domingo, 22 de novembro de 2009

SEM APOIO REGIONAL, OS EUA NUNCA VENCERÃO NO AFEGANISTÃO

"Sem apoio regional, os EUA nunca vencerão no Afeganistão" diz conselheiro do governo chinês

Liu Xuecheng, de 62 anos, é vice-presidente do Centro de Relações China-EUA, funcionário do Ministério do Exterior chinês, e conselheiro do governo em questões de política asiática e segurança. Desde 2001 dá aulas na Universidade do Texas durante um quadrimestre por ano.

El País: Qual é a importância da viagem de Barack Obama à Ásia?

Liu Xuecheng:
A primeira prioridade do governo de Obama na política exterior são as guerras no Iraque e Afeganistão. Depois vem a Europa, e depois a Ásia. As viagens que ele fez demonstram isso. A sequência seguida na Ásia também é significativa. Primeiro ele visitou o Japão, seu aliado.

El País: Esta será a terceira cúpula bilateral de Obama com o presidente chinês, Hu Jintao. Qual é seu significado?

Xuecheng:
Não se trata somente de um encontro sobre temas bilaterais, mas sim regionais, e especialmente globais, devido à crise econômica. A Ásia pode ser o primeiro continente a se recuperar. A China tem uma responsabilidade internacional de trabalhar com os EUA, a Europa e outras grandes economias para sair da crise. Em segundo lugar, está a mudança climática, em relação à qual, embora compartilhemos o mesmo objetivo, ainda temos diferenças. Devemos cooperar. Precisamos de novas fontes de energia e novas tecnologias. E em terceiro lugar, estão as guerras.

El País: Como você vê a situação no Afeganistão?

Xuecheng:
Não é muito promissora. Com 100 mil soldados em um país tão montanhoso só é possível proteger as grandes cidades e as estradas. E nem sempre. A China tem influência no Afeganistão. Sem o apoio regional, sem o apoio dos vizinhos, os Estados Unidos nunca vencerão esta guerra.

El País: Como pôr fim aos conflitos no Afeganistão e no Iraque?

Xuecheng:
É muito fácil: saindo de ambos os países. Mas em ordem, passo a passo e trabalhando com a comunidade internacional. Quantas pessoas inocentes já morreram? Quantos refugiados?

El País: Outros pontos conflitantes são a Coreia do Norte e o Irã.

Xuecheng:
São problemas muito difíceis. Mais uma vez, os Estados Unidos não podem resolvê-los sozinhos.

El País: As negociações para a desnuclearização da Coreia do Norte se eternizam. Por quê?

Xuecheng:
Está muito claro. Ela tenta conservar suas armas nucleares. Os Estados Unidos e a Coreia do Sul continuam legalmente em guerra com a Coreia do Norte (já que o conflito da Coreia - 1950-1953 - acabou com uma trégua, e não com um tratado de paz). A agenda deve incluir a assinatura de um tratado de paz e o restabelecimento de relações.

El País: Alguns críticos em Washington pensam que a China tenta excluir os Estados Unidos do processo de integração regional na Ásia.

Xuecheng:
Ninguém quer excluir os Estados Unidos. Nossas relações econômicas são muito fortes. A China apoia qualquer tipo de integração que conduza ao desenvolvimento econômico, à paz e à estabilidade na região. Nossa política não é assumir nenhuma liderança. Como os EUA podem dizer que ocupam um papel de liderança na Ásia se não são membros de grupos como Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) ou da Organização para a Cooperação de Xangai? Os EUA só lideram o Japão.

Mas agora o Japão disse: "Não, nós somos iguais". Na política dos EUA na Ásia, existe uma grande diferença entre a ideia e a realidade. Primeiro deve ser parte da Ásia e trabalhar como um sócio. Então, se tiver dinheiro, tecnologia, boas ideias e o apoio de todos os países da Ásia, apoiaremos que seja o líder.

El País: A China prefere o governo de Obama ou do presidente anterior, George W. Bush?

Xuecheng:
Podemos trabalhar com ambos. Mas é preciso buscar a continuidade, porque a política de Bush com a China teve sucesso, ainda que a princípio houvesse alguns problemas. Obama começou prolongando a política de Bush de envolver a China.

El País: Você acredita que outros países da Ásia se aproximam dos Estados Unidos para equilibrar o peso da China?

Xuecheng:
Todos os países da Ásia empregam a política do equilíbrio: usar a China contra os EUA e os EUA contra a China.

El País: Obama tratará da situação dos direitos humanos na China com os líderes. Qual é sua opinião?

Xuecheng:
Os EUA deveriam se preocupar mais com a situação dos direitos humanos em seu país. Obama fala disso principalmente por razões de política interna."

FONTE: reportagem de Jose Reinoso, em Beijing (China), publicada hoje (22/11) no jornal espanhol El País e postada no portal UOL com tradução de Eloise De Vylder.

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