“Nem todo acidente aéreo tem respostas claras a todas as dúvidas que surgem. A tragédia do Airbus A330-200 da Air France em algum ponto entre Fernando de Noronha e Dakar ainda precisará de muito estudo para que se apontem as causas definitivas. Até porque encontrar a caixa-preta no fundo do mar a alguns quilômetros da superfície é mais difícil que esticar as pernas a bordo de um vôo nacional.
Dizem os especialistas em aviação civil que um acidente nunca é fruto de uma causa apenas. É preciso um conjunto de problemas para derrubar um avião. As pequenas falhas estão presentes quase todos os dias na aviação comercial. Mas só a sequência de falhas se transforma em tragédia.
O maior mistério da aviação brasileira - e provavelmente internacional - é o sumiço do Boeing 707 Cargo da Varig, prefixo PP-VLU, que acaba de completar 30 anos. No dia 30 de janeiro de 1979, o comandante Gilberto Araújo da Silva e mais 5 tripulantes zarparam do aeroporto de Narita (Tóquio) com destino a Los Angeles. De lá, o avião viria com outra tripulação ao Rio de Janeiro. Fazia frio e estava nublado no Japão, mas a torre de Narita deu condições de vôo. O comandante Gilberto cumpriu todas as formalidades, carregou os tanques com combustível, checou os equipamentos e decolou. Pela última vez.
Gilberto era sobrevivente da queda do 707 da mesma Varig em Orly, França, seis anos antes. Se é verdade que quem sobrevive a um acidente aéreo está protegido pelo resto da vida, a prática provou que não é bem assim. O comandante Gilberto fez todos os procedimentos necessários. O avião subiu sem qualquer anomalia. Mas 30 minutos depois perdeu-se os traços do cargueiro. Nem uma mensagem, nem um contato. Nada. O PP-VLU sumiu sem deixar vestígios.
A teoria da conspiração lançou no ar algumas hipóteses:
1. Foi um sequestro promovido por colecionadores de arte, já que no porão estavam mais de 150 obras do pintor Manabu Mabe. Curioso é que nesses 30 anos jamais essas pinturas foram achadas em paredes alheias.
2. O 707 teria sido abatido por soviéticos, interessados em esconder segredos de um caça MIG-25 que supostamente estaria desmontado e sendo levado aos EUA. Difícil acreditar que a derrubada não deixasse destroços e que essa versão não fosse mais conhecida.
3. Outra teoria conta que o 707 teria sido forçado a um pouso na costa da Rússia, onde os tripulantes teriam sido mortos. Estranho é que não houve nenhuma comunicação entre o avião, o tráfego aéreo e a torre de comando desde a saída de Narita.
A hipótese mais aceita, porém, fala em problemas técnicos, como uma despressurização inesperada, e um consequente mergulho sem volta nas profundezas do mar do Japão. Pela dificuldade das buscas no local, nunca se achou qualquer peça e o caso foi encerrado.
O acidente aéreo é sempre trágico. Foi assim no Airbus 320 da TAM em Congonhas, há dois anos, como também foi na queda na Amazônia do Boeing da Varig, em 1989, pelas trapalhadas do comandante Garcez. O provável acidente com o A-330 da Air France e seus mais de 200 passageiros vai ser notícia por muito tempo, à procura das causas e de explicações. A tecnologia permite que se investigue com maior segurança do que em 1979. Talvez por isso a tragédia de 2009 não será esquecida como a do cargueiro da Varig.
Um acidente aéreo toca na emoção de todos, ainda que morram mais pessoas em acidentes nas estradas do que em tragédias aéreas. Mas rapidamente a vida volta ao normal e a Air France terá outra vez lista de espera para seus vôos Rio-Paris.”
FONTE: site “Terra Magazine”, do jornalista Bob Fernandes; texto do jornalista Eduardo Tessler.
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Um comentário:
nao tem nenhuma possibilidade do aviao ter se perdido e ocorrido problemas tecnicos assim fazendo com o que nao pode-se manter contato com a torre e assim ter acabado o combustivel e o avião ter caido no mar longe da sua rota?
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