segunda-feira, 20 de junho de 2011

CUIDADO! MARCHAS “PELA DEMOCRACIA” E “PELA LIBERDADE” TAMBÉM SERVEM PARA MALDADE


[OBS deste blog democracia&política:

Todos sabemos que os Estados Unidos e seus aliados utilizam o engodo de lutar pela “democracia” (democracy) e pela “liberdade” (freedom) para cometerem as maiores atrocidades mundo afora, disfarçando objetivos egoístas, como roubar petróleo, apropriar-se de bilhões de dólares, controlar regiões de alto valor estratégico e muitos outros, a custa de milhões de mortos.

Todos sabemos que a 'guerra global contra as drogas' empreendida pelos EUA fora de suas fronteiras é uma fraude.

Sábado (18/6), aqui postamos artigo do analista político norte-americano Mike Whitney, de Washington-EUA, intitulado “O Papel Interesseiro de 'Wall Street' no Narcotráfico”, onde evidencia que a 'guerra contra as drogas' não tem a ver com “proibição” do negócio mundial das drogas, mas, sim, com seu “controle”. Washington emprega a sua gigantesca força militar, política e de mídia internacional para que os bancos norte-americanos possam auferir gigantescos lucros, da ordem de trilhão de dólares. Diz o analista: “Todos os principais bancos dos EUA se tornaram sócios financeiros ativos dos cartéis da droga”.

Essa revelação, também torna mais claros alguns fatos aparentemente incompreensíveis e não-interligados.

Por exemplo: nos anos 90, o regime Talibã baniu do Afeganistão o cultivo do ópio, do qual é extraída a heroína. A produção caiu a zero em julho de 2001, dois meses antes do ainda não esclarecido atentado às torres gêmeas de Nova Iorque. O comércio mundial daquele produto, que somente nos EUA move dezenas de bilhões de dólares por ano, ficou arrasado. Bancos faliram. Para o consumidor, os preços dispararam, inviabilizando a sua comercialização e causando o desespero dos seus comerciantes, dos políticos por eles ajudados, dos bancos e dos viciados consumidores norte-americanos.

Plantação de papoulas (matéria-prima do ópio e heroína)

Em poucos meses de invasão norte-americana “na caça ao terrorista Bin Laden” [sic], os EUA devastaram o Afeganistão, com poder impressionante, com milhões de toneladas de bombas e mísseis moderníssimos. Até o seu subsolo, suas cavernas, suas montanhas foram explodidos por novas e poderosas bombas que tudo esfarinhavam como um grande terremoto.


Aquele país atacado, cujos progresso e infraestrutura o assemelhavam ao interior do Piauí, e o seu centro comercial parecia feira livre da periferia de Caruaru-PE, foi completamente destroçado, com dezenas de milhares de civis afegãos mortos. Até hoje, a matança continua. O país está totalmente ocupado pelas numerosas, crescentes, modernas, mortíferas e poderosíssimas Forças Armadas dos EUA e de seus aliados.

Kandahar, Afeganistão

Contudo, o surpreendente e incompreensível para este blog é o Afeganistão -mesmo policiado palmo a palmo por forças que se intitulam com o nobre “direito de combater o terror e o narcotráfico no mundo” [sic]-, após arrasado pela invasão norte-americana, ter rapidamente recuperado e gigantescamente aumentado a lavoura, a produção e a exportação do ópio. Já em 2008, voltava a responder por quase 100% da produção mundial. Assim, os preços, antes elevados por conta da eliminação das lavouras pelos talibãs, já baixaram e os suprimentos de heroína estão normalizados nos EUA e nos demais grandes mercados consumidores...

Apenas para exemplificar, relembro trechos de um artigo da agência britânica de notícias BBC, de 03/09/2006, que tratou desse surpreendente e exponencial crescimento da produção de papoula, ópio e heroína após a invasão norte-americana. Transcrevo:

CULTIVO DE ÓPIO NO AFEGANISTÃO AUMENTA 59% NO ANO” (de 2006)

Da BBC:

O cultivo de papoulas no Afeganistão -matéria-prima para a produção de ópio- deverá aumentar em 59% neste ano [2006], representando 92% da produção mundial da droga, de acordo com as Nações Unidas.”

Com esses exemplos, as palavras recentes do analista norte-americano Mike Whitney no artigo acima citado, tornam-se ainda mais claras. Repito-as: “Washington emprega a sua gigantesca força militar, política e de mídia internacional para que os bancos norte-americanos possam auferir gigantescos lucros, da ordem de trilhão de dólares. Diz o analista: “Todos os principais bancos dos EUA se tornaram sócios financeiros ativos dos cartéis das drogas

Por fim, todos sabemos, também, que a ‘grande’ mídia brasileira e nossos partidos da direita (PSDB, DEM e PPS) são, desde os anos 90, tradicionais e fiéis colaboradores dos interesses norte-americanos, especialmente dos seus grandes grupos econômicos e financeiros.

Assim, encaro com cuidado e desconfiança o recente crescimento da campanha para a legalização e a descriminalização das drogas cujo comércio hoje é proibido (maconha, ecstasy, crack, cocaína, heroína etc), sem distinções.

Nossa direita americanófila e seus jornais difundem o conceito de que manifestar-se a favor e liberar o comércio das drogas é um “direito democrático”, é “liberdade de expressão”, é “avanço” para a sociedade brasileira. (Desse modo, promovem e apoiam o trilionário negócio global das drogas, lucrativo principalmente para os bancos dos EUA e europeus, para onde tem sido destinada a maior parte do dinheiro das drogas no mundo). Tentam nos convencer de que a liberação, ainda que gradual, será muito boa para o nosso governo, pois a venda de drogas, se controlada e taxada, além de barateá-las tornando-as mais acessíveis a todos (e assim aumentando o lucro global), “geraria recursos para prevenção e tratamento dos males por elas causados”...

