quinta-feira, 25 de novembro de 2010
LULA: 'MAIOR CENSURA É ACREDITAR QUE MÍDIA NÃO PODE SER CRITICADA'
“Em entrevista a blogueiros, presidente destacou as transformações no setor de comunicação brasileiro, lembrando a importância da internet na democratização das comunicações e na hora de rebater e desmentir informações incorretas.
Por Guilherme Amorim, “Rede Brasil Atual”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a atuação da mídia e afirmou a necessidade de regulamentação do setor. As declarações foram dadas durante entrevista coletiva concedida na manhã de quarta-feira (24) no Palácio do Planalto a dez blogueiros. A conversa foi transmitida ao vivo para quase 7 mil pessoas.
Foram postos em pauta temas como a liberdade de imprensa, regulamentação da mídia e direito de resposta e afirmou que a mídia pode e deve ser criticada. "Eu sou o resultado da liberdade de imprensa nesse país. A maior censura que existe é acreditar que a mídia não pode ser criticada. A gente critica até nosso time de futebol, quanto mais a mídia", disse, bem-humorado, Lula, o chefe de Estado de maior aprovação na história do Brasil.
“Quando [o ministro da Secretaria de Comunicação Social] Franklin [Martins] convoca a conferência internacional com Inglaterra, Espanha, França etc., que são utilizados como exemplo pra tudo nesse país, eles dizem que não é crime ter regulação da mídia. Ninguém pode ter medo de debate”, disse o presidente, em referência ao Seminário Internacional das Comunicações Eletrônicas e Convergência de Mídias, realizado em Brasília no início do mês.
Lula destacou a importância da realização da Conferência Nacional da Comunicação (Confecom). “Depois da Confecom será inexorável a gente colocar em prática parte das decisões. A sociedade brasileira tem tanta sede de discutir comunicação quanto um nordestino do semi-árido de encontrar uma moringa de água gelada. Está posto o debate. A Dilma é quem vai fazer esse debate, e certamente vai mandar para o Congresso Nacional, e aí vocês entrarão em campo, meus caros”, disse o presidente.
O presidente chamou ainda de “estupidez” as tentativas de controlar a Internet, referindo-se ao polêmico projeto de lei apresentado pelo senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), conhecida como “AI-5 Digital” pelos militantes da liberdade de informação.
"POVO ESTÁ MAIS SABIDO"
O presidente recordou momentos em seu governo em que a mídia ajudou a disseminar o medo na população através de falsas denúncias ou informações incorretas. "Se daqui a 100 anos alguém for fazer uma história do meu mandato e pegar certas revistas vai ter uma imagem horrivel. Vai ter que pegar uma revista estrangeira, ou quem sabe vocês da internet para ver a realidade", disse o presidente. "Eles se assustam com a aprovação de 80% do govenro porque trabalharam o tempo inteiro para isso não acontecer. A eleição da Dilma foi uma vitória do povo brasileiro e acho que vocês têm consciência do papel que desempenharam nisso", elogiou.
"Eles (a mídia) pensam que o povo é massa de manobra como era no passado. O povo está mais inteligente, mais sabido agora. Quando o cidadão conta uma mentira, é desmentido em tempo real, tem de se explicar", avaliou Lula, destacando o papel da internet e dos meios de comunicação alternativos - como os blogs - na representação democrática do país.
Lula comentou acontecimentos como a divulgação da "epidemia" de febre amarela, quando muitas pessoas adoeceram por tomarem a vacina preventina antes da orientação oficial do Ministério da Saúde. O mandatário lembrou também da gripe aviária, quando ocorreram alegações de que havia ocorrências da doença em Marília (interior de São Paulo), o que gerou instabilidade no mercado avícola.
Lula mencionou também o comportamento da imprensa durante a crise econômica de 2008, quando disse que a "crise é tsunami nos EUA e, se chegar ao Brasil, será uma marolinha". À época, essa declaração foi bombardeada pelos grandes meios de comunicação que defendiam que o Brasil deveria se preparar para uma grande turbulência na economia em crescimento. "Os setores da economia exageraram apenas no medo. Ninguém na história, do G20, o que for, tomou medidas tão rápido quanto nós", declarou o presidente, lembrando de ações como a redução do IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados). Os blogueiros lembraram que o alarde provocado pelos meios de comunicação provocou demissões precipitadas e massivas no setor automotivo.
Outro caso lembrado foi o da queda do avião da TAM no aeroporto de Congonhas. Lula afirmou que aquele foi o seu dia mais triste no cargo de presidente da República. Ele comentou da forma como as notícias começaram a chegar, primeiro como se tivesse ocorrido um incêncio em um depósito do aeroporto, depois como um incêndio no depósito de cargas da TAM. Só se confirmou a queda da aéronave quando o presidente ligou a televisão. Ele contou sobre como a reportagens acusavam o governo de ser culpado pelo acidente, por negligência com as normas de segurança na pista de Congonhas. "Eu acho que eles pensaram assim, 'agora nós pegamos o Lula e trucidamos ele'. Depois que ficou patente, visível, que não era problema de pista, que foi um erro humano, foi um alívio", explicou.
A imprensa também foi criticada no caso da "bolinha de papel", quando então presidenciável José Serra fora supostamente agredido por militantes do PT durante caminhada no Rio de Janeiro. "No dia do papel, eu não ia me pronunciar, mas aí eu vi a reportagem mostrando toda aquela desfaçatez. Eu perdi três eleições, poderia ter perdido a quarta e a quinta, mas eu jamais faria algo como aquilo", contou o ex-sindicalista, que defendeu que o candidato derrotado deveria se retratar à população. "A violência foi o desrespeito ao povo brasileiro. Eu acho que o Serra tem que pedir desculpa, porque não se brinca com o povo brasileiro da maneira como aconteceu", concluiu."
FONTE: escrito por Guilherme Amorim no blog “Rede Brasil Atual” e transcrito no portal “Vermelho” ().[imagem adicionada por este blog. Obtida no blog “Cidadania.com", de Eduardo Guimarães].
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