“Discussão sobre ataque dos EUA ou de Israel ao Irã ganha corpo, mas análise cautelosa dos fatos indica que opção militar não é bom caminho.
A insistência do Irã em levar adiante seu programa nuclear [pacífico e legal segundo o TNP], apesar da recente imposição pelas Nações Unidas de uma quarta rodada de sanções, vem reavivando o debate, nos EUA e em Israel, sobre a possibilidade de um ataque militar preventivo ao país persa.
A discussão ressurgiu com força quando o principal comandante militar americano, almirante Mike Mullen, afirmou à imprensa no início deste mês que "a opção militar tem estado sobre a mesa e segue sobre a mesa". Ganhou decibéis com reportagem da revista "The Atlantic" na qual o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, alertava que, caso os EUA não evitem que o Irã obtenha a bomba atômica, seu país teria de agir.
É consenso entre analistas “internacionais” [israelenses, norte-americanos e judeus] que, embora Teerã negue a intenção bélica de seu programa atômico, o objetivo final do regime dos aiatolás é ao menos obter a capacidade de construir um artefato nuclear.
Mesmo que esse seja o caso, o tamanho da ameaça iraniana é muitas vezes sobredimensionado: apesar da abjeta retórica de seu presidente, que fala em varrer Israel do mapa [caso Israel ataque o Irã], é improvável que, mesmo com a bomba, o Irã viesse a se aventurar a um ataque nuclear contra o país.
[Ao contrário de Israel, que desde a sua criação usa seu poderio militar para invadir e ocupar terras de países vizinhos (Síria, Líbano, Palestina), o Irã não tem histórico de país agressor].
Estima-se que o Estado judaico possua arsenal atômico [o único do Oriente Médio], não declarado, [clandestinamente produzido] de cerca de 200 ogivas, algo que o Irã levaria décadas para obter. Além disso, [Israel] tem o apoio dos EUA, com seu enorme poderio [atômico] militar.
Questões geográficas -como atacar Israel sem atingir os aliados palestinos do Hamas?- e religiosas -um ataque ao país atingiria Jerusalém, terceira cidade mais sagrada para o islã- também parecem tornar improvável uma ofensiva iraniana.
Ainda assim, pressões políticas internas poderiam levar Israel a agir militarmente contra o Irã. Mesmo nos EUA [país dominado pelo poderoso lobby judaico no Congresso, Executivo e na indústria bélica], parte considerável da população reagiria bem a um ataque contra o país persa, cálculo que pode ser levado em conta num ano de eleições, no qual as projeções indicam que o governante Partido Democrata sofrerá dura derrota para a oposição.
Apesar dos ventos ameaçadores, uma “ação preventiva” [sic] dos EUA ou de Israel ainda não parece provável. Recente reportagem do jornal "The New York Times" mostrou que a Casa Branca está empenhada em convencer o parceiro de que a ameaça nuclear do Irã ainda não é iminente.
Além disso, há dúvidas sobre a eficiência de um ataque como esse, já que o Irã pode ter instalações nucleares ocultas, e os efeitos colaterais, como o inevitável choque nos preços de petróleo, podem ser mais representativos do que os eventuais ganhos.
Apesar da escalada retórica, os dois lados já se comprometeram a retomar, uma vez findo o mês sagrado islâmico do Ramadã, conversas em torno de um acordo para que o Irã envie urânio ao exterior e receba o combustível enriquecido a nível adequado para abastecer seu reator médico.
A tentativa de diálogo é o melhor caminho para evitar uma escalada militar de consequências imprevisíveis para os EUA, Israel, o Irã e o mundo.”
FONTE: editorial do jornal “Folha de São Paulo” [título e trechos entre colchetes colocados por este blog].
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