“O Brasil não apenas vai sair da atual crise econômica antes e melhor do que os outros países como fará parte de um seleto grupo de nações que, na próxima década, voltará a crescer em um ritmo próximo daquele exibido antes do colapso do sistema financeiro americano, marcado pela falência do banco de investimentos Lehman Brothers em setembro de 2008.
Essa é a opinião de Kenneth Rogoff, professor da Universidade Harvard e ex-economista-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional). "Creio que o país pode avançar a uma taxa anual de 5% no longo prazo", disse.
Para Pedro Malan, ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda na gestão Fernando Henrique Cardoso, a maior ameaça para que tal previsão se concretize é o crescimento descontrolado dos gastos do governo. "No primeiro trimestre deste ano, as despesas com custeio dispararam 19% e as com pessoal subiram 24%. Isso obviamente é insustentável e não tem nada a ver com a estratégia anticíclica a ser adotada em tempos de crise", afirmou Malan durante seminário realizado ontem pela Associação Comercial de São Paulo na capital paulista do qual também participou Rogoff.
O professor de Harvard concorda. "O maior problema é que, no Brasil, o Estado incha sem oferecer a melhoria da infraestrutura e de serviços públicos", comentou.
Na sua avaliação, uma das condições essenciais para que o planeta evite, no futuro, uma crise das mesmas proporções da vivida desde o final do ano passado é a melhoria dos sistemas internacionais de regulação, o que deve incluir algumas formas de resolver os problemas causados pelos capitais de curtíssimo prazo. "Não adianta o Brasil [como alguns especialistas defendem] pensar em taxar esses depósitos se a questão não tiver uma solução nos EUA e na Europa. As autoridades em todo o mundo precisam se debruçar sobre o assunto."
O papel do Brasil, continuou o economista, é, no âmbito do G20 (grupo de nações desenvolvidas e em desenvolvimento), pressionar por mudanças, sendo a principal delas a criação de um órgão regulador que, global, consiga passar por cima dos interesses de setores específicos, como o bancário.
Embora reconheça que a instituição deve "espelhar a nova ordem mundial", Rogoff se diz contrário a aumentar os fundos do FMI. "Senão, em vez de ajudar os países a atravessarem as dificuldades, sua função será apenas a de conceder empréstimos."
FONTE: reportagem de Denyse Godoy na Folha de São Paulo de 09/06/2009
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