segunda-feira, 10 de novembro de 2008

VONTADE, CORAGEM E IMPASSE

Li ontem no blog “Cidadania.com”, de Eduardo Guimarâes, o seguinte texto:

“Contabilizo várias manifestações de leitores pedindo comentário meu sobre Gilmar Mendes e sobre a inversão jurídico-policial que expõe mais a investigações e a questionamentos públicos e jurídicos os que investigaram e denunciaram Daniel Dantas do que ao próprio.

O país realmente corre o risco não só de ver Dantas sair impune, mas de ver punidos o juiz Fausto De Sanctis e o delegado Protógenes Queiróz, por exemplo, por terem ousado “mexer” com o poderoso, com o quase onipotente banqueiro. Enquanto isso, Gilmar Mendes obtém a concordância e a cumplicidade de seus pares no STF com o habeas-corpus criminoso concedido a Dantas na calada da noite (literalmente).

E onde está o governo Lula, enquanto isso? Essa é a pergunta de um bilhão de dólares e pretendo respondê-la neste post.

Primeiro, quero dizer a vocês que estou me cansando do apoio inequívoco e decidido que sempre dei ao PT e a Lula. Não é que eu não reconheça os avanços sociais e econômicos gerados por sua gestão. Reconheço que esses avanços existiram, mas também devo reconhecer que são avanços que podem virar pó se Lula não conseguir fazer seu sucessor.

Há uma diferença importantíssima entre governos como o de Lula e os de seus pares sul-americanos que também vêm promovendo avanços sociais e econômicos em seus países: o nível de avanços logrados, que deriva da ambição e das condições políticas e institucionais de cada país.

Lula diminuiu a pobreza, a desigualdade e pôs a economia nos eixos, mas tudo isso pode evaporar se ele for substituído por um representante da elite branca de direita em 2011.

Para que a desigualdade e a pobreza continuem diminuindo – e precisam continuar diminuindo, porque a redução que houve está longe de ter posto as coisas no seu devido lugar, tendo sido apenas um começo – e para que a economia se mantenha sólida, o país precisa continuar sendo bem governado por pelo menos mais uma década.

A candidatura Serra é um projeto de interrupção da distribuição de renda e de devolução do controle do Estado à exígua elite branca brasileira, insuficiente para lotar um pequeno estádio de futebol. E quando um projeto de país atende a grupo social tão pequeno, o desarranjo sócio-econômico é mera questão de tempo.

Quando um governo trabalha para beneficiar tão poucos, a economia, inclusive, é a primeira vítima. Em seguida, a carestia social trata de aumentar os conflitos entre a larguíssima base da pirâmide e seu topo estreito, com reflexos imediatos na segurança pública.

Isso é o que a elite branca de direita brasileira não entende. Seu projeto de interrupção da distribuição de renda e de volta do saque aos cofres públicos ignora que aquilo que chama de criminalidade é apenas um processo insurrecional da ralé contra a burguesia como tantos outros que a humanidade já viu em todas as partes do mundo durante o curso da história.

Os avanços brasileiros são frágeis porque são tímidos. Comparem-nos com os avanços que conseguiram um Hugo Chávez, um Rafael Correa ou um Evo Morales. E, para comparar, vou lhes descrever o que eles conseguiram, o que poderei fazer porque, por conta de minha profissão, preciso visitar periodicamente os países que esses líderes políticos governam.

Em países como Venezuela, Equador ou Bolívia, apesar dos conflitos que a maior vontade política de seus presidentes gerou, os avanços obtidos são milhões de vezes mais efetivos do que os nossos, com as novas constituições e com os processos de politização da massa empobrecida que essa vontade política implementou.

Alguns de vocês sabem que visitei favelas e outras partes paupérrimas desses países que mencionei. Posso lhes dizer uma diferença monumental entre os pobres brasileiros e os venezuelanos, equatorianos ou bolivianos: a consciência política, a compreensão dos direitos e do poder de promover melhoras sociais e econômicas que tem a política.

O projeto mais ousado de todos, sem dúvida, é o de Hugo Chávez. Ele tratou de incutir consciência política no povo. Fez isso enfrentando as elites internas e seu financiador externo, o governo fascista de George Bush.

Vocês querem saber como o presidente venezuelano fez tudo isso? É simples: junto com programas sociais caríssimos, financiados com os recursos enormes do petróleo daquele país que antes eram doados a uma pequena elite étnica, social e econômica, Chávez estabeleceu núcleos de politização em todas as favelas, em todos os guetos em que vive a maioria empobrecida do povo venezuelano.

Para tanto, o líder político atacou primeiro – e com decisão – um impedimento fortíssimo à conscientização política de seu povo: o analfabetismo. Em poucos anos, assim, a Venezuela conseguiu acabar com essa chaga social – e a ONU confirmou isso.

