domingo, 26 de junho de 2011
A GEOPOLÍTICA ANGLOAMERICANA
Por José Luís Fiorin, no jornal Valor e no blog de Luis Nassif
“Desde o século XVI, EUA e Inglaterra desenvolvem, com êxito, estratégias interessadas em “dominar o mundo”. Mas para onde expandi-lo, agora?
“Venho hoje reafirmar uma das mais antigas, uma das mais fortes alianças que o mundo já viu. Há muito é dito que os Estados Unidos e a Grã Bretanha compartilham de uma relação especial” (Barack Obama: “Discurso no Parlamento Britânico”, em 25/5/ 2011).
“Existe uma idéia generalizada de que a ‘Geopolítica’ é uma “ciência alemã”, quando, na verdade, ela não é nem uma ciência, nem muito menos alemã.
Ao contrário da ‘Geografia Política’, que é uma disciplina que estuda as relações entre o espaço e a organização dos estados, a ‘Geopolítica’ é um conhecimento estratégico e normativo que avalia e redesenha a própria geografia, a partir de algum projeto de poder específico, defensivo ou expansivo.
O “Oriente Médio”, por exemplo, não é um fenômeno geográfico, é uma região criada e definida pela política externa inglesa do século XIX, assim como o “Grande Médio Oriente”, é um subproduto geográfico da “guerra global ao terrorismo”, do governo Bush, do início do século XXI.
Por outro lado, a associação incorreta, da ‘Geopolítica’ com a história da Alemanha, se deve à importância que as idéias de Friederich Ratzel (1844-1904) e Karl Haushofer (1869-1946) tiveram –direta ou indiretamente– no desenho estratégico dos desastrosos projetos expansionistas da Alemanha de Guilherme II (1888-1918) e de Adolf Hiltler (1933-1945).
Apesar disso, as teorias destes dois geógrafos transcenderam sua origem alemã, e idéias costumam reaparecer nas discussões geopolíticas de países que compartilham o mesmo sentimento de cerco militar e inferioridade na hierarquia internacional. Mas a despeito disto, foi na Inglaterra e nos Estados Unidos que se formularam as teorias e estratégias geopolíticas mais bem sucedidas da história moderna.
Sir Walter Raleigh (1554-1618), conselheiro da Rainha Elizabeth I, definiu, no fim do século XVI, o princípio geopolítico que orientou toda a estratégia naval da Inglaterra até o século XIX. Segundo Raleigh, “quem tem o mar, tem o comércio do mundo, tem a riqueza do mundo; e quem tem a riqueza do mundo, tem o próprio mundo”.
Muito mais tarde, quando a marinha Britânica já controlava quase todos os mares do mundo, o geógrafo inglês Halford Mackinder (1861-1947) formulou um novo princípio e uma nova teoria geopolítica, que marcaram a política externa inglesa do século XX. Segundo Mackinder, “quem controla o ‘coração do mundo’ comanda a ‘ilha do mundo’, e quem controla a ilha do mundo comanda o mundo”.
A “ilha do mundo” seria o continente eurasiano, e o seu “coração” estaria situado –mais ou menos– entre o Mar Báltico e o Mar Negro, e entre Berlim e Moscou. Por isto, para Mackinder, a maior ameaça ao poder da Inglaterra seria que a Alemanha ou a Rússia conseguissem monopolizar o poder dentro do continente eurasiano. Uma idéia-força que moveu a Inglaterra nas duas Guerras Mundiais, e que levou Winston Churchill a propor –em 1946— a criação da “Cortina de Ferro” que deu origem a Guerra Fria.
Do lado norte-americano, o formulador geopolítico mais importante da primeira metade do século XX foi o Almirante Alfred Mahan (1840-1914), amigo e conselheiro do Presidente Theodor Roosevelt desde antes da invenção da Guerra Hispano-Americano, no final do século XIX. A tese geopolítica fundamental de Mahan, sobre a “importância do poder naval na história”, não tem nenhuma originalidade. Repete Walter Raleigh e reproduz a história da Marinha Britânica. E o mesmo acontece com as idéias de Nicholas Spykman (1893-1943), o geopolítico que mais influenciou a estratégia internacional dos EUA na segunda metade do século XX. Spykman desenvolve e muda um pouco a teoria de Mackinder, mas chega quase às mesmas conclusões e propostas estratégicas. Para conquistar e manter o poder mundial, depois da Segunda Guerra, Spykman recomenda que os EUA ocupem o “anel” que cerca a Rússia, do Báltico até a China, aliando-se com a Grã Bretanha e a França, na Europa, e com a China, na Ásia.
