terça-feira, 1 de março de 2011

BELO MONTE E AS HIDRELÉTRICAS


Por Marco Aurélio Moreira Saran

“Cada vez que vejo ou leio uma notícia sobre protestos, manifestações e outros abusos cometidos por quem diz ser defensor do meio-ambiente e contra a construção de usinas hidrelétricas, me faz achar que estão todos loucos e me sinto obrigado a fazer comentários.

Numa coisa possuem razão, as barragens afetam grande área e a vida de inúmeras pessoas, plantas e animais. E muitas decisões políticas, técnicas e sociais poderiam ser tomadas para minimizar esse impacto e tornar a instalação de uma hidrelétrica menos prejudicial e melhor para todos.

Porém, dizer que as usinas são fruto da exploração internacional por busca de energia?

Comparar elas aos casos antigos das usinas construídas para as empresas de alumínio?

E diversos outros absurdos propagados como verdades absolutas são ridículos. É preciso ser muito mal informado e estar alheio às condições nacionais e internacionais, ter falta de bom senso e conhecimento técnico mínimo para dizer, pior, escrever algumas asneiras difundidas na mídia, congressos, fóruns, entre outros.

Isso é coisa de pessoas com tendências radicais e não dispostas a argumentação sensata.

A demanda por energia elétrica e a segurança do fornecimento elétrico nacional estão esbarrando nos limites de se obter mais geração e transmissão, que digam os últimos apagões. Se não for investido em novas usinas geradoras haverá novo apagão dentro de poucos anos, com possíveis racionamentos e prejuízo a todo o país.

As usinas hidrelétricas podem não ser a melhor coisa do mundo, nem mesmo a melhor possível, mas eu pergunto aos responsáveis por esses ataques contra as pessoas e empresas empenhadas no desenvolvimento do país através das hidrelétricas: Qual é a solução para gerar tamanha potência elétrica? E é eficiente, segura e com custos reduzidos?

Imaginem a poluição que uma térmica ocasionaria para continuamente gerar montante de potência igual ao de Belo Monte ou das usinas do Rio Madeira! E qual seria o custo disso? Seria preciso queimar muito petróleo para atingir esse objetivo. É fato que usar combustíveis para gerar energia é muito mais prejudicial ao ambiente e ao bolso do consumidor, não há como discordar disso.

Se uma usina térmica não é a solução, então qual é? Uma Nuclear? Pois bem, mais uma onda de radicais vão irromper o salão para demonizar tal solução. Porém é a que menos causa impacto em relação à capacidade total de geração e o Brasil tem enormes reservas de urânio e domina todo o ciclo de produção.

Além disso, com as novas tecnologias os riscos são mínimos, o armazenamento dos resíduos é seguro e o reaproveitamento tem se tornado cada vez mais discutido, com potencial para ser eficiente e limpo.

Tudo bem, assumindo que não iríamos usar hidrelétricas, nem mesmo termelétricas ou nucleares, então usar o que? Muitos responderiam: Eólicas, Solares, Maré motrizes etc. As famosas e excelentes renováveis!

Concordo totalmente! Deve-se investir em tecnologias e formas de gerar energia de forma renovável. São excelentes e com certeza no futuro temos que ter muitas delas para reduzir a dependência e o consumo de combustíveis e melhor aproveitar as hidrelétricas. Mas para conseguir uma capacidade de geração igual ao complexo do Rio Madeira, na ordem de 6.000.000 watts, é desconcertante e praticamente impossível em médio prazo. E as eólicas e solares têm grande problema, a disponibilidade da sua fonte.

As eólicas dependem do vento: Que hora vai ter vento? De quanto vai ser esse vento? Só uma brisa não adianta! E as solares dependem do sol: E se as nuvens cobrirem o céu? Como fica a geração solar? Além de não gerar a noite.

Ficamos à mercê do clima, isso é totalmente inseguro e demanda investimento em reservas operacionais (usinas térmicas). Assim, ou o sistema elétrico fica exposto, vulnerável e com produção oscilante, ou então se usam mais térmicas para compensar esses efeitos.

Nenhum país do mundo remete sua base energética aos renováveis numa proporção muito grande, a não ser que o consumo total seja pequeno, o que não é o caso do Brasil.

E então? Qual a solução?

Sinceramente ainda acho que o aproveitamento hidráulico bem projetado, executado e operado é disparado a melhor opção. Com grande capacidade de geração elétrica, não gera poluição por queima de combustíveis, não gera resíduos radioativos e o Brasil tem ainda muita capacidade que pode ser explorada.

O real problema é como as coisas são feitas por aqui. Se o governo realmente se importasse com a sociedade, se os órgãos ambientais tivessem os fatos explanados em mente, as coisas poderiam ser diferentes. Mas para isso o desenvolvimento do país e o benefício total à sociedade devem ser o objetivo e a meta primordial de todos os processos.

Será que ninguém percebe que reduzindo a capacidade de geração elétrica do complexo do Madeira, Belo Monte e futuros projetos, para “reduzir” os impactos ambientais vai implicar na necessidade de construção de uma nova usina em outro lugar para cobrir aquela diferença?

Faço grandes usinas com capacidade de geração superreduzida, para minimizar os problemas e impactos ambientais e acabo precisando provocar mais impactos em outros lugares. Além disso, ainda reduzo a capacidade futura de aproveitamento, porque deixei de utilizar a real capacidade de muitos locais.

Uma barragem com reservatório é como uma pilha recarregável gigante, é energia armazenada. Já usinas a fio d’água, que funcionam com a vazão da água do rio, sem reservatórios, possuem o mesmo problema das eólicas e solares, a produção não é garantida, pois não há segurança da disponibilidade de água suficiente para gerar energia.

Continuo a acreditar que fazer uma usina com grande reservatório, gerando uma enormidade de potência e bem projetada, que consiga administrar bem os impactos ambientais, é melhor do que fazer inúmeras usinas de capacidade reduzida, a fio d’água, sem reservatório. Estas reduzem o impacto local, mas no quadro total provocam um impacto maior ainda, pois será necessário investir em novas usinas para suprir a diferença que ter um bom reservatório faria.

Não vou nem mesmo entrar no mérito da questão de que o lago da represa pode proporcionar muitas atividades econômicas, turísticas e recreativas.

Posso ter feito equívocos até mesmo graves e peço perdão por eles, mas esta é a minha visão e peço que alguém utilize bons argumentos e me convença do contrário.

Mas que, ao fazer isso, não se utilize de fanatismo e radicalismo, sem se utilizar de retóricas falsas, discursos prontos ou copiados, sem embasamento, propagadas, exaladas por alguns ditos defensores do meio-ambiente ou de um movimento qualquer em defesa de algo.

E viva as hidrelétricas! Uma tecnologia que utiliza as básicas e não poluentes energias potencial e cinética da água para movimentar turbinas e assim gerar energia elétrica.”

FONTE: escrito por Marco Aurélio Moreira Saran, Mestre em Ciências em Engenharia Elétrica. Publicado no site “DefesaNet” (http://www.defesanet.com.br/pensamento1/saran.html).

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