terça-feira, 10 de agosto de 2010

EMPRESAS AÉREAS NACIONAIS PERDEM ESPAÇO

Empresas cresceram 43% em voos para o exterior. Estrangeiras aumentaram 76,9%

“O crescimento vigoroso do setor aéreo no País tem estimulado o apetite das companhias estrangeiras pelo mercado brasileiro, aponta um levantamento feito pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

Das 58 novas rotas internacionais autorizadas este ano, apenas 11 foram alocadas para as companhias nacionais TAM e Gol. Enquanto as empresas brasileiras expandiram em 43% suas operações para o exterior de 2003 para cá, as estrangeiras cresceram 76,9%.

"As empresas nacionais têm perdido participação principalmente nas ligações de longo curso, como para os Estados Unidos e a Europa", diz Elton Fernandes, professor da Coppe/UFRJ e presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Transporte Aéreo (SBTA). "No início da década, existia um equilíbrio. As companhias brasileiras detinham cerca de 50% do mercado internacional, com liderança da Varig, antes do seu colapso", explica o pesquisador.

O avanço das estrangeiras é reflexo de uma política de abertura do mercado adotada pela ANAC nos últimos anos, que inclui a instituição da liberdade tarifária e os acordos bilaterais, que permitem a operação de voos internacionais. O Brasil possui acordos com 78 países, dos quais 40 foram negociados a partir de 2008. O foco é a livre determinação, pelos países signatários, do número de voos e a escolha de rotas e cidades de destino.

AVANÇO

"Se você oferece mais frequências e as empresas nacionais não têm condições de operá-las, as estrangeiras acabam ocupando esse espaço", diz Fernandes. Para ele, a possibilidade de voar para mais cidades potencializa o crescimento das empresas internacionais. Hoje, a portuguesa TAP tem voos partindo de oito capitais brasileiras: Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Natal, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Segundo a presidente da ANAC, Solange Vieira, essa é uma forma de expandir a aviação internacional. "Hoje os aeroportos de São Paulo e do Rio de Janeiro estão relativamente saturados. A tendência, para que este mercado cresça, é a distribuição de voos para outros aeroportos.

Há alguns anos, praticamente só havia voos internacionais partindo dessas duas capitais", diz.

Exemplo disso é a American Airlines, que até 2008 voava apenas para Rio e São Paulo. Desde então, passou a ter voos para Belo Horizonte, Salvador e Recife. "É um mercado que está superaquecido e queremos ampliar nossa presença aqui", diz o diretor comercial, José Roberto Trinca. O próximo passo, informa, é o lançamento de uma operação em Brasília ainda este ano.

Enquanto o mercado se abre, as empresas nacionais enfrentam dificuldades de concorrer com companhias estrangeiras maiores, avalia Allemander Pereira Filho, consultor do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea). "No Brasil, a carga de impostos para empresas do setor aéreo fica em torno de 35%. Na Europa e EUA é de 16% e 9%, respectivamente."

Com receio de prejuízos nesse mercado, as companhias brasileiras avançam lentamente. "A TAM vem fazendo um trabalho cuidadoso, operando em rotas mais procuradas", afirma Pereira Filho.

Paulo Castello Branco, vice-presidente Comercial e de Planejamento da TAM, diz que a companhia tem tido um crescimento "espantoso" nos últimos anos, mas confirma a orientação cautelosa da expansão.

"Há cinco anos voávamos apenas para Miami e Paris. Agora a empresa vai para 18 destinos internacionais. Por ano, analiso 30 mercados no exterior, mas só voamos para os que podem se tornar rentáveis em até seis meses".

O executivo afirma que a TAM tem hoje mais voos internacionais do que a Varig operava no seu auge, mas para um número menor de destinos. "O que ocorre é que a Varig voava para determinados destinos que não eram rentáveis. A TAM é listada em bolsa e por isso é muito criteriosa em relação a isso", diz.

Para Fernandes, a operação de rotas não rentáveis pela Varig ocorria porque a empresa não tinha apenas o objetivo de gerar lucro. "A Varig era uma embaixadora do Brasil no exterior. Em todo o mundo as empresas atuavam como representantes de seus países. Isso mudou pelo que se vê nas grandes fusões, como o da British Airways com a espanhola Ibéria", explica.”

FONTE: reportagem de Glauber Gonçalves publicada no “O Estado de São Paulo”.

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