No cômputo final, o que diferencia a geopolítica anglo-americana é a sua pergunta fundamental: “que partes do mundo há que controlar, para dominar o mundo”. Ou seja, uma pergunta ofensiva e global, ao contrário dos países que se propõem apenas à conquista e ao controle de “espaços vitais” regionais.
Além disso, a Inglaterra e os EUA ganharam e, no início do século XXI, mantêm sua aliança de ferro com o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia: derrotaram e cercaram a Rússia; mantêm seu protetorado atômico sobre a Alemanha e o Japão; expandiram sua parceria e seu cerco preventivo da China; estão refazendo seu controle da África; e mantêm a América Latina sob a supervisão da sua IV Frota Naval. E acabam de reafirmar sua decisão de manter sua liderança geopolítica mundial.
Existe, entretanto, uma grande incógnita no horizonte geopolítico anglo-americano. Uma vez conquistado o poder global, é indispensável expandi-lo, para mantê-lo. Mas, para onde expandi-lo?
FONTE: escrito por José Luís Fiori, professor titular e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da UFRJ e autor do livro “O Poder Global”, da Editora Boitempo, 2007. Artigo publicado no jornal “Valor” e transcrito no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-geopolitica-angloamericana-por-fiori#more).
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Pois é Maria Tereza, mais uma VITÓRIA de Samuel Pinheiro Guimarães. E, mais duas vitórias para o Lula!!
26/06/2011
Eleição de Graziano é vitória da política externa do Brasil
Na avaliação do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, eleição de José Graziano da Silva para a direção-geral da FAO é uma vitória da política externa brasileira, do governo da presidenta Dilma Rousseff e da agricultura brasileira. “A eleição do doutor Graziano significa o reconhecimento do êxito da política externa da presidenta Dilma. Disputamos essa eleição com um candidato muito forte (o espanhol Miguel Anges Moratinos). Foi uma disputa política muito dura onde só um vence. É preciso que se reconheça isso internamente", disse o embaixador à Carta Maior.
A eleição de José Graziano da Silva para a direção-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) é uma vitória da política externa brasileira, do governo da presidenta Dilma Rousseff e da agricultura brasileira, disse à Carta Maior o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, Alto Representante-Geral do Mercosul. “A eleição de Graziano significa o reconhecimento da importância do Brasil na área da agricultura, tanto na agricultura voltada para a exportação, quanto na agricultura familiar, onde o país teve um grande desenvolvimento agrário e social nos últimos anos, com programas altamente eficientes”.
Samuel Pinheiro Guimarães enfatizou o significado da escolha para a política externa brasileira. “A eleição do doutor Graziano significa o reconhecimento do êxito da política externa da presidenta Dilma. Disputamos essa eleição com um candidato muito forte (o espanhol Miguel Anges Moratinos). Foi uma disputa política muito dura onde só um vence. É preciso que se reconheça isso internamente. Foi uma vitória do governo e do Brasil”.
José Graziano da Silva assumirá a FAO num momento em que a segurança alimentar mundial voltou a ser tema de preocupação em virtude do preço dos alimentos. Samuel Pinheiro Guimarães lembrou que há uma demanda crescente por alimentos no mundo, o que abre uma grande oportunidade para o Brasil. “Temos a oportunidade de aproveitar essa situação para gerar receita para o país. Internamente, devemos aproveitar para agregar valor aos nossos principais produtos, como açúcar, soja e outros”.
O Alto Representante-Geral do Mercosul também destacou a importância da eleição de Graziano para as políticas de integração na área da agricultura que vem sendo implementadas no bloco sulamericano. “Isso naturalmente vai facilitar o aprofundamento dessas políticas que avançaram bastante nos últimos anos. Já uma cooperação muito estreita nesta área no âmbito do Mercosul, com um intercâmbio muito importante de experiências como o Programa de Aquisição de Alimentos e as políticas de micro-crédito”.
http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm
Probus,
Obrigada pela notícia. É importante para o Brasil. Prepararei postagem para amanhã.
