quinta-feira, 19 de novembro de 2009

ACORDA, BRASIL

"Bristol (EUA) – Alguns leitores poderão julgar que me deixei obcecar, pois é a quarta vez que escrevo sobre este assunto. De que falo? Falo do encolhimento da população brasleira, matéria que já abordei em seis de julho de 2006, 15 de agosto de 2007 e 11 de julho de 2008.

A informação é oficial, vem do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. Desde 2007 o índice de fecundidade da mulher brasileira entre 15 e 44 anos vem sendo de 1,83 filhos e tende a cair ainda mais.

A conta é muito fácil de fazer. Por causa da mortalidade infantil, o índice de fecundidade da mulher em idade de procriar necessita ser de 2,1 filhos. Isto na média de países desenvolvidos, com pequenas variações entre eles.. Em países ainda pobres ou em desenvolvimento, como o Brasil, precisa ser de 2,5 a 3,3, para repor a população que morre, simplesmente repor.

Em 1970 nosso índice de fecundidade era de 5,76 filhos por mulher. Não tenho números oficiais, mas arrisco dizer que não há um único país no mundo em que o índice de fecundidade tenha caído tão rapidamente, em tão curto tempo, quanto no Brasil.

Alguns incautos se alegram com a notícia, dizendo bobagens como esta: em vez de ganhar 500 reais por mês para alimentar seis ou sete crianças, Zé Beldroegas precisará alimentar agora apenas uma ou no máximo duas com o mesmo dinheiro.

O que eles não compreendem é que a população envelhecerá (já está envelhecendo) e o resultado será um número menor de jovens para contribuir, com seus impostos, para manter um mínimo de padrão de vida e de assistência médica para o crescente contingente de aposentados. Isto é, de gente que apenas tira do bolo, sem por.

Nosso governo, convencido de que o Brasil está a um passo de se tornar uma potência mundial, não parece nem um pouco preocupado com o assunto. Se as autoridades estão preocupadas, é uma preocupação muito na moita, na surdina, pois nada se lê a respeito.

Enquanto isto a Rússia, outro país do tão badalado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) já adotou uma política de incentivo à natalidade, como comentei na coluna “Amor Patriótico”, depois de ver sua taxa de fecundidade cair para 1,4 filhos por mulher.

Será que precisaremos chegar a um patamar assim tão baixo para que Brasília afinal se manifeste? É algo que deveremos saber em breve, pois o encolhimento de nosso índice de fecundidade é tão pronunciado que estaremos num nível igual ao russo muito em breve.

Os jornais falam que a população brasileira vai parar de crescer em 2039, o que é um erro. Ela já começou a parar de crescer, mas é como a inércia de um navio, que ainda se arrasta na água mesmo quando as máquinas já estão dando marcha a ré total.

Estamos seguindo apenas no embalo. Já começamos a parar de crescer e, em 2039, o navio-tanque que é uma população de 190 milhões de pessoas entrará em números negativos: 180 milhões, 170 milhões e menos. Milhões de velhos, economicamente inativos.

Na verdade, como já expliquei acima, o processo é mais rápido do que os jornais supõem e se fará sentir antes de 2039.

Já que estamos tão convencidos de que seremos uma grande potência, que tal olhar para um país que vem sendo uma grande potência há mais de um século? Os Estados Unidos têm 305 milhões de habitantes e o índice de fecundidade da mulher americana entre 15 e 44 anos, em sua extensão contígua, é de 2,05, aumentando um pouco se incluirmos o Alaska, Havaí e territórios como Guam e Ilhas Virgens.

Acorda, Brasil."

FONTE: artigo do jornalista e escritor José Inácio Werneck publicado no site "Direto da Redação", dos jornalistas Leila Cordeiro e Eliakim Araujo.

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