domingo, 29 de agosto de 2010
IRAQUE E AS TROPAS OCUPANTES: A SALVO NUM MRAP?
“Barack Obama confirmou o plano de retirar as tropas estadunidenses de Iraque. A partir de 31 de Agosto "só" ficarão 50 mil soldados dos Estados Unidos no país da Mesopotâmia para se dedicarem ao treinamento dos corpos de segurança do "novo Iraque". A retirada completa desta força de transição consumar-se-á no final de 2011.
Por Alejandro Nadal, no "La Jornada"
Isso não quer dizer que a ocupação ilegal do Iraque terá concluído. O desígnio imperial quer que as instituições e leis do novo país sejam amigáveis com as empresas estadunidenses. Depois do inferno de centenas de milhares de civis mortos e do leque de prisões e campos de tortura (Abu Ghraib à cabeça), as cicatrizes da invasão demorarão muito a desaparecer. Além disso, resta a Obama um longo caminho para sair do outro grande depósito de esterco que é a guerra no Afeganistão. Aí Obama tem sua própria guerra e não pode endossá-la a Bush.
Em plena crise, o Congresso estadunidense autorizou um orçamento adicional de 59 bilhões de dólares para o esforço bélico no Afeganistão. Estes recursos incluem o custo do incremento de tropas ordenado por Obama. Sob a sua presidência, o número de soldados estadunidenses no país da Ásia central ultrapassa agora os 92 mil.
Frequentemente, a guerra no Afeganistão foi comparada com a do Vietnã. Mas a verdade é que há algo de novo neste conflito. Tudo começa com os veículos de transporte de pessoal. Os leitores ouviram falar dos ‘Humvees’, a versão militar dos ‘Hummers ‘que ainda se vêem nas nossas ruas. Pois bem, os ‘Humvees’ resultaram ser uma armadilha mortal ao serem atacados com as chamadas bombas improvisadas no Iraque e foram substituídos por outros veículos chamados ‘MRAP’.
Esse acrônimo corresponde a um veículo blindado resistente às minas terrestres e com proteção para emboscadas. O veículo transporta sete soldados com os seus equipamentos e, durante algum tempo, foi considerado a resposta para o problema dos engenhos explosivos improvisados. (Por certo, não sei por que é que os militares estadunidenses insistem em utilizar o qualificativo de "improvisado" para um engenho que leva tempo a armar, colocar e que os espera por vezes durante horas para ser detonado. Acho que os improvisados são outros. Mas estou a desviar-me do assunto.)
Os MRAP têm um problema. O seu centro de gravidade é muito alto e tombam facilmente. Por esse motivo, o seu interior está cheio de maçanetas para se agarrar em caso de uma capotagem. Mas os soldados devem sair arrastando-se pelas comportas nessa eventualidade, o que anula a dita proteção antiemboscadas.
Por esse motivo, o exército, sempre atento à segurança dos rapazes longe da zona de ‘confort’, mandou desenhar um veículo mais resistente e sem esses inconvenientes. O resultado é o ‘super M-ATV’, um veículo todo-terreno que é também resistente às minas. Uma dificuldade é que só pode transportar cinco soldados, o que implica que são necessários mais destes veículos. Por certo, cada M-ATV custa meio milhão de dólares, engole gasolina como nenhum e, como é um modelo novo, desmantela com frequência [1].
O novo veículo é a antítese da estratégia contra-guerrilha que, segundo o Pentágono, se aplica no Afeganistão. Essa estratégia, que responde ao estranho acrônimo de COIN, supostamente está baseada na aproximação das tropas invasoras ao povo afegão. O que menos querem os ocupantes de um M-ATV é que alguém se lhes aproxime vendendo chicletes. É como se cada um destes veículos tivesse a palavra MEDO escrita no parabrisas.
Para Washington, o importante é manter uma nova ilusão: a guerra não tem que ser tão daninha. Se nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial os soldados viviam meses no lodo juntamente com os cadáveres dos seus colegas caídos, e se no Vietnã tinham que combater nos pântanos infestados de mosquitos no delta do Mekong, hoje no Afeganistão o Pentágono tenta que predomine a face amável da guerra. As suas bases militares refletem esta obsessão pelo conforto que sufoca a sociedade estadunidense. Ar acondicionado por todos os lados, bons menus no refeitório e uma limpeza impecável graças aos trabalhadores filipinos, indianos e croatas que os contratistas privados levaram para o coração da "guerra contra o terrorismo".
Evidentemente, tudo isso custa. Não há dúvida que o acrônimo da estratégia COIN (que significa "moeda") é o menos adequado. O custo estimado da cada soldado estadunidense no Afeganistão supera o milhão de dólares por ano.
Mesmo a obsessão pela comodidade não poderá subtrair o horror da guerra. As tropas estadunidenses deveriam ler os escritos do general William Tecumseh Sherman, o principal chefe militar nortista na Guerra Civil daquele país. Uma passagem é especialmente relevante: "Ninguém pode descrever a guerra em termos mais duros que eu. A guerra é um inferno".
FONTE: escrito por Alejandro Nadal, no “La Jornada” e “Informação Alternativa” e postado no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=135809&id_secao=9) [imagens colocadas por este blog].
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