quinta-feira, 30 de junho de 2011

DILMA FEZ UM GOL NA BANDA LARGA

Em seis meses de governo, uma negociação com as teles resultou em levar a internet ao "andar de baixo"

Por Elio Gaspari, na 'Folha' [entre colchetes deste blog]:

"O governo desatou o nó da expansão do acesso à internet de banda larga em todos os municípios brasileiros. No anedotário de Brasília, essa iniciativa era conhecida como "Xodó 2.0" de Dilma Rousseff. É boa notícia para ninguém botar defeito. Depois de negociação com as operadoras, chegou-se a acordo pelo qual até 2014 todas as cidades brasileiras terão conexões rápidas. Cumprida a meta, será uma das joias da coroa do atual governo. O serviço, com 1 megabyte de velocidade, custará R$ 35 por mês, ou R$ 29, caso os governos estaduais abram mão da cobrança do ICMS.

A internet brasileira vive num estado de apagão geográfico, social e econômico. De cada quatro municípios, um não tem conexão de cabo. Ela só atende a 27% dos domicílios e, quando o faz, a ligação custa na média R$ 48 por mês, segundo o sindicato das operadoras. Há, pelo menos, seis anos o governo tentava expandir essa rede, mostrando que ela traça uma linha de exclusão, deixando de fora regiões, bairros e domicílios do andar de baixo.

Embrulhadas na [enganosa] bandeira da “infalibilidade do mercado”, as operadoras diziam que não havia como investir onde não há retorno. Para resolver esse problema, queriam avançar sobre uma parte dos R$ 9 bilhões entesourados pelo “Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações”.

Enquanto o governo aceitou passivamente as “leis da privataria” [de FHC/PSDB/DEM/PPS], o apagão persistiu. Repentinamente, mudou-se a conversa. Se a iniciativa privada não podia fazer o serviço, a Telebrás voltaria ao mercado, fazendo-o. Mais: havia empresas estrangeiras interessadas no negócio. Nesse cenário, as teles ficariam no pior dos mundos, carregando a urucubaca da ineficiência produzida pela ganância. Fez-se um acordo e todo mundo ganha, sobretudo o brasileiro que não tem acesso ao serviço.

Quando o governo faz seu serviço, as coisas acontecem. Em 1995, a Embratel estatal tinha o monopólio do acesso à internet. Havia [somente] 30 mil pessoas na fila, e os teletecas prometiam zerá-la já no ano seguinte. Era o tempo das estatais que faziam [quase sempre bem] o que bem entendiam [Petrobras, Embraer, Banco do Brasil, Vale, CEF etc] . O tucano Sérgio Motta jogou detergente no dilema, “liberou o mercado” e a rede aconteceu [não por causa dele, obviamente, mas pelo crescimento da internet no mundo]. [A "infabilidade do mercado" solto inexoravelmente causou seus estragos:] passaram-se 11 anos e a situação inverteu-se: as concessionárias privadas fazem o que bem entendem, mas, no caso da banda larga, a ação do Estado [agora] induziu-as a mudar seus costumes.

Ficam na fila os concessionários de energia elétrica [também vítima das 'leis da privataria'] e de transportes.

A conexão de R$ 35 não chegará de uma vez e pode-se temer que venha com velocidades inferiores ao megabyte prometido. (Quem quiser mais velocidade continuará pagando caro, mas esse limite dá para o gasto de um usuário médio). O que parece ser um problema será uma solução, pois a patuleia ganhará o direito de cobrar. Se a rede não chegar a um bairro ou a um município, o governo ficará na posição de ter feito propaganda enganosa. Se chegar, mas for lenta, a operadora terá que se explicar.

O mais importante está feito: pelas regras do jogo, o brasileiro terá acesso à banda larga, sem estar amaldiçoado por ter pouca renda ou por viver numa localidade pobre. Hoje, há 14 milhões de pontos de banda larga no país. Se eles chegarem a 20 milhões, o Brasil encostará nos números franceses de 2009.”

FONTE: escrito por Elio Gaspari e publicado na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2906201116.htm) [imagem do Google e entre colchetes adicionados por este blog].

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