terça-feira, 28 de junho de 2011
IMIGRANTES LATINO-AMERICANOS FOGEM DA ESPANHA PARA O BRASIL
“Entre 2003 e 2007, a Espanha recebeu dezenas de milhares de imigrantes, mas a crise econômica que persiste no país está alterando o fluxo migratório. Sem emprego no presente e sem perspectivas para o futuro, os estrangeiros procuram saídas em outros lugares. E o Brasil virou meta para trabalhadores latino-americanos de modesta qualificação profissional.
De acordo com quatro relatórios que investigam as respostas dos imigrantes diante da crise, o Brasil aparece entre os três destinos preferidos de sul-americanos hispânicos (junto com Estados Unidos e Argentina) como opção para conseguir emprego.
Uma pesquisa da agência de empregos ‘Randstad’ revelou que 65% dos imigrantes ilegais na Espanha estão pensando ou decididos a trocar a Europa por outro mercado se não encontrarem trabalho até 2012.
Os estudos antecipam fluxo que já pode ter começado. Em 2010, pela primeira vez nos últimos 35 anos, a Espanha registrou taxa de saída de população ativa maior do que a de entrada.
No ano passado, 48 mil imigrantes chegaram e 43 mil estrangeiros retornaram aos seus países de origem, mas 90 mil espanhóis também foram morar no exterior.
O ritmo de redução é tão vertiginoso que, em cinco anos, o fluxo de chegada pode ser praticamente nulo. Pelas previsões da ‘Fundação de Estudos de Economia Aplicada’, se a crise se mantiver como agora, em 2014 chegariam apenas 3 mil imigrantes.
SAÍDAS
Josep Oliver, professor de economia da ‘Universidade Autônoma de Barcelona’ e um dos autores do ‘Anuário de Imigração da Espanha’, do Ministério do Interior, disse à BBC Brasil que “80% dos imigrantes não têm outras saídas além do aeroporto rumo a mercados com melhores opções, como o Brasil, que oferece oportunidades sólidas”.
A pesquisa ‘Mobilidade Laboral’, da ‘Randstad’, indica que a Espanha perdeu interesse para o trabalhador estrangeiro de baixa formação.
A razão é o perfil desses imigrantes, cujos currículos se limitam a ofícios relacionados a áreas que não se reativam, como serviços e construção.
O setor de construção foi precisamente o que detonou a crise de desemprego. De 2008 a 2010, mais de 200 mil empresas do ramo quebraram. Empregavam 70% dos imigrantes sul-americanos, segundo dados oficiais.
Os estrangeiros entrevistados na pesquisa responderam que querem sair da Espanha, mas temem crises políticas e econômicas na América Latina e só veem bonança financeira no Brasil, onde criticam a falta de segurança pública.
Mas, ainda assim, estão convencidos de que se não encontrarem emprego até 2012, o caminho é o aeroporto. Estados Unidos, Brasil ou Argentina, na ordem dos mais votados.
ALTA FORMAÇÃO
O Brasil também aparece como opção para espanhóis de alta formação.
Um estudo elaborado pela consultora ‘Adecco’ e pela ‘Universidade de Navarra’ indica que os espanhóis com alto grau de formação e que também foram atingidos pela crise colocam o Brasil como um dos seis destinos preferidos para emigrar por emprego.
O mercado brasileiro é visto como opção para 55% dos entrevistados, junto com Alemanha, França, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Argentina.
O perfil médio dos interessados em cruzar o Atlântico é de homens, entre 25 e 35 anos, com formações em engenharia, arquitetura, informática, medicina, biologia e investigação científica.
“Que engenheiro ou arquiteto não quer ir para o Brasil, de olho nas obras de infraestrutura? Está tudo por fazer, e agora há também recursos, referências de empresas espanholas já estabelecidas e a abertura ao (idioma) espanhol”, disse à BBC Brasil o professor de Economia da ‘Universidade de Navarra’ Sandalio Gómez, autor do relatório apresentado em janeiro.
“Essas pessoas entendem que insistir aqui é uma perda de tempo. O Brasil cresce a uma velocidade que não se compara a nenhum país da Europa”, concluiu.
Os dados do ‘Instituto Nacional de Estatística’ confirmam a tendência. Até janeiro de 2011, havia 1,8 milhão de espanhóis morando em outros países; 92.260 no Brasil, aumento de 10.071 pessoas em um ano no território brasileiro.
DESENVOLVIMENTO DESIGUAL
Refletindo o desenvolvimento desigual das nações, o Brasil, de fato, está crescendo a taxas bem mais elevadas do que a média européia. Junto com o PIB, cresce também a oferta e o nível de emprego, principalmente no ramo da construção civil, alavancada pelas obras do PAC.
Na Espanha, ocorre justamente o contrário. Atolada no pântano da crise da dívida externa, a nação ibérica está às portas do FMI, que já adentrou a fronteira, conduz o vizinho Portugal ao caminho do inferno e está causando horrores na Grécia.
A Espanha, que no momento também amarga um programa de arrocho fiscal, é a campeã do desemprego europeu, exibindo taxa de desocupação equivalente a 20% da ‘População Economicamente Ativa’. Até nos lembra a tenebrosa era FHC/PSDB, quando o desemprego alcançou nível semelhante nas principais regiões metropolitanas do Brasil.
PROBLEMAS
Mas, apesar das oportunidades, o país perde para outros destinos em vários quesitos.
Os entrevistados da pesquisa ressaltam insegurança, falta de serviços públicos de qualidade, instabilidade econômica e jurídica para quem quer criar negócio próprio e a distância de seus lugares de origem como barreiras a levar em consideração.
O governo espanhol reforça essas conclusões. A diretora-geral do Departamento de Emigração (que estuda as condições dos espanhóis em outros países), Pilar Pin, define como impedimentos as carências nos sistemas de seguro-desemprego, rede púbica de saúde e educação e a legislação trabalhista.
Em relatório oficial apresentado em maio depois de uma visita a Brasília, Pin afirmou que o Brasil tem “enorme potencial com seus iminentes eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, além de obras para abastecimento de energia, proteção ambiental e turismo".
Apesar disso, o relatório observa: “A legislação de implantação de empresas no Brasil é restritiva demais. Nossos trabalhadores vão com licença de obra. No final do contrato, encontram muitas dificuldades para estabelecer-se por conta própria”.
Mesmo assim, segundo o relatório, as autoridades brasileiras calculam que faltam 1,9 milhão de profissionais de maior qualificação. Uma lacuna que talvez os espanhóis possam ajudar a preencher.”
FONTE: portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=157221&id_secao=2) [imagem do Google adicionada por este blog].
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