"Brasileiro se credenciou a ter papel relevante na região, diz palestino
DE JERUSALÉM
É difícil encontrar alguém com tanta quilometragem nas negociações de paz com Israel como Nabil Shaath, que foi o primeiro chanceler palestino e continua sendo um dos principais estrategistas da ANP (Autoridade Nacional Palestina).
Para Shaath, a liderança mundial conquistada pelo presidente Lula, principalmente entre os países em desenvolvimento, dá ao Brasil um papel quase natural no processo de paz do Oriente Médio.
FOLHA - O Brasil pode ter um papel relevante na solução do conflito?
NABIL SHAATH - O presidente Lula é a primeira personalidade brasileira conhecida nesta parte do mundo depois do Pelé. Lula criou para si uma imagem nesta parte do mundo que levou o Brasil a ocupar as mentes e a imaginação das pessoas. Em 2004, eu sugeri ao presidente Lula que o Brasil deveria fortalecer as relações com Índia, África do Sul e outros países emergentes para criar um novo sul. Disse a Lula que o Brasil tinha aliados importantes na África, na Ásia e no mundo árabe e que dentro da política sul-sul, a questão palestina assumiria um lugar central. Desde então o presidente Lula fez muito para construir sua imagem como líder do sul, obteve estabilidade econômica e, ao mesmo tempo, manteve a luta contra a pobreza. Sem dúvida isso tudo o credenciou a ter um papel mundial relevante, com peso também no Oriente Médio.
FOLHA - Muito tem se falado em uma nova intifada (revolta palestina). Estamos à beira de mais uma onda de violência?
SHAATH - Eu asseguro a você que nós não vamos voltar à luta armada, embora tenhamos esse direito. A ocupação israelense de nosso país é violenta, é ilegal, e nós temos o direito de lutar. Mas essa não é a nossa única opção. A África do Sul forçou o regime do apartheid a se render com uma campanha internacional de boicote. Nossa estratégia inclui a resistência popular não violenta em todos os lugares, sobretudo Jerusalém.
FOLHA - Atos terroristas cometidos contra Israel foram um erro que prejudicou a causa palestina?
SHAATH - A lei internacional permite a luta contra a ocupação, mas não atingir civis. E toda a campanha do Hamas foi baseada em atentados suicidas contra civis. Eles criaram uma imagem muito ruim para nós. Mas a luta armada que fizemos na Jordânia, na Síria e no Líbano funcionou. A primeira vez em que a questão palestina foi discutida politicamente foi num discurso que eu escrevi para Iasser Arafat pronunciar na ONU, em 1974. Isso não teria sido possível sem a luta armada iniciada em 1965. A segunda intifada [2000] começou não violenta, mas os israelenses empurraram os palestinos a retribuir. Coincidiu com o 11 de Setembro, e fomos imediatamente acusados de terrorismo, o que justificou o cerco a Arafat e seu assassinato por Israel.
FOLHA - Assassinato?
SHAATH - Não sabemos quem colocou o veneno, mas não temos dúvidas de que foi assassinato. O boletim médico francês claramente aponta para um material tóxico.
FOLHA - Com o impasse no processo de paz, alguns palestinos têm sugerido a dissolução da Autoridade Nacional Palestina. Por quê?
SHAATH - Por desespero. É também uma estratégia para forçar Israel a assumir suas responsabilidades segundo a Convenção de Genebra. Há 18 anos negociamos a retirada da Cisjordânia e de Gaza, e nesse tempo cada centímetro de nosso território foi reocupado.
FOLHA - Israel acusa os palestinos de recusar propostas que poderiam resultar num acordo.
SHAATH - Quando? Eu estive em todas as negociações. Os israelenses nunca realmente aceitaram voltar às fronteiras de 1967 e permitir um Estado palestino soberano."
FONTE: publicado hoje (14/03) na Folha de São Paulo [título colocado por este blog].
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Um comentário:
Prezado Martins,
Acredito, também, que o Presidente Lula, intencionalmente ou não, com méritos cristãos ou não, esteja na Palestina somando para a "nobre causa do Senhor Jesus Cristo", conforme suas palavras.
Maria Tereza
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