de 35% cada durante o mesmo período. Comparada com isso, a alta de cerca de 25% do índice Standard & Poor's 500 parece modesta.

"Houve uma corrida para a porta de saída no quarto trimestre", disse Gonzalo Pangaro, gerente de portfólio no Fundo de Ações de Mercados Emergentes T. Rowe Price. "O mercado está começando a perceber que, embora esses mercados enfrentem problemas, os problemas são administráveis."

A produção industrial vem se recuperando na China, e o mesmo ocorre com as vendas de carros na Índia e o varejo no Brasil.

Pode tudo isso ser exuberância irracional? As avaliações atuais são extremamente fortes: os preços das ações no Nifty indiano e na Bovespa estão cerca de 20 vezes maiores que os rendimentos. No CSI 300, os preços estão 29 vezes maiores que os rendimentos (os analistas se guiam pelo axioma de que ações de uma empresa vendidas por cerca de 15 vezes os rendimentos são corretamente precificadas).

A visão otimista é que esses índices preço/rendimento altos refletem o retorno do interesse pelo risco nos mercados, algo que normalmente acompanha uma perspectiva mais positiva, e a crença de que esses países estariam preparados para retomar um crescimento econômico forte.

A visão cética diz que as economias teriam de saltar para índices de crescimento de dois algarismos para justificar essas avaliações e que isso só pode indicar a formação de uma bolha.

Os mercados emergentes normalmente apresentam oscilações maiores que os países desenvolvidos. Cada uma das grandes economias em desenvolvimento -os países Bric, ou seja, Brasil, Rússia, Índia e China- enfrenta fraquezas que podem prejudicar sua recuperação.

Os fluxos de exportações e investimento estrangeiro, cruciais para muitos países em desenvolvimento, continuam anêmicos. Os gastos governamentais vêm tomando parte do lugar deles, mas os déficits fiscais crescentes em países como a Índia podem limitar o que os governos podem fazer para estimular suas economias.

Por enquanto, fala-se pouco em cautela. Na Índia, o mercado acionário subiu ainda mais quando o governo saiu vitorioso das eleições nacionais, no mês passado.

Madhabi Puri-Buch, executiva-chefe da Icici Securities, em Mumbai, disse que a Índia tem condições melhores que outros países de superar a crise porque o consumo interno continua a crescer. As vendas da maior montadora de automóveis do país, por exemplo, a Maruti Suzuki, cresceram mais de 10% em maio. "Os conselhos de direção da maioria das empresas estão dizendo que precisamos traçar planos de crescimento futuro, e não tanto que deveríamos estar nos preparando para um inverno prolongado", disse ela.

Outros analistas afirmam que os fundamentos da economia indiana não melhoraram suficientemente para justificar o grande crescimento.

Na China, a produção industrial começou a se recuperar, e as importações de commodities vêm aumentando. Mas a recuperação se concentra em setores domésticos que se beneficiam do programa de estímulo do governo. As exportações ainda sofrem dificuldades.

"Prevemos que a atividade manufatureira continue a se ampliar nos próximos meses, auxiliada pelos estímulos oferecidos pelo governo", disse Jing Ulrich, diretor do JPMorgan Chase na China.

Mercados emergentes da Ásia oriental também dão sinais de recuperação. A economia de Taiwan, por exemplo, encolheu 10,2% no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano passado, mas a aproximação com a China continental elevou a confiança dos investidores.

Bancos centrais em toda a região têm mantido os juros baixos, e alguns, como o das Filipinas, têm reduzido os índices para contrabalançar as exportações fracas.

A Indonésia esteve protegida contra a recessão global por seu grande mercado doméstico e sua dependência limitada das exportações. E o país está se beneficiando do aumento da demanda internacional por seus recursos naturais.

No Brasil, prejudicado pela queda nos preços de commodities, a produção industrial tem crescido a cada mês desde janeiro, embora ainda esteja muito mais baixa que no período correspondente de 2008.

Apesar da recessão, o mercado acionário brasileiro vem subindo. "Quando houve pânico, os investidores fugiram para os EUA para comprar títulos do Tesouro", comentou Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências. "Agora estão diversificando outra vez. O Brasil é claramente um dos escolhidos."

FONTE: reportagem de Vikas Bajaj e Keith Bradsher, de Mumbai, Índia, para o jornal norte-americano The New York Times, reproduzida no jornal Folha de São Paulo de 15/06/2009.

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