Os EUA, explícita e formalmente, já nos manifestaram por escrito serem contrários ao desenvolvimento espacial brasileiro. Há outros interesses. De modo geral as potências lançadoras lucrarão em manter o Brasil somente como simples cliente para a dispendiosa colocação em órbita de satélites de interesse brasileiro, que permanecerão sob controle delas.
O Brasil, nas décadas de 60, 70 e 80, estava mais avançado na área espacial do que países do seu porte, como a China e a Índia. Esses dois países investiram esforços financeiros e políticos em seus projetos. A Índia enviou uma sonda lunar recentemente e a China foi o terceiro país do mundo a realizar missões espaciais tripuladas.
Contrariamente no Brasil, principalmente na década PSDB/FHC de 90, medidas governamentais de asfixia de recursos financeiros e humanos praticamente acabaram com o Programa Espacial Brasileiro no tocante a lançadores e centros de lançamento. Hoje, mesmo com recursos financeiros, a capacitação de recursos humanos consumirá uma geração.
Sobre a China, Índia e outros países asiáticos, o jornal “International Herald Tribune” ontem publicou texto de John Lee, pesquisador visitante do Centro de Estudos Independentes em Sydney.
O jornal que publicou ontem o artigo a seguir transcrito teve como origem o New York Herald Tribune, jornal dos Estados Unidos da América criado no ano de 1924 e que se tornou o jornal base do Partido Republicano.
POR QUE A CHINA QUER VENCER A CORRIDA ASIÁTICA À LUA
“O envio de um ser humano à Lua era uma notícia velha. Agora, não é mais. Está em andamento uma corrida espacial entre gigantes asiáticos - China, Índia, Japão e até mesmo a Coréia do Sul - e a China deseja desesperadamente vencê-la. Para os chineses, não se trata apenas de adquirir o direito de gabarem-se. Ser o primeiro país asiático a mandar um homem à Lua é algo que remete ao cerne da busca de Pequim por poder e segurança.
Passaram-se quase 40 anos desde que Neil Armstrong comandou a missão Apollo 11. Mas a China e a Índia - cada um destes países possui cerca de 700 milhões de habitantes que vivem com menos de US$ 2 diários ou menos - anunciaram recentemente que almejam colocar uma pessoa na superfície lunar até 2020. O Japão, que cancelou grande parte das suas atividades de exploração espacial na década de 1990, retomou as suas ambições e fala agora em uma missão à Lua neste mesmo prazo. E recentemente a Coréia do Sul entrou no jogo, com o mesmo cronograma.
Tudo isto parece bizarro. Afinal, o custo de missões tripuladas e bem-sucedidas à Lua supera os US$ 100 milhões, com pouco retorno econômico. Mas os gigantes da Ásia perceberam que o poder possui diversas facetas. Não se trata apenas de capacidade.
Os líderes chineses demonstraram que estão desesperados para vencer esta corrida.
Por que o prestígio associado ao fato de ser o primeiro país asiático a enviar um homem à Lua tem tanta importância?
Primeiro, há o orgulho nacional, que pode servir como uma força unificadora.
Permanecer unificado e "grande" é uma meta fundamental do regime autoritário da China. Ser o primeiro país asiático a enviar um homem à Lua seria uma façanha enorme; algo que melhoraria a reputação do Partido Comunista junto ao povo chinês.
Segundo, o prestígio aumenta o "poder suave" de uma nação, que reside na capacidade de influenciar e moldar as preferências de outros e é a capacidade de impulsionar a cultura, os ideais e as conquistas de um país. A forma como a China promove a sua cultura de 5.000 anos é uma ilustração de poder suave em ação. Os Jogos Olímpicos de Pequim são outro.
Ser o primeiro país da Ásia a colocar uma pessoa na Lua resultaria em um aumento desse poder.
Terceiro, o prestígio derivado do sucesso gera respeito. As potências ascendentes raramente sentem-se seguras, a menos que sejam aceitas por outras grandes potências.
Isto é algo que está inculcado na consciência da China moderna, onde as memórias da histórica queda do país da sua posição de poder no século 19 continuam sendo profundas.
Até o século 15, o conhecimento tecnológico chinês era o mais avançado do mundo. A China foi dona da maior economia do mundo durante 1.800 dos últimos 2.000 anos. Até 1820, ela produzia um terço da produção global, e o país continuou sendo a maior economia do mundo até 1885.
Mas, desde a década de 1840, a China sofreu aquilo que os chineses vêem como uma série de humilhações nas mãos de potências estrangeiras: dos britânicos, dos japoneses e dos russos, bem como dos norte-americanos, que continuam protegendo Taiwan.
Segundo a interpretação chinesa típica da sua história, as potências estrangeiras mostraram-se dispostas a saquear a China a partir de meados do século 19. Elas fizeram isso não apenas devido à ganância expansionista, mas porque tinham pouco respeito pela grandeza da civilização chinesa.
Para muitos chineses, as realizações do país no decorrer de 5.000 anos conferem à China um direito de dominar a Ásia com base na sua autoridade econômica, cultural e tecnológica. Esta autoridade foi contestada por potências estrangeiras, e perdida a partir de meados do século 19.
Mesmo 30 anos após Deng Xiaoping ter decidido ingressar no sistema econômico global, a China vê a si própria como uma espécie de forasteira. Recentemente o presidente Hu Jintao afirmou: "As forças estrangeiras hostis não abandonaram as suas conspirações e táticas para ocidentalizar a China e dividir o país".
Aumentar o seu poder econômico e militar - por exemplo, lançando mísseis capazes de destruir satélites - é algo que diz respeito à demonstração da capacidade do país.
Mas criar mais de 260 Institutos Confucianos em mais de 75 países a fim de ensinar a língua chinesa e a interpretação chinesa da história, bem como colocar um homem na Lua, são medidas que têm outro propósito.
Apesar de todos os comentários sobre o milagre econômico da China e do grande ressurgimento do país, a China continua sendo uma potência insegura, governada por um regime inseguro. O Partido Comunista Chinês está tentando convencer o povo chinês de que encontra-se em uma posição única para fazer com que o país retorne à grandeza.
Chegar ao espaço e vencer o resto da Ásia, ao ser o primeiro país asiático a colocar um homem lá em cima, é um elemento fundamental para a busca de segurança por parte da China.”
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