sexta-feira, 5 de novembro de 2010

NY TIMES: CHINA, ÍNDIA E BRASIL NA CONDUÇÃO DA ECONOMIA GLOBAL

SHIFT IN WASHINGTON STIRS ECONOMIC JITTERS ABROAD (Mudança em Washington causa ansiedade econômica no Exterior)

By LIZ ALDERMAN, no “New York Times” (November 3, 2010}

“Enquanto os republicanos se preparam para usar sua nova autoridade no Congresso, os parceiros comerciais dos Estados Unidos se preocupam com a possibilidade de que a mudança política em Washington possa trazer novos desafios à economia global.

Apesar das promessas de cortar gastos do governo e o grande déficit orçamentário dos Estados Unidos, espera-se que os republicanos enfrentem a ansiedade com o desemprego e o crescimento econômico tíbio tentando estender os cortes de impostos aprovados durante a presidência de George W. Bush — uma medida que acrescentaria ao déficit e, por extensão, enfraqueceria ainda mais o dólar.

“O resto do mundo, incluindo a Ásia, está de olho nos Estados Unidos e não vê medidas reais de política econômica que possam trazer a economia de volta aos trilhos”, disse Bart van Ark, economista-chefe do Conference Board, que mede os indicadores econômicos dos Estados Unidos. “Isso faz com que os Estados Unidos percam legitimidade na comunidade econômica global como um líder capaz de oferecer soluções”.

Manter os impostos nas taxas relativamente baixas de hoje poderia ajudar a aumentar os gastos do consumidor nos Estados Unidos, enquanto um dólar mais fraco tornaria mais competitivas as exportações dos Estados Unidos. Mas analistas dizem que esses ajustes seriam apenas temporários e provavelmente não reverteriam o decrescente poder econômico dos Estados Unidos, no momento em que os mercados emergentes — liderados pela China, Índia e Brasil — superam as nações industriais na condução do crescimento global.

Um dólar mais fraco, ao tornar as exportações europeias mais caras, pode também acabar com as tentativas de recuperação baseadas em exportação de países europeus como o Reino Unido, a Grécia e a Irlanda, que adotaram duras medidas de austeridade para controlar dívida excessiva.

Depois que o governo Obama conseguiu aprovar mudanças no sistema de saúde e no sistema financeiro, os eleitores deram o sinal de que querem reduções nos gastos federais. O deputado John A. Boehner, de Ohio, republicano que deverá ser o novo líder da Câmara, reiterou a promessa de que depois das eleições pretende reduzir o tamanho do governo, criar empregos e mudar o funcionamento do Congresso.

Não é fácil. Os eleitores também querem manter seus direitos adquiridos e esperam que os republicanos revertam cortes no programa Medicare [que atende a terceira idade] e que possam estender os cortes de impostos de Bush que vão expirar no fim deste ano.

Essas medidas, se aprovadas, tornariam ainda mais difícil — não mais fácil — aos republicanos manter seus compromissos de controlar a dívida nacional e o déficit do orçamento. Da perspectiva de quem está fora dos Estados Unidos, “as promessas republicanas de probidade fiscal são difíceis de acreditar”, disse Simon Tilford, o economista-chefe do Centro Europeu para Reforma Econômica em Londres. “O que eles estão pregando provavelmente vai aumentar o déficit em vez da redução dramática que eles dizem pretender”.

Há também o risco de o Congresso, dividido entre uma Câmara controlada pelos republicanos e uma maioria frágil dos democratas no Senado, ficar paralisado. Isso deixaria a tarefa de apoiar uma recuperação econômica dos Estados Unidos inteiramente por conta do Banco Central.

O Banco Central demonstrou preocupação na quarta-feira com uma recuperação “lenta” e uma inflação baixa ao anunciar planos para comprar 600 bilhões de dólares em bônus do Tesouro, um processo conhecido como quantitative easing, que visa estimular o crescimento econômico e reduzir o desemprego. Esta medida com certeza vai enfraquecer o dólar, mas a habilidade dela de estimular uma recuperação ainda tem de ser provada.

Também não está claro quanto um Congresso fraco, mas ainda controlado pelos democratas pode fazer antes que um líder dos republicanos assuma o comando da Câmara. Mas a pressão agora está sob o governo Obama para fazer um acordo em torno dos impostos até o fim do ano — ainda que não haja consenso sobre onde cortar os gastos, dizem analistas.

Além disso, se os atuais níveis de impostos para os mais ricos forem mantidos, assim como os cortes para contribuintes de classe média para os próximos anos, a ação poderia acrescentar de um a dois pontos percentuais no déficit em relação ao conjunto da atividade econômica, de acordo com Klaus Günter Deutsch, um economista sênior do Deutsche Bank Research em Berlim.

Se Washington acabar aumentando o déficit, em vez de reduzí-lo, um dos resultados seria o enfraquecimento ainda maior do dólar contra o euro, a libra e outras moedas.

O dólar já perdeu mais de 15% de seu valor em relação ao euro desde junho por conta das preocupações com a situação fiscal federal e na expectativa de que o Banco Central anunciaria novas medidas na quarta-feira para colocar mais dinheiro na economia enfraquecida.

Em época de pleno emprego, um déficit maior pode ser enfrentado por uma política monetária mais dura e taxas de juros maiores, disse C. Fred Bergsten, diretor do Instituto Peterson de Economia Internacional em Washington. “Mas agora, com os juros próximos de zero e o Banco Central embarcando em uma nova expansão quantitativa, isso significa um déficit maior e um dólar mais fraco, e essas questões causam os maiores alarmes no exterior, especialmente entre europeus”.

Mesmo que o dólar continue a enfraquecer, ajudando os exportadores americanos, a maioria dos especialistas em política e economia esperam que os legisladores dos dois partidos mantenham a pressão na China para fortalecer a sua moeda. Isso tornaria ainda mais difícil para o governo Obama buscar cooperação com os chineses para que eles mantenham sua moeda alinhada aos fortes fundamentos econômicos do país.

Os industriais americanos faz tempo reclamam que a China está mantendo sua moeda, o renminbi, artificialmente fraca, tornando mais difícil para as exportações americanos competirem no mercado global.

A questão das moedas é parte de uma disputa mais ampla no comércio, disse Kenneth S. Rogoff, um economista de Harvard que foi economista-chefe do Fundo Monetário Internacional.

“Se os chineses cederem um pouco, isso ganharia um bom tempo para discutir as questões comerciais”, ele disse. “Os asiáticos estão extremamente nervosos com a possibilidade de os Estados Unidos taxarem os importados chineses ou de alguma medida agressiva, não apenas porque os republicanos estão assumindo o controle da Câmara, mas porque a economia dos Estados Unidos está muito fraca”.

Até que a poeira assente, no entanto, “imprevisibilidade é a palavra do dia”, o Sr. Rogoff afirmou. “Nós temos novas forças poderosas e voláteis”, ele acrescentou. O ‘resto do mundo vai se preocupar com isso’.”

FONTE: escrito por Liz Alderman, no “New York Times”. Transcrito no portal “Viomundo” (http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/ny-times-china-india-e-brasil-na-conducao-da-economia-global.html).

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