domingo, 28 de novembro de 2010

CRUZEX V: ENTREVISTA COM O COMANDANTE DO DESTACAMENTO AÉREO CHILENO


                  A bela formação da FACh ao chegar em Natal

ENTREVISTA COM O GENERAL DE BRIGADA AÉREA CÉSAR MAC-NAMARA MANRÍQUEZ

“O General de Brigada Aérea César Mac-Namara Manríquez deve assumir em 2011 suas novas funções como Sub Chefe do Estado-Maior Conjunto da FACH (Força Aérea do Chile), além de ser promovido ao posto de General de Aviação. A decisão já foi aprovada pelo Presidente, o Sr. Sebastián Piñera Echenique. Tal introdução visa apresentar aos internautas leitores quem é este jovem e brilhante oficial aviador chileno, em um de seus últimos comandos operativos antes de assumir esta nova missão.

“DefesaNet“ recebeu o General na barraca da imprensa, oficialmente chamada de CMV (Communications, Media and Visitors) ou Comunicação Social do Exercício. Acompanhe as perguntas do Jornalista Roberto Caiafa nesta entrevista exclusiva:

DefesaNet: General, o senhor poderia fazer um breve histórico introdutório das suas atividades na FACH?

GBA MN:
Atualmente eu sou o Comandante da 1ª Brigada Aérea, comando de caráter extremamente operacional, localizada no norte do país; ao mesmo tempo, sou o Comandante Conjunto Norte, compreendendo os limites políticos das fronteiras com o Peru e a Bolívia, basicamente. Estou à frente desse setor nos últimos quatro anos.

DefesaNet: A Força Aérea Chilena teve a primazia de introduzir algumas das novas tecnologias da moderna guerra aérea no continente. Desde os tempos da modernização dos F-5E para Tiger III, até a decisão de adotar equipamento norte americano (em sua maioria), como o senhor analisa a evolução tecnológica da FACH e o seu preparo operacional dentro do contexto sul-americano?

GBA MN:
a Força Aérea do Chile, considerando os parcos recursos que dispõe, principalmente econômicos, decidiu se basear numa estratégia de defesa nacional orientada em privilegiar a qualidade sobre a quantidade. Quando começamos a investir neste rumo, buscamos como prioridade atingir o máximo grau tecnológico que nossos recursos pudessem pagar, ainda mais que o desenvolvimento de novos ciclos de armas impediria a nós de mantermos grandes arsenais estocados.

Portanto, nosso objetivo passou a ser concentrar nossos esforços numa Força Aérea de alta tecnologia, pequena, mas muito eficiente em sua operação. Essa passou a ser a nossa estratégia fundamental. Como conseqüência dessa decisão, a Força Aérea do Chile e seu governo anunciaram que seus principais sistemas de armas no âmbito aéreo seriam de procedência norte-americana.

DefesaNet: Como o senhor vê a participação chilena na CRUZEX e quais os pontos mais positivos que sua Força Aérea pode enumerar ao participar desta quinta edição do treinamento multinacional?

GBA MN:
A participação chilena na CRUZEX responde a uma excelente relação que existe entre Brasil e Chile, tanto no plano político quanto entre os dois povos. Na parte operacional, este exercício nos apresenta dois elementos, um deles é demonstrar nossas capacidades, como cumprir cinco horas e meia de voo desde Iquique até Natal (com dois REVOS – reabastecimento em voo), uma longa viagem feita por nossos caças e transportes de forma perfeita, a outra, aproveitar cada momento que temos aqui no Brasil para operar em conjunto com a Força Aérea Brasileira e as outras forças aéreas participantes. O intercâmbio que acontece em aspectos como diferenças nas operações de cada avião, a interação entre os oficiais, e tantos outros detalhes e repasses de conhecimentos, tudo é muito válido.

Como exemplo, posso citar o General Dominique De LongVilliers, Comandante do Destacamento Aéreo Francês nesta CRUZEX V. Eu o conheci 11 anos atrás, quando voamos em um exercício realizado no Chile, o “Salitre”, (conhecido como MERMOZ na França). Na época, eu era Chefe do Estado Maior da Brigada onde acontecia este treinamento e o General De LongVilliers era o Comandante do esquadrão francês. Portanto, são criados laços de conhecimento que podem vir a ser utilizados no futuro.

