quarta-feira, 17 de junho de 2009

ENTREVISTA DO PRESIDENTE DA PETROBRAS À REVISTA NEWSWEEK

“A China superou os Estados Unidos como o maior parceiro comercial do Brasil, e a Petrobras, gigante do setor de energia brasileiro, contraiu um empréstimo de US$ 10 bilhões do Banco de Desenvolvimento da China, concebido para financiar os acordos de petróleo sem utilizar o dólar. O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli de Azevedo, voou até Pequim com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, para finalizar o negócio. Ele falou com a repórter Manuela Zoninsein, da Newsweek, sobre o relacionamento com a China.
Trechos:

COMO A CRISE FINANCEIRA ESTREITOU A RELAÇÃO BRASIL-CHINA, E ISSO FOI FEITO EM DETRIMENTO DOS LAÇOS BRASIL-EUA?

A crise econômica mundial motivou que o mercado de crédito se tornasse mais seletivo, restringindo o acesso ao crédito e às fontes de financiamento, particularmente nos EUA, onde a crise das subprime veio à tona. A China se tornou um grande centro financeiro, interessado em financiar projetos em
diversos países ao redor do mundo.

A CHINA E BRASIL SÃO CONCORRENTES EM ALGUMAS ÁREAS.

Por um lado, o Brasil pode ajudar a fornecer as necessidades energéticas da China. Por outro lado, a China pode ser um grande financiador de projetos brasileiros e uma boa prestadora de bens e serviços de energia para a cadeia produtiva no Brasil. É um bom negócio: a China precisa de petróleo e tem dinheiro, nós precisamos de dinheiro e temos petróleo. É uma boa relação de negócios baseada no “ganha-ganha”.

QUANDO OS DOIS GIGANTES PODEM TRABALHAR JUNTOS?

No desenvolvimento de tecnologias. No Brasil, nós temos segmentos tecnológicos avançados, tais como a indústria da aviação. Temos feito grandes progressos na área dos biocombustíveis para além dos progressos que fizemos na Petrobras com a nossa expertise no desenvolvimento de tecnologia de exploração de águas profundas.

CHINA E BRASIL ESTÃO DISCUTINDO A FORMA DE UTILIZAR AS SUAS PRÓPRIAS MOEDAS EM FUTURAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS. O QUE ISSO SIGNIFICA PARA A HEGEMONIA DO DÓLAR NA AMÉRICA LATINA?

A Petrobras negocia usando o dólar americano como referência. Mas creio que poderia ser positiva, para o Brasil e para a China, a utilização das suas moedas nacionais nas operações de compra e venda. Isso poderia o aumentar fluxo comercial entre os dois países.

DAQUI A DEZ ANOS, O QUE AS PESSOAS VÃO LEMBRAR EM RELAÇÃO AO O QUE A CRISE DE HOJE MUDOU NA POLÍTICA INTERNACIONAL E NOS MOLDES DO COMÉRCIO INTERNACIONAL?

O ritmo do crescimento do PIB mundial dependerá mais dos países em desenvolvimento do que no passado, e isto será refletido na arquitetura financeira. A importância relativa do G20 em comparação com o G8 vai crescer.

VOCÊ PODE ESCLARECER OS TERMOS DO ACORDO COM A SINOPEC? A PETROBRAS FORNECE 150 MIL BARRIS DE PETRÓLEO POR DIA NO PRIMEIRO ANO, SUBINDO PARA 200 MIL BARRIS POR MAIS NOVE ANOS PARA QUE ELA RECEBA UM EMPRÉSTIMO DE US$ 10 BILHÕES?

Os acordos de exportação com a Sinopec e os financiamentos concedidos pelo Banco de Desenvolvimento da China são dois diferentes acordos. Os empréstimos contraídos a partir do CDB serão pagos em dinheiro, não em petróleo. Exportações para a Sinopec são uma garantia para o empréstimo, mas eles vão ser negociados em termos comerciais, para cada entrega. O acordo não prevê um volume obrigatório de venda, nem fixação de preços.

EM QUE PONTO O PREÇO DO PETRÓLEO VAI SE ESTABILIZAR?

Nossos projetos são sustentados com base em um preço do petróleo que varia entre US$ 37 a US$ 45 por barril. O preço internacional do petróleo não é necessariamente relevante para o comércio e as decisões de investimentos futuros, uma vez que existem grandes flutuações no preço do barril. Mas vejo um aumento no preço do petróleo.

O GOVERNO BRASILEIRO DETÉM 40% DAS AÇÕES E 58% DAS AÇÕES COM DIREITO A VOTO DA PETROBRAS. BRASÍLIA INFLUENCIA NESTE ACORDO?

Esta oportunidade de “fundraising” (angariar fundos) resultou da cooperação entre nossos países. Como maior acionista, o governo Brasileiro age como um grande motor para as transações comercias da Petrobras com empresas de outros países.”

FONTE: Blog Fatos e Dados Petrobras, em 16/06/2009.

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