Maria Tereza
26/06/2011
A FAO e a importância da eleição de Graziano
Além da notoriedade acadêmica e do desempenho técnico de José Graziano, sua candidatura tem recebido numerosas adesões em decorrência do seu papel no primeiro mandato do Presidente Lula, quando arquitetou e liderou a implantação da estratégia de combate à fome. Como Ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome, coordenou a montagem de uma das mais importantes políticas públicas da história do Brasil, a política de segurança alimentar a partir do Programa Fome Zero, que levou nosso país aos monumentais resultados de redução da fome registrados pelo IBGE. O artigo é de Afonso Florence.
Afonso Florence (*)
Neste domingo, serão realizadas, em Roma, eleições para a Direção Geral da FAO. Sigla em inglês da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a FAO promove ações de cooperação e solidariedade no âmbito da agricultura, desenvolvimento agrário, segurança alimentar e combate à desnutrição, atuando em 191 países.
O Brasil está apresentando um candidato, o Prof. Dr. José Graziano, renomado pesquisador da área, conhecido ativista da causa e que possui uma trajetória dedicada ao avanço da produção de alimentos saudáveis e da política de segurança alimentar. Zé Graziano, como é carinhosamente conhecido nosso candidato, é diretor licenciado da FAO para a América Latina, função que desempenhou com enorme destaque internacional.
Entretanto, além da notoriedade acadêmica e do desempenho técnico de Zé Graziano, sua candidatura tem ganhado numerosas adesões em decorrência do seu papel no primeiro mandato do Presidente Lula, quando arquitetou e liderou a implantação da estratégia governamental de combate à fome. Como Ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA), coordenou a montagem de uma das mais importantes políticas públicas da história do Brasil, a política de segurança alimentar a partir do Programa Fome Zero, que levou nosso país aos monumentais resultados de redução da fome registrados pelo IBGE.
É inconteste que o Brasil viveu nestes últimos anos a maior mobilidade social da sua história. Mais de 28 milhões de homens e mulheres saíram da situação de pobreza, 36 milhões entraram na classe média. Hoje, todos têm a convicção de que nosso país pode ser cada vez mais generoso com nosso povo, crescendo com felicidade e bem estar. Estes resultados foram obtidos em decorrência da implantação de um novo modelo de desenvolvimento, onde crescimento econômico combina com distribuição de riqueza, programas de transferência de renda e inclusão produtiva se completam.
Esta experiência brasileira já tem sido observada e utilizada por outros países. Em maio de 2010, durante o encontro internacional ‘Diálogo Brasil-África para o Combate à Fome e à Desnutrição’, o Presidente Lula declarou o compromisso brasileiro com os países menos favorecidos que nos solicitam apoio.
Mais recentemente somaram-se à candidatura de Zé Graziano a declaração de apoio da Presidenta Dilma Rousseff e a repercussão na opinião pública internacional do lançamento pelo governo brasileiro do Plano Brasil Sem Miséria. A trajetória positiva da nossa história recente faz da nossa candidatura, mais do que uma postulação viável, uma esperança para dezenas de governantes de países pobres de verem executados na FAO programas que, inspirados na experiência brasileira, contribuam decisivamente para o desenvolvimento agrário, a erradicação da miséria e o combate à fome em seus respectivos países e continentes.
(*) Afonso Florence é ministro do Desenvolvimento Agrário
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17972
FAO: VITORIA DE GRAZIANO AMPLIA ESPAÇO GLOBAL DO PAÍS E FORTALECE DILMA E LULA
Numa eleição acirrada, o ex-ministro do governo Lula, José Graziano da Silva, superou o adversário espanhol, Miguel Angel Moratinos, na disputa pela sucessão de Jacques Diouf, no comando da FAO, por 92 votos a 88. O Brasil conquista assim seu primeiro posto de relevo entre as organizações internacionais.
Graziano era o candidato dos países pobres que lutam contra o subdesenvolvimento e o poder neocolonial nos mercados mundiais, sobretudo de alimentos e matérias-primas. Não por acaso, pouco antes da votação, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, sem abrir o voto dos EUA, elogiou o candidato espanhol Miguel Angel Moratinos, porta-voz da Europa e dos interesses dos países ricos.
