segunda-feira, 12 de outubro de 2009

"FOI O BUSH QUEM FEZ"

Negroponte: Foi o Bush quem fez

"Num mundo sério, John Negroponte seria levado aos tribunais como "facilitador" de crimes na América Central. Mas, não estamos em um mundo justo. Nos anos 80, ele foi um dos arquitetos da política de Ronald Reagan para a América Central, que em nome de combater o comunismo promoveu regimes que massacraram movimentos sociais em El Salvador, Honduras e Guatemala. Negroponte foi embaixador americano em Honduras quando o país era a principal base para as guerras de Washington contra os sandinistas na Nicarágua e a guerrilha de El Salvador.

Mais recentemente, Negroponte foi subsecretário de Estado do governo Bush filho, condição na qual negociou com Manuel Zelaya, que queria transformar a base aérea americana em Honduras num aeroporto civil.

Agora, Negroponte continua deitando falação. Em entrevista à Folha, sugeriu que Honduras deve "esquecer o passado", eleger o sucessor de Micheletti sob Micheletti e estamos conversados. Como o New York Times denunciou, o governo de Micheletti pagou lobistas nos Estados Unidos para defender suas posições diante do governo Obama. Negroponte não foi citado nominalmente, mas é da mesma turma.

Na entrevista à Folha, Negroponte defende ponto-de-vista parecido com o do governo Micheletti. "Esquecer o passado" e realizar as eleições. Sem a restituição de Zelaya. Ou seja, Negroponte quer que a gente esqueça essa "bobagem" de golpe, essa "bobagem" de fechar jornais e emissoras de rádio, essa "bobagem" de reprimir os apoiadores de Zelaya.

Negroponte quer "esquecer o passado". Menos quando se trata de George W. Bush. Notem que Negroponte repete um cacoete muito comum no Brasil, quando os apoiadores de FHC dizem que tudo o que Lula fez "começou com FHC".

Fiquem com trechos:

FOLHA - O sr. está otimista quanto a Honduras?

NEGROPONTE -
Nunca estou otimista quanto a nada. Quando as pessoas me perguntavam se estou otimista ou pessimista, digo: sou diplomata, não sou uma biruta. Não posso dizer como as coisas vão acabar. Dito isso, é importante que haja um esforço diplomático na crise hondurenha.

Enfatizo a importância de as eleições presidenciais acontecerem tal como o previsto, para que o país e todos nós possamos olhar para frente, não para trás, para ficar procurando quem culpar. Por coincidência, quando eu estava lá, em 1981, tivemos a primeira eleição livre em nove anos. Desde então, a cada quatro anos, há eleição. É importante que isso continue.

[...]

FOLHA - Nos últimos dias, tem havido um frenesi em relação ao Brasil e sua suposta chegada ao palco principal global. O sr. concorda?

NEGROPONTE -
Tudo é resultado do processo de se integrar mais à economia global. Isso é bom. Os BRICs são as potências emergentes, com população grande, relativamente jovem, potencial de crescimento grande. Há grandes oportunidades para expansão.

Sou otimista quanto ao futuro do Brasil. E às relações com os EUA. Muitos dizem com razão que esse foi um dos acertos estratégicos de Bush [grifo do Viomundo], de aprofundar essa relação. O Brasil sempre foi grande, mas antes o país não procurava se inserir tanto no mundo. Isso está mudando, e o mundo está reagindo de maneira positiva.

[...]

FOLHA - Quanto ao Irã, o sr. concorda com a atual política, de diálogo mais sanções?

NEGROPONTE -
Não é tão diferente de na época do Bush [novo grifo do Viomundo]. Quer dizer, tínhamos uma precondição: a suspensão do programa nuclear. O Irã é um problema e tem planos para desenvolver uma arma nuclear, escondeu programas nucleares no passado. O problema é que eles estão numa região particularmente volátil.

FOLHA - O sr. defende um ataque militar?

NEGROPONTE -
O presidente Bush disse varias vezes [outro grifo do Viomundo] que não tiraria a opção militar da mesa. E o [colunista do "New York Times"] Tom Friedman escreveu uma coluna interessante recentemente sobre isso, dizendo que ele não tiraria também. Mas também dissemos que seria um erro para um país como Israel atacar o programa nuclear iraniano.

Por duas razões: consequências inesperadas; e não é claro que um ataque possa ser efetivo. O programa é mais desenvolvido do que se pensa, não é só um reator num só lugar. É complicado. Então, acho que o jeito é diplomacia neles, e nisso tanto Obama como Bush concordam. Bush não teria problemas com o que Obama [grifo final do Viomundo] vem fazendo. Mas deixe as sanções ao alcance até que haja real progresso, não fique só blablablá...

OBS: O repórter da Folha poderia ter perguntado ao Negroponte se ele acha que Bush cometeu algum "erro". Mas aí seria pedir demais à Folha, não acham?"

FONTE: publicado hoje (12/10) no portal "Vi o mundo", do jornalista Luiz Carlos Azenha.

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