quinta-feira, 18 de novembro de 2010

TOURAINE ELOGIA FHC E DESDENHA O BRASIL



Esse francês pensa que o FHC inventou o Brasil

O ‘Conversa Afiada’ tem o prazer de reproduzir artigo de Mauro Santayana no Jornal do Brasil.

Ele trata do “velhinho desempregado que o FHC trouxe ao Brasil com os Chicago boys do Pinochet”.

Observe, amigo navegante, como o Mauro é especialmente crítico da observação do francês que atribuiu a FHC a fundação das instituições brasileiras.

Desde a Abertura dos Portos do Visconde de Cayru à Lei Áurea.

Esse FHC faz cada uma …

Ainda vai inventar a Lei da Gravidade.

Vamos ao Mauro:

TOURAINE ELOGIA FHC E DESDENHA O BRASIL

Por Mauro Santayana

“A sociologia costuma amparar-se na abstração: vale-se de elementos estatísticos e da generalização dos comportamentos humanos. Seu pecado, já apontado por estudiosos, é o de, no exame dos fenômenos políticos, abandonar o fundamento ético das sociedades estatais, que é o da legitimidade do poder – como bem lembrou o filósofo alemão Manfred Riedel.

O sociólogo Alain Touraine é dos mais respeitados intelectuais contemporâneos, e se especializou na América Latina, ainda que conheça bem a realidade europeia e, ‘cela va sans dire’, a de seu próprio país. Prefere, sem embargo, a nossa modesta situação histórica à da Grande França, de que é cidadão. Esse, aliás, é um costume muito francês. Recordo-me de haver assistido a uma conferência de Régis Debray em Havana, em 1966, na qual o jornalista – que se considera filósofo – propunha “estratégia revolucionária para a América Latina”. Um jovem comunista cubano perguntou-lhe sobre o que proporia como estratégia revolucionária na França. Debray, que fizera recente viagem de alguns meses ao nosso continente, como jornalista, e a serviço da revista ‘Revolution’, ligada aos chineses, disse que não entendia bem a situação da França. O jovem levou o auditório às gargalhadas, ao indagar ao conferencista, que nascera em Paris, e ali vivera toda a sua vida, por que não entendia da política francesa tanto quanto da América Latina, se passara tão pouco tempo entre nós.

Não é bem o caso de Touraine. Mas é curioso que tenha vindo ao Brasil, a fim de participar de um seminário técnico sobre planejamento urbano, patrocinado pela Emplasa, uma empresa estatal do governo paulista, a fim de tratar da “decadência das sociedades ocidentais”.

São surpreendentes as declarações que fez aos jornais, porque elas revelam algumas contradições. Ao expor dúvida quanto ao nosso futuro, sob a presidência de Dilma Rousseff, afirma que, em oito anos de governo, “Fernando Henrique construiu as instituições”, como se o Brasil fosse um vazio institucional antes de 1995.

O que Fernando Henrique fez foi exatamente destruir a Constituição de 1988, e a Constituição é a primeira das instituições republicanas. Ele se entregou, com entusiasmo, à globalização que, segundo o mesmo Touraine, significa “o fim da sociedade”, e só resta “o mercado puro”. O sociólogo brasileiro desmoralizou, ainda mais, o Parlamento, ao cooptá-lo a fim de estabelecer a reeleição, e desmantelar o sistema cautelar de proteção aos bens nacionais, ao “privatizar” as empresas estratégicas do Estado, doando-as aos escolhidos. O ex-presidente manipulou a opinião pública, mediante os expedientes que se conhecem, nem todos honrados e ainda que nem todos espúrios, como são os meios de comunicação social, os intelectuais “orgânicos” ou solitários, e os centros acadêmicos.

Disse ainda Touraine, em observação óbvia, que a Europa se tem dedicado, nos últimos 20 anos, a eliminar “significados”. E dá o exemplo: o desenvolvimento industrial foi eliminado pelo mercado financeiro, substituído pelo sistema de “o dinheiro pelo dinheiro”. Nessa particular eliminação de significado, como sabemos, o governo de Fernando Henrique foi perfeito.

Consideramos deselegante – e ofensiva – a sua afirmação de que o sistema político brasileiro “é horrível, corrupto”. A corrupção, que estamos combatendo, não é endemia brasileira, mas doença universal. Como outros costumes, esse também veio da Europa. Ele conhece muito bem isso, na França do passado – como no caso do Canal do Panamá – e na França sob o governo de Sarkozy.

Se o grande intelectual francês dedicasse ao exame do seu governo o mesmo interesse que dedica ao Brasil, na certa seria mais cético em relação ao seu país, do que com respeito ao nosso. É a modesta sugestão que podemos fazer à sua excepcional inteligência”.

FONTE: portal “Conversa Afiada” (http://www.conversaafiada.com.br/mundo/2010/11/17/santayana-touraine-elogia-fhc-e-desdenha-o-brasil/).

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