DefesaNet: O F-16C/D Block 50 representa um dos top de linha da aviação de caça, em se falando de América do Sul. Como o senhor avalia sua aeronave e seus pilotos frente a aviões de 4ª geração como o Rafale?

GBA MN:
Nesta CUZEX V pudemos ter experiências com os caças Mirage 2000-5 (N.E: versão do tipo que o Peru pretende para modernizar os seus Mirage) e o novíssimo Rafale. E pudemos comprovar na prática que temos uma muito boa capacidade. Nosso treinamento e nossos sistemas de armas estão num nível de desenvolvimento tecnológico e operacional adequados.

É verdade que o Rafale se mostrou superior em alguns aspectos frente aos F-16 Block 50, mas a boa resposta que obtivemos pode ser resumida em ”com bom treinamento e bom equipamento conseguimos obter um rendimento muito significativo contra uma aeronave da chamada 4ª geração”.


                F-16 Block 50

DefesaNet: Pegando um gancho na sua resposta, como o senhor analisa o impulso de pioneirismo chileno na introdução de tecnologias como mísseis BVR e os HMD (Helmet Mounted Display). Esta busca pela excelência tecnológica atingiu seus objetivos? O desempenho dos pilotos chilenos em exercícios e operações de coalizão como a CRUZEX pode ser medido por este viés?

GBA MN:
A definição de possuir uma vantagem tecnológica reside em ter a capacidade de proporcionar a nível político uma ferramenta militar que poderá ser utilizada em ambientes mais exigentes, como por exemplo, operações de coalizão com países de primeiro mundo.

Uma nação pequena como o Chile poderia almejar participação neste tipo de operação militar, e obter sucesso, exatamente devido ao domínio tecnológico de seus meios de emprego e sistemas de armas. O processo evolutivo passou inicialmente pela modernização de nossos F-5E para o padrão Tiger III (tecnologia israelense) e as várias participações desta aeronave em exercícios do tipo RED FLAG nos EUA.

Vimos que havíamos galgado um bom passo, mas também decidimos que não alcançaríamos o próximo, o domínio pleno da guerra aérea, caso não trocássemos na 1ª linha de nossa força de caças, aeronaves modernizadas, mas antigas, por jatos projetados e construídos como verdadeiros vetores de tecnologia. Este processo se consolidou com a compra dos F-16C/D Block 50 e seus sistemas de armas, e na seqüência, com a aquisição dos F-16AM/BM MLU anteriormente operados pela Real Força Aérea Holandesa.

Quanto às capacidades dos pilotos, tanto chilenos quanto dos outros países que participam desta CRUZEX, posso dizer que, obviamente, a última tecnologia sempre vai ser a melhor. Mas se você não sabe como usar esta tecnologia, não cumprirá a missão.

Veja os uruguaios com seus Pucará, eles sabem o que devem fazer, e cumprem a missão que recebem do JFAAC com muita eficiência, mesmo se considerarmos as diferenças de desempenho dos IA-58 da Força Aérea Uruguaia para os jatos utilizados pelos outros países. No entanto, seus pilotos estão no mesmo nível intelectual e de conhecimento da guerra aérea, se comparados com os pilotos de Forças Aéreas como a Norte Americana ou a Francesa. A diferença é o Hardware que eles têm nas mãos.

A dificuldade imposta pelo treinamento e a seriedade com que os pilotos se dedicam ao cumprimento de suas missões fazem de todos os melhores. Temos muito orgulho de representar o povo e a bandeira do Chile no Brasil, a cada edição da CRUZEX.”

[Veja vídeo sobre a CRUZEX V: http://www.youtube.com/watch?v=KK_tqm1FegY]

FONTE: reportagem de Roberto Caiafa, enviado Especial da “DefesaNet” à CRUZEX (Fotos: R Caiafa). Publicada no site “DefesaNet”
(http://www.defesanet.com.br/01_lz/op_cruzex_v/fach_1.htm).

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