terça-feira, 20 de outubro de 2009

NASSIF: COMO O SERRA E O PSDB TERCEIRIZARAM A POLÍTICA

A PIADA DA 'Dra' LINA

Em vez de fazer política, Zé Pedágio faz intriga


Publicado no 'Conversa Afiada", a pedido do amigo navegante Guilherme: "PHA, veja esse ótimo artigo de Nassif:

"Esse fenômeno ainda há de ser estudado e, no futuro, considerado o maior engano de comunicação já produzido por uma liderança política no país: JOSÉ SERRA, o homem que terceirizou a estratégia política para os jornais.

COMO O PSDB TERCEIRIZOU A POLÍTICA

Continua a piada pronta.

Segundo matéria da Folha, a Casa Civil informa que na hora da tal reunião com Lina Vieira ela, Dilma, estava com o presidente da República e não participou de reunião alguma. Lina diz, em depoimento no Senado, que não houve reunião em 9 de outubro porque estava em São Paulo. Ambas – casa Civil e Lina (no Senado) informam que houve reunião na Casa Civil para tratar do tal encontro dos CEOs.

E, depois de pesar todos os elementos, o 'ponderado' senador Arthur Virgílio encerra o samba do crioulo doido com uma frase lapidar:

“Devido ao surgimento de novas e irrefutáveis provas é imprescindível a presença da ex-secretária”, disse o líder do partido, Arthur Virgílio (AM).

Desde que a agenda política passou a ser comandada pelas manchetes do circuito Folha-Veja-Globo, a oposição só afunda. Criou-se um mundo virtual totalmente dissociado da realidade, autoreferenciado, sem autocrítica, com esse nível de “provas novas e irrefutáveis”.

Esse fenômeno ainda há de ser estudado e, no futuro, considerado o maior engano de comunicação já produzido por uma liderança política no país: José Serra, o homem que terceirizou a estratégia política para os jornais.

O que esteve por trás dessa imprudência é o seguinte.

No mano-a-mano, a oposição perde a batalha da comunicação para Lula. Decide, então, curvar-se a essa realidade, deixar de lado o “feeling” político próprio – por não confiar nele – e terceirizar a estratégia comunicação para quem presumivelmente entende e comanda o processo: a mídia.

Assim, a parte mais sensível de uma campanha política, a formação da imagem e das ideias, foi substituída pelo exercício fácil de atender às demandas da mídia e deixar o trabalho por sua conta e risco. Só não entendeu que a demanda da mídia é distinta da agenda política. A lógica da mídia é imediatista. Em outros países, pode atuar como formadora de opinião, mas sempre comandada por ideias que emanam de partidos políticos.

Sem o fio condutor das ideias, a mídia desandou. No Brasil, aliás, há muitos e muitos anos a única ferramente de que dispõe é a escandalização. Não existe estratégia sequer para coberturas continuadas. Vive-se da mão para a boca, publicando amanhã a mera suspeita que foi aventada hoje e será repercutida depois de amanhã.

Antes, os estrategistas políticos eram pessoas como Tancredo Neves, Tales Ramalho, Ulisses. No campo das ideias, economistas, intelectuais, entre os quais o próprio Serra.

Na era Serra, foram substituídos pelo Ali Kamel (!), Merval (!), o Otavinho (!), o Roberto Civita (!), as colunistas políticas – que diariamente mandam orientações à oposição sobre como proceder, dão broncas quando acham que a oposição está desanimando, passam pito, ordenam isso e aquilo. E as lideranças aceitam de cabeça baixa, entram em todas as geladas que esse processo desembestado gera, criam até CPI da Petrobras e, depois que a empresa lança uma monumental campanha midiática, ficam órfãos, sem saber porque a mídia se desinteressou pelo tema, depois de obrigá-los a entrar na fria.

Além disso, à falta de ideias condutoras, da capacidade de compreensão do processo político, da incapacidade de discutir propostas ou modelos de país (porque exige ir além dos slogans e porque não faz parte da lógica midiática), a mídia brasileira adotou a agenda neocon – um modismo norte-americano, minoritário até nos EUA que, no caso brasileiro, vinha pronto e embalado (criado pelo brilhantismo obcecado de Olavo de Carvalho e repetido por meia dúzia de papagaios). Um discurso restrito, de pouca ressonância, tornou-se hegemônico na mídia. E, pior: não por convicção, como em Olavo, mas por visão míope de mercado.

Essa simbiose criou um monstrengo político. Não era mais a política comandando o discurso – como ocorreu com o PMDB de Ulisses, com o próprio Collor, até com o mercadismo de FHC. Eram as criaturas de FHC colocados num liquidificador, que acabou resultando em um monstrengo ideológico, misturando neoliberalismo + pensamento neocon + intolerância + estilo esgoto de agressividade. Pior, condicionando o discurso político de seu criador, Serra.

Como a mídia, seguramente, não estava à altura do desafio de pensar programaticamente – e nem poderia estar, porque a lógica dos jornais é outra – criou-se essa mixórdia visceral, um debate circular em torno de Honduras, FARCs, cotas raciais, Venezuela, erros de português do Lula, Honduras, Bolsa Familia, Foro de São Paulo, FARCs, Moralez, erros de português do Lula, Honduras, Cuba, Fidel… Meu Deus! Essa temática só existe na cabeça deles e de leitores influenciáveis (e sem nenhuma relevância). Não há um ambiente minimamente esclarecido – seja entre empresários, intelectuais, classe média esclarecida, classes populares – que tenha saco para entrar nesse jogo.

Serra conseguiu transformar um partido que já representou esperanças de mudança no país em sucursal da mídia. Não de um New York Times, mas da Veja.

Dá para entender sua diferença do, por exemplo, neto do Tancredo Neves? É a política, estúpido!, diriam os estrategistas de Obama."

FONTE: publicado hoje (20/10) no portal "Conversa Afiada", de Paulo Henrique Amorim.

Nenhum comentário: