domingo, 14 de junho de 2009

O BLOG DA PETROBRAS E A REVOLUÇÃO DOS EX-EDITADOS DA TERRA

“O blog da Petrobras, Fatos e Dados, em dez dias de existência, não se limitou a atrair 300 mil visitas e colocar em polvorosa os editores da mídia mercantil. Também introduziu um debate de fundo sobre o jornalismo em tempos de internet, quando o internauta passa a ter condições reais de ser o seu próprio editor. E parece que os internautas estão gostando.

A versão virtual do jornal Folha de S. Paulo, Folha Online, colocou no ar uma enquete para saber o que os seus leitores acham do Perguntou: ''Você aprova a decisão da Petrobras de vazar em blog as perguntas feitas por jornalistas para reportagens que ainda não foram publicadas?'' Só incluiu duas alternativas: ''Sim'' e ''Não''.

A resposta dos internautas, nas primeiras horas deste sábado (13), era a seguinte: ''Sim'', 85% (2.162 votos); ''Não'', 15% (389 votos). Sem comentários.

UMA ''ARMADILHA CONCEITUAL''?

Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado de S. Paulo, foi um dos donos da mídia a puxar o debate para a sua dimensão mais profunda e conceitual. Veja este trecho que ele escreveu (tomado do Fatos e Dados, que publica sem pejo as espinafrações que tem sofrido):

''A Petrobras – tenho convicção, não por má fé, mas por falta de compreensão e aprofundamento de um assunto complexo e contemporâneo – caiu numa armadilha conceitual que foi a de achar que a sociedade pode prescindir da edição. Isso fica claro quando ela diz que a blogosfera permite o contato direto com as fontes de informação sem a necessidade de um filtro. É o mesmo que desinstitucionalizar a imprensa. A sociedade não pode prescindir da imprensa e dos valores da edição.''

Gandour tem razão quando diz que a edição é imprescindível: é preciso um filtro. Quem tentar obter informação e opinião sem filtro algum terminará soterrado por elas.

Mas por que o leitor, e em especial o da internet, não pode ser o seu próprio editor? A rede, com suas ferramentas de busca, permite que ele selecione, em incontáveis veículos, dos tradicionais à guerrilha dos blogs, a informação e opinião que escolher, de acordo com seus próprios valores.

Em outras palavras: no século passado o leitor podia escolher o jornal ou revista que assinava ou comprava na banca. Uma vez feita a opção, submetia-se ao editor do veículo escolhido, delegando a ele a seleção dos fatos e ideias a que teria acesso.

Mas o século agora é outro, e não por acaso a mídia tradicional amarga uma crise comercial e existencial com a concorrência da web. Agora, qualquer um, com uns cliques do mouse, pode se alforriar da edição alheira, qualquer que seja ela, e inventar a sua própria.

As almas domesticadas podem talvez se assustar com a ideia de um supermercado de informações e opiniões quase ilimitado, ofertando bilhões delas, on line e de graça. Como escolher diante de tanta fartura?

Outros, mais atrevidos ou enxeridos, entusiasmam-se e embriagam-se com a vertiginosa liberdade do quilombo virtual. Assumem sua própria edição a la carte. No início podem se extraviar nas veredas que nunca trilharam; depois, acostumam-se. As gerações daqui por diante aparentemente serão cada vez mais peritas nesse garimpo que busca no planeta inteiro o texto, o vídeo, a música e tudo mais que desejem, por precisão ou curtição, ou ambas.

Então o editor propriamente dito, tradicional, profissional da edição, estará com os dias contados? Não. Tranquilizai-vos, senhores editores, não sereis aposentados compulsoriamente; mesmo o mais endiabrado internauta ainda precisará de quem disponha os diferentes conteúdos nas gôndolas do supersupermercado virtual.

Mas intranquilizai-vos, senhores editores; vossos poderes discricionários de outrora se foram. A ordem das coisas subverteu-se. Antes, éreis os senhores, doravante sereis os mais humildes servidores do leitor-ouvinte-espectador rebelado, agora soberano do seu conteúdo.

Se ainda não é inteiramente assim, é apenas porque a inércia exerce seu papel. Mas será, muito mais cedo do que supondes, em nossos tempos de revolução informacional.

Ele pretendeu apenas defender a Petrobras da CPI no Senado. Foi apenas como efeito colateral, quem sabe até involuntário, que levantou a lebre da revolução dos ex-editados.”

FONTE: artigo de Bernardo Joffily no site “vermelho” em 13/06/2009.

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