segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O PESADELO DAS GUERRAS

"Miami (EUA) - Enquanto se trava uma luta encarniçada no Congresso dos EUA pela aprovação de uma alternativa de saúde pública para o povo americano – algo que os parlamentares republicanos e os democratas conservadores querem impedir – duas guerras tiram o sono de Barack Obama e seus assessores na Casa Branca.

Heranças péssimas da administração anterior, as guerras do Iraque e do Afeganistão continuam a assustar os membros do governo – e não só em tempo de Halloween. Obama tem de decidir se envia mais tropas para o Afeganistão a fim de ganhar uma guerra que dificilmente pode ser ganha, porque os integrantes do Taliban são covardes e agem nas sombras para se defender, além de atacar e matar aqueles que ousam desafiar suas decisões.

No plano militar, parece inevitável o envio de mais soldados para o front em 2010. No entanto, esta é a melhor alternativa do ponto de vista político? Difícil responder. Se o presidente dos Estados Unidos der a ordem para retirar as tropas do Iraque e do Afeganistão pode ser taxado de frouxo e covarde – e a mídia conservadora vai pintá-lo como um governante fraco para defender a (ainda) maior potência do planeta.

Entretanto, se optar pelo envio de mais soldados, corre o risco de ver o número de soldados mortos aumentar sem poder saber quando (e se) a guerra será vencida. Além do mais, as duas guerras contribuem muito para sangrar os recursos do país, e também não seria justo com as populações dos dois países se verem privadas das condições básicas para viver em paz. Ironicamente, as guerras consomem um dinheiro absurdo e são apoiadas pelos conservadores. Porém, o simples fato de o governo cogitar investir na saúde pública provoca fortes reações deles que brandem o discurso de “responsabilidade fiscal”.

Daí, a desesperada tentativa do atual governo dos EUA em promover eleições no Iraque e no Afeganistão e assessorar os governos eleitos a montar um sistema de segurança pública e forças militares que garantam a estabilidade dos países, ao mesmo tempo em que sejam feitas obras de infraestrutura e em setores fundamentais como saúde, educação e habitação. O problema é ver – e ter de ratificar - as eleições de governantes corruptos e, muitas vezes, comprometidos com inimigos dos ocidentais.

O plano seria perfeito se não houvesse o radicalismo de grupos religiosos que controlam as tribos que habitam montanhas e cavernas no Afeganistão e os fanáticos xiitas que querem retomar o governo no Iraque para transformar o país numa república islâmica nos moldes do Irã – não à toa que o falecido Saddam Hussein era odiado pelos iranianos por ter evitado a instauração da ditadura religiosa na época em que governava o país com mão de ferro e sob uma ditadura sangrenta.

No caso do Afeganistão, a coisa é ainda pior porque Obama declarou ao assumir o governo que os membros do Taliban seriam derrotados, algo que ele esqueceu de combinar com os inimigos. E agora precisa descascar este pepino.

Para as forças armadas dos EUA e seus aliados vencerem esta guerra somente se os adversários lutarem limpamente sem apelar para atentados suicidas contra inocentes e sem se esconder em grutas e cavernas. Mas porque eles vão mudar a tática que já deu certo contra o então poderoso exército soviético – a derrota no Afeganistão contribuiu decisivamente para a ruína da União Soviética e seu império odiado, tanto que as repúblicas socialistas soviéticas correram para deixar de ser socialistas e soviéticas…

Como a História registra os fatos, vale lembrar que os guerrilheiros afegãos, os mujaheddins, foram armados e treinados pelos americanos. Agora, eles estão cobrando a fatura. Com juros e correção monetária!"

FONTE: texto de Antônio Tozzi, publicado no site "Direto da Redação", dos jornalistas Leila Cordeiro e Eliakim Araujo. Sobre o autor:

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