PALESTINA: PAZ CADA VEZ MAIS DISTANTE
"Quando esta reflexão começar a ser lida, o Presidente Luis Inácio Lula da Silva já estará em Israel iniciando um giro pela região, que ainda abrangerá o território palestino e a Jordânia. Mais tarde, em maio, Lula visitará o Irã, onde se encontrará com o polêmico Mahmoud Ahamadinejad. Ou seja, o presidente brasileiro dialoga com gregos e troianos e foi considerado pelo jornal israelense Haaretz como “profeta do diálogo”.
Naturalmente, tudo isso desagradará profundamente a oposição brasileira sem bandeiras, que não se cansa agora em criticar Lula pelo posicionamento em relação ao novo grevista de fome cubano.
Em Israel, não será surpresa se Lula for hostilizado por fundamentalistas judeus que nunca tiraram da cabeça o sonho bíblico de formar a “grande pátria”, ocupando territórios palestinos. Aliás, toda vez que se começa a falar em negociações de paz, o governo israelense, atualmente sob o comando do troglodita político Benyamin Netanyahu, autoriza a construção de mais colônias em área palestina, como agora com as residências em terras da Cisjordânia anexadas a Jerusalém.
Não deu outra, quando o vice-presidente estadunidense Joseph Biden, um aliado incondicional, estava visitando Israel e um dia depois de a Autoridade Palestina apoiar a reabertura de negociações foi autorizada a construção ilegal das casas para colonos judeus na Cisjordânia. A grossura que confirma o caráter troglodita de Netanyahu e seus pares valeu até uma reprimenda da Secretária de Estado Hillary Clinton, algo raro de acontecer.
Uma coisa é certa, se não forem desmantelados os assentamentos construídos em terras palestinas, qualquer possibilidade de negociação será muito difícil ou mesmo impossível. Fica muito claro também que o governo extremista de Israel prefere o confronto a ter que fazer concessões.
Netanyahu e seus pares tentam iludir a opinião pública internacional com o “perigo iraniano” e para isso contam com o apoio dos falcões estadunidenses sequiosos em adotar medidas radicais contra o governo de Ahmadinejad.
Para dourar a pílula, as agências de notícias e os correspondentes estrangeiros em Israel colaboram não divulgando fatos, como, por exemplo, a impunidade do assassino da jovem pacifista estadunidense Rachel Corrie, atropelada deliberadamente por um trator conduzido por um militar, em 16 de março de 2003, durante um protesto contra a construção de um muro, o da vergonha, separando Israel dos territórios palestinos e causando sérios prejuízos aos palestinos. Por sinal, na cidade israelense de Haifa se realizou no dia 16 último um julgamento póstumo do militar responsável pelo assassinato, que segue impune.
Para ficar ainda mais claro, praticamente não se noticiou que cerca de 5 mil pacifistas árabes e judeus foram às ruas do bairro palestino de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental para protestar contra o assentamento de judeus naquela área e a evacuação de famílias árabes de suas casas. Claro, noticiar um fato dessa natureza pode prejudicar a estratégia do troglodita Netanyahu que procura apresentar Israel como eterna vítima e acusar de antissemita, até os próprios judeus, quem se coloca contra a política colonial israelense.
Os manifestantes portando bandeiras israelenses e palestinas expunham cartazes com os dizeres “Parem a destruição das casas” e “Uma cidade ocupada não é sagrada”.
As autoridades reprimem e criam obstáculos para a realização dos protestos. Os meios de comunicação noticiam apenas eventuais confrontos e geralmente adjetivam os palestinos como "terroristas" e os militares israelenses não como uma "força de ocupação".
É este o quadro que Lula encontrará. Todo cuidado é pouco.
"DEMOCRATAS BRASILEIROS..."
Em tempo: Enquanto isso, por aqui, o Senador Demóstenes Torres, do Demo, opositor ferrenho das cotas para negros nas universidades, cujo partido entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal para tentar acabar com o que vem sendo feito com pleno êxito já há anos, deixou claro quem é e a que veio. Disse que as mulheres negras no período da escravidão nunca foram estupradas. Tudo era feito consensualmente.
Lamentável que algum integrante do Senado brasileiro defenda tese do gênero senhor de engenho. Torres recebeu o repúdio do Conselho Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e merece também o veemente repúdio de todos os cidadãos deste país que abominam qualquer forma de racismo, inclusive as manifestadas em pensamento do gênero Demóstenes Torres.
E o jornal O Globo terá de enfrentar uma ação judicial por ter na prática inviabilizado a publicação de matéria paga de um manifesto em que se afirma a constitucionalidade das políticas de ação afirmativa e das cotas. Incrível como um jornal que apregoa a todo instante a defesa da liberdade de expressão, promovendo ou participando de debates, impeça a publicação de um manifesto cujo teor abomina.
Na justificativa O Globo disse ter considerado a matéria como “expressão de opinião” e portanto sujeita a outros valores. O custo do anúncio passo a custar R$ 712.608,00 e não mais o da tabela por R$ 54.163,20. Ou seja, O Globo na prática inviabilizou o manifesto e ainda tenta justificar o injustificável.
Esses são os tais democratas desde criancinha das Organizações Globo que quando questionados se apresentam como vítimas e se recusam ou criam obstáculos para dar espaço ao contraditório, mesmo que o contraditório apareça em forma de matéria paga.
Resta saber como vai decidir a Justiça e o que se espera é sem injustiça."
FONTE: escrito pelo jornalista Mário Augusto Jakobskind, do semanário uruguaio Brecha, e postado no site "Direto da Redação" [títulos colocados por este blog].
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário