Recebida com almoço no Itamaraty, Cristina Kirchner reclama investimentos e comércio mais equilibrado
"A presidenta argentina, Cristina Kirchner, chegou mancando ao Palácio Itamaraty, depois de ter sofrido uma queda na semana passada, na Casa Rosada, mas não deixou a Argentina sair mal das pernas na visita à Brasília. Conseguiu do colega Luís Inácio Lula da Silva a garantia de compra de vacinas contra febre aftosa e festejou o anúncio de investimentos da Embraer em seu país. Em troca, o governo argentino prometeu desbloquear a compra de móveis fabricados no Brasil. A formalização das propostas deu o tom no quarto encontro do Mecanismo de Integração e Coordenação Brasil-Argentina, que acertou 22 projetos em áreas como pesquisa nuclear, interconexão elétrica e indústria naval.
Cristina elogiou o fato de que uma “grande empresa brasileira” se instalará na Argentina. Lula deu seu aval para que a Embraer forneça 20 aviões modelo 190 AR para a Aerolíneas Argentinas/Austral, com financiamento do BNDES. Para o ministro argentino de Transportes, Juan Pablo Schiavio, o “mais importante” será a possibilidade de reativar a indústria. “As oficinas de Córdoba dedicadas à aviação estão praticamente sem funcionamento”, destacou. “Com a compra dos aviões, está estabelecido que a manutenção será feita na Argentina.”
A questão da demora na liberação de licenças comerciais ainda não foi resolvida. Para cumprir a tarefa, os presidentes decidiram que os ministros de Relações Exteriores, de Indústria e de Economia dos dois países se reunirão a cada 45 dias. Lula e Cristina concordaram em se encontrar a cada 90 dias. “Somos sócios, mas a Argentina não pode desconhecer a escala da economia brasileira e a consistência de sua indústria. Há um sócio maior e outro menor”, defendeu Cristina.
Lula ressaltou a importância do mercado brasileiro, que absorve quase 70% das exportações argentinas. “Em 2009, de cada 10 automóveis exportados pela Argentina, nove vieram para o Brasil”, disse. O presidente brasileiro assegurou que interessa ao Brasil uma Argentina “forte, competitiva e próspera”, mas em seu discurso Cristina retrucou que o livre comércio nem sempre se verifica na prática. “Uma coisa é o que se diz ,e outra é o que as economias adotam”, afirmou. Lula e o chanceler Celso Amorim seguravam o queixo, sérios, enquanto Cristina afirmava que “o mundo que virá será de feroz competência regional”. “Argentinos e brasileiros não podemos ser tão néscios a ponto de não nos darmos conta do caráter associativo que temos de manter nesse mundo caracterizado pela demanda de alimentos e energia”, acrescentou.
Assuntos regionais também constaram da declaração conjunta. Os dois mandatários reafirmaram a decisão de não reconhecer as eleições em Honduras enquanto o presidente deposto, Manuel Zelaya, não voltar ao poder. Também expressaram preocupação com o acordo pelo qual bases militares colombianas receberão tropas americanas. Para Lula e Cristina, o acordo é “incompatível com os princípios de respeito à soberania e à integridade territorial dos Estados da região”.
"Somos sócios, mas a Argentina não pode desconhecer a escala da economia brasileira e a consistência de sua indústria” (Cristina Kirchner, presidenta da Argentina)"
FONTE: reportagem de Viviane Vaz publicada hoje (19/11) no Correio Braziliense.
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