"Biden adverte Israel de que a atual situação é insustentável
Palestinos cancelam o diálogo devido às novas colônias
Depois do turbilhão diplomático, as águas voltaram ao seu leito nesta quinta-feira (11). Joseph Biden se despediu de Israel com um discurso na Universidade de Tel Aviv destinado a agradar os ouvidos dos israelenses, que lembram com gravidade do pronunciamento de Barack Obama no Cairo, considerado mais inclinado às teses árabes. "Os EUA permanecem junto com vocês, ombro a ombro, enfrentando essas ameaças (...) Os EUA estão empenhados em impedir que o Irã consiga armas nucleares", enfatizou o vice-presidente americano [para os EUA, Israel pode continuar a produzir suas bombas atômicas].
Mas no último episódio da acidentada visita oficial, marcada pela humilhação sofrida pelo hóspede quando Israel anunciou uma maciça ampliação de colônias em Jerusalém Oriental [território da Palestina], Biden expressou ideias que representam um aviso aos navegantes israelenses: "A realidade demográfica dificulta que Israel possa ser o lar judeu e um Estado democrático. A situação é insustentável (...) Israel finalmente tem um sócio para a paz".
Também não é possível, na opinião de diversos dirigentes israelenses, conciliar a condição de "judeu e democrático" enquanto persistir a patente discriminação dos palestinos contra os cidadãos israelenses e a ocupação [israelense] da Cisjordânia [dos palestinos], que avança sem freios apesar da promessa de congelamento da construção, cheia de exceções. Porque a situação a que se referiu Biden - a ocupação e o avanço da colonização - não está se revertendo. Avança dia a dia na direção contrária à que Washington diz desejar.
São mais de 50 mil as moradias previstas em diversas fases de planejamento urbanístico, só em Jerusalém. E são mais de meio milhão os colonos judeus que povoam o território [palestino] ocupado [à força por Israel], obstáculo cada vez mais difícil de superar se o que Israel pretende é a criação de um Estado palestino que afaste a ideia de um Estado único entre o rio Jordão e o Mediterrâneo, no qual os árabes muito em breve seriam maioria.
"Como se o importante fosse o momento, e não a provocação", escreveu ontem o ex-ministro Yossi Sarid. O chefe do Executivo já havia alegado ignorância sobre o polêmico anúncio e disse que não controla as decisões do emaranhado de órgãos envolvidos em uma colonização que continuará, promete o líder israelense. "Não creiam por um instante em Netanyahu. O caos funciona como um relógio", acrescentou Sarid.
Em sua linha de agradar ao público, e ao mesmo tempo enviando mensagens nada gratuitas, Biden insistiu em que "Israel é o melhor amigo dos EUA" e em que Washington encabeça a luta contra "a insidiosa campanha que desafia o direito de Israel a existir", mas rebateu a célebre frase - "Não há um sócio palestino para a paz" - martelada no discurso político. Enquanto os governantes israelenses reiteram que o presidente palestino, Mahmoud Abbas, é demasiado frágil politicamente e não freia a incitação à violência, o vice-presidente destacava: "Israel finalmente tem sócios que compartilham o objetivo da paz". A citada proclamação cunhada há uma década pelo ex-primeiro-ministro Ehud Barak continua vigente e marcada a sangue e fogo na psique dos governantes israelenses. "É difícil ser um farol quando se está permanentemente em guerra", lamentou Biden.
A visita deixa ao governo Netanyahu um sabor mais acre que doce, em uma conjuntura na qual o Executivo reclama o apoio incondicional de seu aliado para desmontar o programa nuclear iraquiano [mentirosamente divulgado como existente para pretexto para a invasão]. Biden também não pode ir embora satisfeito. "O importante é que as negociações [entre israelenses e palestinos] avancem rapidamente", afirmou. "Não podemos retardá-las porque os extremistas exploram nossas diferenças." Uma mensagem dirigida ao presidente Abbas, que na quinta-feira não aceitou o desafio.
Embora muito provavelmente será uma decisão revogada dentro de dias ou semanas, a OLP anunciou que cancelava o início das conversações, depois que a Liga Árabe retirou seu apoio na noite de quarta-feira. "Queremos escutar do enviado de Barack Obama para o Oriente Médio, George Mitchell, que Israel cancelou a construção das 1.600 moradias antes de começar a negociar", declarou o chefe dos negociadores palestinos, Saeb Erekat."
FONTE: reportagem de Juan Miguel Muñoz, em Jerusalém, divulgada hoje (12/03) pelo jornal da direita espanhola "El País", publicado no portal UOL com tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves [entre colchetes colocados por este blog].
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