A vitória brasileira reposiciona o papel da FAO na política internacional. O que se espera agora é um organismo renovado que passe a ecoar, de fato, os interesses Sul-Sul, na luta pelo desenvolvimento, por segurança alimentar e justiça social. Graziano é um crítico da especulação financeira decorrente da desregulação do sistema bancário promovida pelo neoliberalismo. Ao contrário de seu adversário espanhol, em diversos pronunciamentos e artigos ele destacou a influência nefasta dos capitais especulativos na formação dos preços dos alimentos, gerando flutuações abruptas que asfixiam consumidores e produtores dos países pobres. A vitória do ex-ministro e amigo pessoal de Lula não pode ser entendida sem o pano de fundo da crise mundial que evidenciou o crepúsculo de uma agenda ortodoxa que até então subordinava o destino das nações e do desenvolvimento aos interesses financeiros internacionais.
A sucessão na FAO influenciará inclusive a trajetória de Lula que trabalhou intensamente nos bastidores da campanha, em contatos com líderes e governantes, sobretudo da África e América Latina. O líder brasileiro passa a ter na FAO, certamente, uma âncora institucional para seus projetos de cooperação internacional para o desenvolvimento e a luta contra a pobreza e a fome. Para o governo Dilma, que se empenhou decididamente na eleição de Graziano, deslocando ministros e o chanceler Patriota a vários pontos do planeta, numa ação centralizada no Itamaraty, é um trunfo da competência brasileira na política externa. Ele reafirma o Brasil como líder dos países pobres, um interlocutor cada vez mais relevante da agenda do desenvolvimento no século 21.
Carta Maior; Domingo, 26/06/ 2011
26/06/2011
José Graziano é eleito diretor-geral da FAO
A eleição ocorreu neste domingo durante a 37ª Conferência da FAO, evento que começou ontem (26), em Roma. Com o apoio do governo brasileiro, Graziano recebeu 92 dos 180 votos. O segundo colocado foi o ex-ministro de Relações Exteriores espanhol Miguel Ángel Moratinos. Graziano vai substituir o senegalês Jacques Diouf, que permaneceu por 17 a anos à frente da agência. Ele deixará a direção do órgão em um momento em que a alta nos preços de alimentos tornou-se uma preocupação global, discutida nos principais foros internacionais.
Alex Rodrigues - Agência Brasil
O agrônomo brasileiro José Graziano, de 61 anos, foi eleito hoje (26) o novo diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Ex-ministro de Segurança Alimentar do governo Lula, Graziano ocupará o cargo no período de janeiro de 2012 a julho de 2015. Desde 2006, ele atuava como representante da agência na América Latina e no Caribe.
A eleição ocorreu hoje durante a 37ª Conferência da FAO, evento que começou ontem (26), em Roma. Com o apoio do governo brasileiro, Graziano recebeu 92 dos 180 votos. O segundo colocado foi o ex-ministro de Relações Exteriores espanhol Miguel Ángel Moratinos. Inicialmente também concorriam ao posto o austríaco Franz Fischler, o indonésio Indroyono Soesilo, o iraniano Mohammad Saeid Noori Naeini e o iraquiano Abdul Latif Rashid.
Indicado para o cargo pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no ano passado, Graziano vai substituir o senegalês Jacques Diouf, que permaneceu por 17 a anos à frente da agência. Ele deixará a direção do órgão em um momento em que a alta nos preços de alimentos tornou-se uma preocupação global, discutida nos principais foros internacionais.
Criada em 16 de outubro de 1945, a FAO concentra os esforços dos 191 países membros, mais a Comunidade Europeia, pela erradicação da fome e da insegurança alimentar. Na agência, que funciona como um fórum neutro, os países desenvolvidos e em desenvolvimento se reúnem para para negociar acordos, debater políticas e impulsionar iniciativas estratégicas.
O orçamento enxuto da agência, se comparado ao de outras instâncias da ONU, é considerado um dos entraves à atuação mais abrangente do órgão. Para o biênio 2010/2011, a FAO conta com orçamento de US$ 1 bilhão (R$ 1,6 bilhão) , com mais US$ 1,2 (R$ 1,9 bilhão) advindos de doações voluntárias.
Outro problema com o qual Graziano deverá lidar são as divergências entre os países quanto à produção de biocombustíveis (apontados por algumas nações como os principais causadores da inflação nos alimentos).
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17975
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