segunda-feira, 15 de março de 2010

A HIPÓCRITA CAMPANHA ANTICUBANA

Transcrevo trechos do artigo "Por que o Brasil não se alinha à hipócrita campanha anticubana?" escrito pelo jornalista Hideyo Saito:

"Em vez de pressionar para que o governo brasileiro se some à atual campanha anticubana, como sempre capitaneada pelas agências oligopólicas de notícias, as boas almas que se manifestaram pela democratização de Cuba têm o dever moral de exigir o fim da política de agressão dos Estados Unidos contra Cuba. Do contrário, sua posição, apresentada como democrática, se revelará escandalosamente desonesta e hipócrita.

(...) Os chamados dissidentes cubanos receberam forte apoio da oposição brasileira e da mídia dominante local, em seu empenho para constranger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a se manifestar publicamente contra o governo de Havana. Na famosa entrevista à Associated Press, usada como pretexto para a pancadaria, o presidente brasileiro trouxe à baila um episódio de morte em uma greve de fome coletiva de prisioneiros do Exército Republicano Irlandês (IRA), durante o governo de Margareth Thatcher, em março de 1981. “Eu vejo muita gente que hoje critica o governo cubano por causa da morte, [e que] não falava nada da morte do IRA”, cobrou Lula. Esse trecho foi convenientemente omitido pela mídia dominante, para deixar o caminho livre para a atual campanha.

Na compacta barreira de desinformação que se orquestrou, as palavras-chave usadas têm sido: luta pela liberdade, dissidentes heróicos, masmorras cubanas, presos de consciência, tirania insensível, cumplicidade de Lula. Os atores brasileiros do drama (jornalistas locais, enviados especiais, colunistas, comentaristas convidados, políticos) repetem em uníssono o noticiário difundido por agências oligopólicas de notícias, como a citada AP, a France Press e a Efe, e por órgãos como a Voz da América, do governo dos Estados Unidos.

No jornal O Estado de S. Paulo, a sanha tem sido tamanha, que até colunista de assuntos econômicos, caso de Rolf Kuntz, e articulista convidado, como Eugenio Bucci, reforçaram o festival de acusações em termos praticamente idênticos aos do famoso extremista de direita Carlos Alberto Montaner. O Senado brasileiro aprovou moção de solidariedade aos “presos políticos”, em que também não faltaram críticas ao presidente Lula.

Nenhuma dessas boas almas, contudo, se preocupou em “checar” a notícia original ou qualquer de seus pormenores, cotejando-os com dados de outras fontes, ainda que fosse para complementar alguma informação. Se alguém o fizesse, poderia ter sabido que nenhum dos dois grevistas (Orlando Zapata Tamayo, que faleceu em 23 de fevereiro, e Guillermo Fariñas Hernández, que estava em estado crítico em um hospital cubano no final da segunda semana de março) foi condenado por atividades políticas, mas por delitos como furto, invasão de domicílio e agressões físicas, conforme registros judiciais cubanos.

Ficaria informado também de que os presos por atividades políticas, cuja libertação é reivindicada por Fariñas, são os remanescentes do processo de 2003, quando 75 opositores foram condenados por receberem dinheiro do Escritório de Representação dos Estados Unidos em Havana para participar de atividades contra o governo revolucionário (e não, como diz a campanha-padrão contra Cuba, por se oporem ao regime).(...)

Anistia Internacional: as situações em Cuba, nos EUA e na Europa

Sobre o suposto caráter ditatorial do regime vigente em Cuba, é interessante ainda comparar o que diz o relatório “O Estado dos Direitos Humanos no Mundo 2008”, da Anistia Internacional (entidade nada amistosa com o governo cubano), sobre a situação naquele país, nos Estados Unidos e na Europa. O documento acusa o governo cubano de restringir as liberdades de expressão, de associação e de circulação, fala nos “presos de consciência” remanescentes do grupo dos 75 e registra incidentes em que teria havido “fustigamento e intimidação” de dissidentes.

Mas não menciona um só caso de sequestro ou desaparecimento de opositores, nem tortura ou morte de prisioneiros em dependências carcerárias. Da mesma forma, não fala em repressão policial, nem em execução extrajudicial em Cuba.

Esse mesmo documento da Anistia Internacional, em contrapartida, denuncia os Estados Unidos por prática sistemática da tortura conhecida como waterboarding (simulação de asfixia), detenções e interrogatórios secretos e desaparecimento de suspeitos. Acusa ainda Washington de manter milhares de detidos, muitos “há mais de seis anos”, em Guantánamo, em Bagram e no Iraque, sem acusação nem julgamento.

Sobre os governos europeus, o relatório da Anistia declara: “Em 2007 surgiram novas evidências de que diversos Estados-membros da União Europeia foram coniventes com a CIA no sequestro, na detenção secreta e na transferência ilegal de prisioneiros para países em que foram torturados ou sofreram maus tratos”.

Ora, a atual campanha contra o governo cubano se origina de forças políticas que admiram as democracias vigentes na União Europeia e nos Estados Unidos, considerando-as modelos a serem copiados por todo o mundo (inclusive Cuba). Deveriam, portanto, preocupar-se também com o estado dessa própria democracia e dos direitos humanos nesses países, em vez de gastarem todo o gás em sua fúria contra Cuba. Que tal uma campanhazinha para combater a pouca vergonha denunciada pela Anistia Internacional nos Estados Unidos e na União Europeia? (...)

FONTE: escrito pelo jornalista Hideyo Saito e postado hoje (15/03) no portal "Vermelho" (íntegra do artigo pode ser lida no referido portal ou no site "Carta Maior".

10 comentários:

Probus disse...