Nesse cenário, o jornal tucano “Folha de São Paulo" ontem publicou o seguinte editorial:

LEGALIZAR AS DROGAS (editoriais@uol.com.br)



“Após descriminalizar o uso pessoal, em 2006, país deve acelerar debate na direção de rever proibição da maconha e outras substâncias banidas.

A decisão do Supremo Tribunal Federal de autorizar a Marcha da Maconha dá ensejo para retomar o debate sobre legalização e descriminalização das drogas.

Em realidade, existem dois debates. O primeiro, sobre descriminalização, ou despenalização (eliminar ou abrandar punições ao consumidor), avançou de forma considerável no Brasil.

O segundo, sobre legalização (autorizar produção, venda e consumo de substâncias hoje proibidas), mal caminhou por aqui. Se é que não retrocedeu, como sugere a renitente sanha proibicionista contra manifestações públicas pela mudança na legislação.

Esta ‘Folha’ defende, desde os anos 1990, que se faça uma discussão serena e sem preconceito de propostas alternativas para enfrentar o flagelo das drogas.

Em 1994, por exemplo, no editorial "Drogas às Claras", já reconhecia a falência das políticas repressivas. Advogava que a abordagem policial fosse substituída pela ótica da saúde pública, com ênfase em programas de prevenção e recuperação de dependentes [sem, contudo, restringir o direito ao negócio]. A legalização, preconizava, acabaria com o prêmio pelo risco que multiplica o valor da droga e, assim, o lucro dos traficantes.

O foco principal, no entanto, ainda recaía sobre a descriminalização. Ela só chegou ao país em 2006, com a lei nº 11.343, que livrou o porte e o consumo pessoal da pena de prisão, substituindo-a por advertência, prestação de serviços e medidas educativas (programas de reabilitação), sob pena de multa. A nova lei deu ao juiz o poder de decidir, em cada situação, se o portador seria considerado consumidor ou traficante.

Um progresso notável, e como tal foi saudado pela Folha. O debate nacional e mundial, contudo, não parou por aí. Ganhou reforços e respeitabilidade o outro ponto de vista, a favor da legalização.

A Holanda autorizou a venda para consumo individual, em cafés especializados (hoje já se discutem ali restrições, como proibir a venda a estrangeiros)[isso é retrocesso para a 'Folha'?]. Portugal também liberalizou o uso. Surgiu a Comissão Global sobre Política de Drogas, que reúne em favor da tese personalidades como Fernando Henrique Cardoso, George Shultz, Kofi Annan, Mario Vargas Llosa e Paul Volcker.

Tais figuras são insuspeitas de fazer apologia das drogas [sic]. Apoiam a tese da legalização com argumentos racionais: bilhões despendidos na guerra contra as drogas não diminuíram a demanda e a oferta [contudo, esses dispêndios serviram para Washington assumir o maior “controle global” do trilionário comércio, como afirmou o acima citado Mike Whitney] [Continua a ‘Folha’]: estima-se que o uso de cocaína no mundo tenha aumentado 27% entre 1998 e 2008; o consumo de drogas é irreprimível; produção e venda, se controladas e taxadas, gerariam recursos para prevenção e tratamento.

Os adversários dessa perspectiva argumentam, não sem razão, que tornar as drogas legais provavelmente elevará o consumo. Mesmo que a legalização se restrinja [inicialmente] ao que se convencionou chamar de "drogas leves" (categoria que inclui a maconha, por vezes também o ecstasy), haveria o risco de abrir uma porta para as mais pesadas (como crack e cocaína).

São razões ponderáveis, que recomendam cautela, gradualismo [até liberar as pesadas?] e controle na adoção de políticas alternativas. A Folha avalia que chegou o momento de 'avançar' na matéria, dando novos passos para a legalização. Primeiro, da maconha: se ela tem impacto na saúde comparável ao do cigarro e ao do álcool, que se ofereça a possibilidade de consumo dessa outra droga ao público, com limitações análogas às do tabaco e da bebida.

Esse seria o objetivo de médio e longo prazos. Antes, haveria necessidade de fazer o tema 'avançar' no plano internacional, pois parece irrealista que um país adote sozinho uma liberalização mais ousada. É crucial coordenar políticas nacionais, e o governo brasileiro deveria engajar-se na promoção do debate em foros multilaterais.

Há aperfeiçoamentos imediatos por fazer, ainda, na política nacional de descriminalização. Faz sentido permitir o uso da maconha em rituais religiosos, como já ocorre com a ayahuasca no culto do Santo-Daime e similares. Seria igualmente desejável limitar o arbítrio de juízes na caracterização de quem é traficante ou apenas usuário, por meio de gradação nas quantidades e tipos de droga.

Por fim, em matéria tão controversa, recomenda-se alguma forma de consulta popular. Se aprovada no Congresso, a legalização da maconha deveria ser submetida a referendo, após acúmulo de dados e estudos para avaliar objetivamente a experiência. A inclusão de outras drogas [as mais 'pesadas'] poderia, em seguida, ser objeto de plebiscito.”

FONTE: a 1ª parte é deste blog democracia&política. A 2ª parte é transcrição do editorial da Folha de São Paulo de domigo [pequenos entre colchetes e imagens adicionados por este blog] (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1906201101.htm)

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