domingo, 5 de junho de 2011

CRISE DO ETANOL NÃO É SAFRA. É ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS


Por Brizola Neto

“'Tá' tudo muito bem, 'tá' tudo muito bom, o etanol baixou –até a ANP percebeu isso– e estamos todos resolvidos. Estamos?

Conversa fiada, o etanol está muito caro.

Ano passado, por esta época, não batia R$ 0,73 por litro, contra R$ 1 real por litro de hoje, no preço pago às usinas.

Ponha aí 10% de inflação –muito mais que a real acumulada- e o preço seria de R$ 0,80 por litro.

Isso dá aumento de perto de 25% em valores nominais ou 18,3% em valor real, descontada a inflação.

O preço não caiu mais porque, como é legítimo dentro das “leis de mercado”, os grandes produtores estão vendendo menos do que produzem.

Porque agora podem, até com financiamentos públicos, estocar. Estocando, podem vender a preços melhores na entressafra.

E o “livre mercado” não pode controlar isso? Não, porque metade da produção está concentrada em cerca de 30 empresas.

A ANP faz pressão para que o BNDES financie a construção de tanques nas usinas. Coisa pouca, “só” R$ 3 bilhões. E os próprios fabricantes de tanques dizem que, de tanques de um milhão de litros, as usinas agora querem tancagem de 10, 20 e até 40 milhões de litros de etanol.

Tanques que chegarão na entressafra abarrotados, para aproveitar ao máximo a alta de preços. E que, ao serem enchidos no período da safra, ajudarão a “segurar” a oferta e, com ela, os preços.

A Presidenta Dilma assinou, há mais de um mês, Medida Provisória que dá à ANP o poder de controlar a produção e os estoques de etanol. A ANP colocará isso em prática no dia seguinte ao de ‘São Nunca’.

A Petrobras desenvolver capacidade própria de tancagem é essencial, mas não é o suficiente. As usinas têm de ser obrigadas a vender na safra o que produzem ou, se estocarem, a vender a preços administrados. Ou seja, podem guardar etanol, mas, ao vender o que têm guardado, devem ser impedidas de fazê-lo com mais –e muito mais– lucro que se o tivessem colocado no mercado.

Ninguém está, é claro, advogando solução primária daquele tipo de “ir laçar boi no pasto”, com a cana agora no lugar do boi. Mas tem-se de encontrar maneiras de “punir” financeiramente a estocagem especulativa, que as grandes usinas fazem e, claro, os pequenos e médios produtores não fazem.

O mercado sucroalcooeleiro sabe muito bem disso. Veja o que saiu há poucos dias no site “Brasilagro”, especializado em agronegócios:

Liberdade de mercado” é isso aí. Se não houver auditagem pública dos estoques, estabelecimento de cotas de comercialização e capacidade estatal, via Petrobras, de manter estoques em volume capaz de interferir em surtos especulativos na oferta, o drama dos preços do etanol fica igual ao carnaval: um ano,um pouco mais cedo, noutro ano, um pouco mais tarde, mas todo ano tem.”

FONTE: escrito por Brizola Neto em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com/crise-do-etanol-nao-e-safra-e-estrategia-de-negocios/).

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