"Mundo emergente ganha escala e atua como contrapeso na derrocada global, o que prenuncia mudança mais profunda
Na crise global, as previsões parecem caducar à velocidade da luz. Analistas econômicos -atropelados pela debacle da produção e do emprego a partir de setembro de 2008- voltam, pouco mais de um ano depois, a corrigir fortemente seus vaticínios, desta vez para cima.
No Brasil, a pesquisa semanal do BC com analistas privados acusou um salto, em apenas um mês, de meio ponto percentual no crescimento previsto para 2010. É provável que a média das projeções, ora em 4,5%, encoste nos 5% nas próximas semanas -cada ponto do PIB vale R$ 30 bilhões.
Essa tempestade nas previsões é um sintoma da quantidade de fatos e combinações novos trazidos por essa crise -modelos econométricos, alimentados com dados do passado e muitas vezes modulados para recusar o que destoa demais das médias, perdem eficácia nesse contexto.
No campo das hipóteses, a recuperação mais rápida e vigorosa do que se esperava pode ser atribuída à dose cavalar de intervenção dos governos, que abriram seus cofres e endividaram-se freneticamente a fim de evitar a depressão. Mas, eis a novidade, não se deve subestimar o papel exercido pelos chamados mercados emergentes na mitigação dos efeitos globais da derrocada.
O nível de consumo doméstico, de emprego e de renda em nações como Brasil e Índia foi pouco afetado -ao contrário da atividade industrial, sobretudo a exportadora, e dos investimentos produtivos. Produziu-se um hiato no padrão chinês de desenvolvimento, economia que reprime o consumo interno e favorece a poupança e as exportações. A China se viu obrigada a incentivar, súbita e pesadamente, as despesas domésticas.
A taxa de crescimento da China -impulsionada desta vez pelo crédito interno, que subiu 34% em 12 meses- passará praticamente incólume pela crise. O país asiático cresceu 9% em 2008 e, de acordo com o FMI, se expandirá mais 8,5% neste ano.
Se o esboço de um mundo novo irrompe desta crise, ele é o resultado de uma evolução que se acelerou nas últimas décadas. Nesse processo, China, Índia e Brasil, juntos, atingiram uma escala, por exemplo, na demanda por importações, equivalente à da economia americana.
Há 20 anos, teria sido impossível aos países em desenvolvimento atuar como contrapeso para a derrocada das nações ricas, mas hoje isso se tornou realidade. As consequências desse fato para a prevalência geopolítica dos Estados Unidos, bem como para a do dólar nas transações comerciais e financeiras, ainda estão por ser reveladas. Por ora, não cabem em nenhum modelo econométrico..."
FONTE: editorial da Folha de São Paulo de hoje (11/10).
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