segunda-feira, 6 de junho de 2011

SEPARADO PELO NEOLIBERALISMO, PERU BUSCOU NOVO RUMO NAS URNAS

                                 Lima, capital do Peru

“O Peru que foi às urnas ontem, domingo, foi o país que registrou a maior taxa de crescimento da América Latina no ano passado: 9%. A média de expansão do seu PIB tem sido elevada, da ordem de 7%. Em 2010, o Peru atraiu mais investimentos estrangeiros do que a Argentina.

O presidente Alan García, no entanto, deixa o cargo com uma das taxas de popularidade mais baixas das Américas: cerca de 26%, inferior à de George Bush, por exemplo, que encerrou o mandato em meio a hecatombe financeira e desacreditado pela guerra do Iraque.

A explicação para o paradoxo -julgado nas urnas ontem, domingo- é o modelo de crescimento adotado pelo país nos últimos anos: o Peru cresceu sem políticas públicas para redistribuir a riqueza em benefício da sociedade, sobretudo de sua vasta maioria pobre constituída de indígenas, que formam 45% da população (brancos são 15%).

Basicamente exportadora de minérios, a economia peruana beneficiou-se fartamente da valorização dos preços das 'commodities' nos últimos anos. Optou, porém, por modelo de crescimento de recorte neoliberal extremado e tardio feito de desregulação máxima e direitos sociais mínimos.

A riqueza gerada nessa engrenagem não circula na sociedade, concentrando-se numa órbita restrita de beneficiados. A ausência de carga fiscal sanciona e acentua as polarizações daí decorrentes. A receita do Estado peruano é de 15% do PIB, inferior até mesmo à média latino-americana e caribenha que já é desprezível e oscila em torno de 18% do PIB, contra 39,8% da União Europeia, onde a rede de contrapesos sociais já está consolidada [não precisando, portanto, de grandes investimentos para sua implantação].

O governo Alan García poupou as mineradoras peruanas de taxação correspondente aos lucros fabulosos acumulados no atual ciclo de alta das matérias-primas. O mercado, naturalmente, cuidou de seus próprios interesses e o Estado não reuniu fundos para investir em educação, saúde, habitação e segurança alimentar. A renda per capita, depois do fastígio neoliberal, é de US$ 5.196, bem inferior a de outros países da região, como é o caso do Uruguai (US$ 12.130), do Chile (US$ 11.587), Brasil (US$ 10.470) e México (US$ 9.243).

Mas a verdade é pior que isso. Não há estrutura de direitos trabalhistas: 2/3 da mão de obra peruana trabalha na informalidade; a população rural vegeta; uma professora ganha cerca de R$ 200,00 por mês. É esse modelo de crescimento que, ao gerar riqueza, amplifica a desigualdade -e racha a sociedade em termos econômicos e políticos- que se expressou domingo nas urnas. O simbolismo do veredito popular extrapola as fronteiras peruanas.” [O oposicionista Ollanta Humala venceu, ontem, a conservadora Keiko Fujimori, que propugnava a continuação das atuais políticas].

FONTE: cabeçalho do site “Carta Maior”, domingo, 05/06/2011  (http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm) [imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog].

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