Hoje, o povo venezuelano é um dos mais politizados do mundo. Qualquer cidadão daquele país, por mais humilde e pouco instruído (formalmente) que seja, entende muito de política e tem noções até de economia. Todos os venezuelanos, do mais rico ao mais pobre, conhecem seus direitos hoje em dia.

Governando há bem menos tempo do que Chávez, os presidentes Morales e Correa estão seguindo os passos do homólogo venezuelano. Dessa maneira, também estão promovendo mudanças profundas em seus países ao aumentarem exponencialmente a cultura política dos povos que governam.

Todos os três líderes, no entanto, tiveram a coragem questionável de se valerem de um certo autoritarismo, de um tipo de voluntarismo e com uma coragem que assustou as elites de países vizinhos como o nosso e até povos de países mais distantes, como os Estados Unidos. E não se pode negar o perigo que representa um líder político usar autoritarismo, por melhores que sejam suas intenções

Chávez, Morales e Correa mostraram, no entanto, que não basta vontade de mudar; é preciso coragem.

Contudo – e já me cansei de dizer isso aqui –, esses países têm uma diferença enorme em relação ao nosso: suas forças armadas.

No Brasil, à diferença de Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Paraguai e Venezuela, os militares continuam aliados à elite branca de direita e vivem fazendo ameaças a Lula. Nos outros países mencionados, mudaram de lado, ou seja, foram para o lado da democracia. Apóiam governos eleitos legitimamente, como é obrigação das forças armadas nas democracias.

Não culpo Lula completamente, portanto. A democracia brasileira ainda é uma concessão das elites. Não tenho a menor dúvida – e sei que esse meu ponto de vista é polêmico – de que os militares derrubariam Lula se ele enveredasse pela radicalização da democracia, contrariando interesses poderosos com maior decisão. Chávez, Morales e Correa não têm essa barreira.

Os militares e o Judiciário constituem os últimos bastiões da elite branca de direita ou continuam sendo o poderoso bastião de sempre?

Vejam vocês que a elite branca de direita, que usou ontem e continua usando hoje políticos como José Serra e a mídia corporativa, é a mais poderosa das três Américas e uma das mais poderosas do mundo. Para enfrentá-la não basta vontade. Como já disse, é preciso coragem, uma coragem que falta a Lula e ao PT, e estes são só o que tem a massa empobrecida e negra do Brasil.

Querem que eu fale de Gilmar Mendes? Para que? A questão não é ele, mas os que estão por trás dele. Se ele morresse hoje, outro tomaria seu lugar. A questão toda são os militares, para garantirem a vontade da maioria. Enquanto continuarem golpistas, elitistas e direitistas, este país só conseguirá melhoras frágeis como as que Lula conseguiu.”

4 comentários:

iurikorolev disse...

Este texto é extremamente tendencioso, racista e pouco convincente.
Dizer que o governo do Chavez
(o "socialista bolivariano")é melhor do que o do Lula o cúmulo do absurdo.
Dizer que os povos dos outros paises são politizados...
Ridículo !
Eles só sabem repetir aqueles chavõezinhos (sem trocadilho...) de idiotas latino-americanos.

Pelo amor de Deus, este Eduardo Guimarães representa o "alto" nível dos "intelectuais" brasileiros.

iurikorolev disse...

O problema do Brasil é :

1) Uma elite incompetente do ponto de vista empresarial.
Só sabe ganhar dinheiro com commodities.(herança da nossa famigerada colonização lusitana)
Os negócios de alto nível são todos importados.
Daí a nossa pobreza.

2) Um povo com baixíssimo nível educacional e intelectual.

Por isso qualquer "zé da esquina" formados nestas porcarias de universidades que o Brasil tem, e que escreveu um livrinho, se arvora intelectual.

Se o Brasil conseguir resolver estes 2 problemas ascenderá à categoria dos países desenvolvidos.

Não é nada de elite branca, negros
amarelos azuis não !
É questão de competência e caráter.

Sds
Iuri

Unknown disse...

kra nesses países citados como tendo governo melhor do que nosso presidente Lula, é pelo fato de uma quase (ou total) ditadura, a qual eles podem fazer, nós não. O Brasil está em outro patamar, um superior, que ao invés de ser ditatorial, busca parcerias internacionais e aumentar a sua influência político-econômica. O que acontece nos países vizinhos ao Brasil pode ser mais aproximado com o que foi o governo de Getúlio Vargas, a qual um supercontrole do estado se fez nessessário.

O que falta ao presidente Lula e ao PT não é coragem, e sim apoio maior de outros partidos.

Unknown disse...

Prezados Iurikorolev e Hugo,
Concordo totalmente com seus comentários.
A postagem seguinte contém uma boa análise crítica, de Miguel do Rosário, sobre esse texto ruim de Eduardo Guimarães, que normalmente escreve bem.
Maria Tereza