quinta-feira, 11 de novembro de 2010

REAL É MOEDA MAIS VALORIZADA NO G-20, DIZ O BIS



“O real é a moeda mais valorizada entre os países do G-20, grupo que reúne as maiores economias do mundo. Enquanto a moeda brasileira se valorizou bastante desde 2008, o dólar americano se desvalorizou, e o yuan chinês foi pouquíssimo apreciado em termos reais. É o que mostra um índice compilado pelo Banco Internacional de Compensações (BIS), espécie de banco dos bancos centrais, com sede em Basileia (Suíça).

Às vésperas da cúpula do G-20, o tema central da agenda é buscar um acordo para frear mais desvalorizações competitivas de grandes países, que estimulam suas exportações e ameaçam provocar fortes reações protecionistas.

O BIS calcula a taxa de câmbio efetiva real (EER) de 58 países e da moeda única europeia. A EER representa a média cambial da moeda de um país relativa a uma cesta de outras moedas ajustadas pelo preço ao consumidor. Se o ranking da moeda está abaixo de 100, significa que está desvalorizada e tem espaço para se apreciar.

Nesse contexto, a taxa de câmbio efetiva real era de 148,1 por unidade do real, numa valorização veloz desde os 127,74 em setembro de 2008 e 111,2 em outubro.

Já o yuan chinês se manteve quase estável: estava em 122,99 em setembro de 2008 e caiu para 119,65 dois anos depois, apesar da pressão internacional para que Pequim valorize sua moeda.

No caso do dólar americano, houve desvalorização: a taxa efetiva real era de 96,22 por unidade e caiu agora para 89,41.

EUA e China chegam à cúpula do G-20 na defensiva. A moeda americana desvalorizou 5,8% em termos efetivos (trade weighted) desde agosto, quando surgiu a possibilidade de novo afrouxamento monetário. Isso fez investidores pegarem dólar barato para apostar em mercados emergentes, pressionando as moedas locais e criando bolhas de ativos.

Para se ter uma ideia da apreciação do real, basta comparar com o índice do peso mexicano, que chegou a 89,25, ou do euro, com 93,95. A moeda indiana fica com 105,13. As moedas mais desvalorizadas são a libra britânica, com 81,23 por unidade, seguida pelo won da Coreia do Sul, com 81,6.

Por sua vez, o iene japonês se valorizou ligeiramente, chegando a 103,95 apesar das bilionárias intervenções do BC japonês.

Até agora, o Brasil e outros nove países adotaram algum tipo de controle de capital. A expectativa é de mais medidas para frear o fluxo atraído pelas economias dinâmicas e com juros internos elevados.

A presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, chega hoje a Seul, para participar da cúpula, defrontando-se com a situação excepcional do real comparada a grandes parceiros ou concorrentes do país.

No G-20, os líderes vão reafirmar o compromisso de evitar desvalorização competitiva das moedas e procurar taxas determinadas pelo mercado. Para evitar a guerra cambial, deve sair um acordo sobre “parâmetros indicativos” para avaliar as economias dos países do G-20, mas poucos acreditam que isso dará resultados tão cedo.

A Unctad alertou ontem que a guerra cambial só pode ser evitada por um acordo multilateral para corrigir o caos que tomou conta do sistema monetário internacional.

Mas Paul Volcker, ex-presidente do Fed (BC americano), manifestou forte descrença na possibilidade de um verdadeiro acordo global tão cedo. Acha que o mais provável é mesmo que o mundo se divida gradualmente em zonas monetárias: a Europa, com o euro; a Ásia, dominada pelo yuan; e o dólar nas Américas.”

FONTE: reportagem do jornal “VALOR Econômico”, em Seul-Coreia. Transcrita no blog de Luis Favre (http://blogdofavre.ig.com.br/2010/11/real-e-moeda-mais-valorizada-no-g-20-diz-o-bis/).

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