"Hoje, 200 milhões de crianças vão dormir nas ruas das grandes cidades do mundo. Nenhuma delas é cubana."

http://port.pravda.ru/news/mundo/08-03-2010/29052-nenhuma_delas-0

http://port.pravda.ru/news/mundo/29052-1/

Unknown disse...

Prezado Eugênio,
Exatamente. Ou a mídia pró-EUA está errada ou a realidade está errada.
Maria Tereza

Probus disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Probus disse...

A vida continua...

Venezuela cria fábrica de vacinas em colaboração com Cuba

http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=4502591a3be059858cf9e9d763134ee3&cod=5552

Probus disse...

Os fariseus e a dignidade

Quem foi informado pela imprensa que há quase 50 anos Cuba já terminou com o analfabetismo, que mais recentemente, com a participação direta dos seus educadores, o analfabetismo foi erradicado na Venezuela, na Bolívia e no Equador? Que empresa jornalística noticiou? Quais mandaram repórteres para saber como países pobres ou menos desenvolvidos conseguiram o que mais desenvolvidos como os EUA ou mesmo o Brasil, a Argentina, o México, náo conseguiram?

Mandaram repórteres saber como funciona naquela ilha do Caribe, pouco desenvolvida economicamente, o sistema educacional e de saúde universal e gratuito para todos? Se perguntaram sobre a comparação feita por Michael Moore no seu filme "Sicko" sobre os sistemas de saúde – em particular o brutalmente mercantilizado dos EUA e o público e gratuito de Cuba?

Essas empresas privadas da mídia fizeram reportagens sobre a Escola Latino-americana de Medicina que, em Cuba, já formou mais de cinco gerações de médicos de todos os países da América Latina e inclusive dos EUA, gratuitamente, na melhor medicina social do mundo? Foi despertada a curiosidade de algum jornalista, econômico, educativo ou não, sobre o fato de que Cuba, passando por grandes dificuldades econômicas – como suas empresas não deixam de noticiar – não fechou nenhuma vaga nem nas suas escolas tradicionais, nem na Escola Latino-americana de Medicina, nem fechou nenhum leito em hospitais?

FONTE: BLOG DO EMIR - CARTA MAIOR

http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=428

Unknown disse...

Prezado Eugênio,
Tem razão. A verdade não interessa aos EUA, a seus aliados e à grande mídia. Para eles, quanto mais denegrirem o regime cubano, melhor. Enquanto Cuba não capitular e se submeter ao "sistema" capitalista, à direita, será assim.
Maria Tereza

Probus disse...

Ex-preso de Guantánamo ganha ação contra jornal de Rupert Murdoch.

O cidadão australiano Mamdouh Habib, que ficou três anos preso na base militar dos EUA em Guantánamo, ganhou nesta terça-feira, 16, uma ação de difamação contra o jornal australiano The Daily Telegraph.

O jornal publicou que Habib mentiu ao afirmar que, após ser preso no Paquistão em outubro de 2001, foi algemado, desnudado, drogado e teve suas unhas arrancadas por militares australianos e norte-americanos, entre outros abusos.

A sentença desta terça-feira anula decisão de um ano atrás e permite a Habib exigir uma compensação ao Daily Telegraph, que pertence ao império midiático de Rupert Murdoch, grande defensor do apoio da Austrália à guerra do Iraque.

Após sua detenção no Paquistão, Habib foi levado ao Egito e acabou na prisão norte-americana em Guantánamo, na ilha de Cuba. Ele foi libertado em 2005 e voltou à Austrália, onde denunciou as supostas torturas que desmentiram o diário.

Após a libertação de Habib, um ex-agente dos serviços de inteligência australiano anunciou que tinha provas de tortura de presos no Iraque e que havia comunicado o Ministério da Defesa, à época sob comando do ex-primeiro ministro John Howard, um dos maiores aliados do ex-presidente norte-americano George W. Bush.

O ex-preso de Guantánamo, que assegura que nas sessões de tortura estava presente um oficial australiano identificado como Alastair Adams, dedicou os últimos cinco anos a lutar em busca de justiça.

Ele moveu doze processos, vários por difamação contra meios de comunicação, e conta com uma equipe de doze advogados, pagos com ajuda de sua comunidade.

Em 2005, a Anistia Internacional, por meio de sua diretora de direitos humanos, Jumana Musa, exigiu das autoridades australianas que esclarecessem as alegações de tortura realizadas por Habib, mas a organização disse que nunca obteve uma resposta.

http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,ex-preso-de-guantanamo-ganha-acao-contra-jornal-de-rupert-murdoch,524896,0.htm

Probus disse...

Pois é Maria Tereza, é muita, muita hipocrisia.

AMÉRICA LATINA
16 DE MARÇO DE 2010

Venezuela: EUA criam mentiras e posam de guia de direitos humanos

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=125923&id_secao=7

Probus disse...

Governo brasileiro não se alinha à hipócrita campanha anticubana

"O governo brasileiro foi irrepreensível ao se recusar a figurar nessa (má) companhia, apesar das pressões. A esclarecedora declaração do chanceler Celso Amorim sobre a posição brasileira ficou quase perdida em meio à histeria oposicionista."

Hideyo Saito

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4569&boletim_id=658&componente_id=11004

Probus disse...

EUA e seus direitos humanos: 640 tentativas de matar Fidel

"Agora que os Estados Unidos e seus aliados, em sua campanha midiática contra Cuba, se proclamam defensores da vida humana, os cubanos recordam que isso pode ser desmentido, entre outras coisas, pelas 640 tentativas de assassinar Fidel Castro."

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=126256&id_secao=7