"Os ricos deprimidos e o Brasil
Crise da dívida europeia mal começou, e deve conter o PIB europeu ao menos até 2014; a princípio, Brasil pode ganhar
A crise da dívida europeia ainda nos parece um assunto exótico, com exceção dos momentos em que o risco de calote na eurozona ameaça detonar o "real forte" (isto é, encarecer o dólar).
Mas o assunto vai nos interessar pelo menos até a Copa de 2014. Por ora, a crise da dívida dos países da União Europeia (UE) chama-se Grécia. Como previsto, os problemas que a Grécia e seu governo enfrentam para fechar suas contas públicas e externas não terminaram quando a UE deu um discreto sinal de que talvez bancasse o rombo.
Com tal garantia, ainda que muito discreta, o mercado suspendeu a aposta na bancarrota helena, e a Grécia conseguiu tomar um dinheiro emprestado para pagar as contas até o fim do mês, literalmente.
Na semana que vem, a UE decide o que faz dos gregos. Pode oferecer uma cobertura real para um eventual calote. Pode financiar diretamente a Grécia. Ou pode armar um pacote com o FMI, o que os gregos ameaçam fazer desde já, para vexame da Europa e do euro, coisa que a França quer evitar. Mas o governo alemão, caixa continental, talvez aceite a intervenção do FMI, pressionado que está por um eleitorado que detesta deficit e tem desprezo pelos vizinhos negligentes do Sul.
Até aí a novela não tem grande novidade. Mas o recurso ao FMI ou, talvez pior, a um "socorro" alemão, significa uma intervenção de fato no governo grego, com arrocho feio e mais um ou dois anos de recessão.
Mas o drama não é apenas grego. Há outros países com deficit externos e fiscais (do governo) grandes, como Portugal. E a eurozona toda está hiperendividada devido aos gastos com estímulos à economia e com a salvação da banca. Logo, também terão de cortar muito dos gastos públicos, o que vai conter investimentos em infraestrutura (o que diminui a produtividade das economias). De resto, o corte de gasto público por si só talha o crescimento.
Segundo estimativas da "Economist Intelligence Unit", o deficit público britânico irá a 13,5% neste ano (o do Brasil deve cair a 2%). Ainda seria de 8% em 2014. A conta de juros irá dos 2% do PIB de antes da crise para 6,5% do PIB. A desgraça é semelhante pelo resto da Europa.
A conta da dívida pode ficar ainda maior em caso de calote, ou quase isso, de algum país europeu. Os juros disparariam, haveria fuga de capitais, risco de crise bancária, o diabo.
Caso essas economias consigam cortar gastos e deprimir o consumo doméstico, uma fonte possível de dinamismo seriam as exportações. Mas a Alemanha abocanha esse mercado. Seu crescimento depende disso, a não ser que altere o "modus" poupador de sua economia. Em relação a terceiros mercados, a China leva a melhor, com seus salários baixos e sua moeda desvalorizada.
E o Brasil com isso? Num mundo sem catástrofes, o capital sem rumo, sem chance alternativa de rentabilidade maior, pode aportar por aqui. Podemos nos beneficiar da letargia europeia. Mas se a baixa econômica no mundo rico durar demais, para quem vamos exportar a fim de obter fundos para bancar nossas contas externas? Temos alguns anos de oportunidades pela frente. [O artigo da 'Folha' termina com o tradicional discurso neoliberal da direita, válido para os anos FHC/PSDB/DEM, pois hoje o quadro da economia brasileira é muito mais saudável:] "Mas temos de tomar conta do nosso consumo excessivo, em especial do governo, e do deficit externo crescente".
P.S.: Sobre o assunto, sugerimos a leitura da postagem mais recente deste blog “democracia&politica”, de quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011, intitulada “RANKING DO PIB DE TODOS OS PAÍSES DO MUNDO”
FONTE: escrito por Vinicius Torres Freire e publicado hoje (21/03) na Folha de São Paulo [título e entre colchetes colocados por este blog].
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
Ops, para quem vamos exportar??
Engraçado... tão achando que o Lula foi ao Oriente tratar só da Questão Palestina?? Que o diga Lytha Spíndola.
O que fez a gente escapar da crise foi justamente diversificando o comércio externo.
Jordânia e Israel podem se transformar em GRANDES parceiros comerciais, inclusive, se aliando no falido(??) MERCOSUL... E o PIOR de TUDO, é a Venezuela do tão questionado Chavez, é um dos melhores parceiros comerciais nossos (cadê minha Refinaria e o progresso em minha região CGU??? Senão eu vou achar que você está com preconceito contra o chapolin e contra o povo...que loucura!).
Hoje a UE já se posicionou à favor também.
O rei sueco vem por aí, mas, também a negócios, não só tomar uma caipirinha, vem tentar vender caças, e ele gosta de foguete e da tecnologia brasileira.
O Irã compra bilhões e vende milhares para a gente, quem não quer um parceiro desse?? E Lula está indo para lá atrás de $$$$ também, o Lula não é bobo!
Semana passada Jobim e os primeiros ministros da Índia e Rússia estavam trocando figurinhas na terra do grande Mahatma.
O Japão... está descartado também Vinicius?? Os nipos estão se afastando de Washington, viu??
Prezado Eugênio,
Concordo. A solução para o Brasil aumentar o comércio e reduzir a dependência dos humores e crises dos compradores é diversificar os parceiros comerciais, independentemente de os EUA e judeus gostarem ou não de X, Y ou Z. O MERCOSUL não está em sua melhor fase, mas é muito importante para o Brasil. É o nosso natural comprador de bens de maior "valor agregado". Os ricos somente querem comprar matérias-primas ou, no máximo, primárias, como pelotas de minérios, chapas de aço, madeiras etc. Li o artigo sabendo que é da Folha, típica ferramenta da direita colonizada pelos EUA e grandes potências.
Maria Tereza
Oi doce Maria Tereza, veja só:
Lula e Lukashenko se comprometem a intensificar relações bilaterais
http://br.noticias.yahoo.com/s/22032010/40/mundo-lula-lukashenko-se-comprometem-intensificar.html
A exemplo de Chávez, Lula reforça relações com Belarus
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=126295&id_secao=1
Empresários do Brasil são os mais otimistas sobre economia global, diz pesquisa
Os empresários brasileiros são os mais otimistas quanto ao comportamento da economia global no próximo ano, indica uma pesquisa feita em 17 das principais economias do mundo pela consultoria internacional KPMG.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/03/100329_otimismo_kpmg_rw.shtml
Postar um comentário