“Ao assumir a presidência pro tempore do Mercado Comum do Sul (Mercosul), em San Juan, Argentina (04/08), o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, assinalou que a América do Sul é um exemplo de como o mundo pode viver em paz, sem armas nucleares, sem guerra, de forma muito mais harmoniosa e confiou que durante os seis meses nos quais seu país estará à frente do organismo a região possa avançar na construção de um bloco onde todos sejamos amigos.
Editorial do “La Jornada” (México)
Tal afirmação tem como elemento de contexto as tensões diplomáticas entre a Colômbia e a Venezuela, um ponto sobre o qual o próprio mandatário brasileiro enfatizou, ao assinalar que ambos países têm que entender-se e concretizar uma relação de custo-benefício; indicou que quanto mais rápido se estabeleça a harmonia entre Caracas e Bogotá, mais ganharão os povos de ambas nações; e convocou a uma aproximação entre o mandatário venezuelano, Hugo Chávez, e o presidente eleito na Colômbia, Juan Manuel Santos, a quem pediu que exerça seu mandato de maneira negociada para alcançar a paz.
Por outro lado, o mandatário brasileiro reiterou sua defesa de um diálogo entre o subcontinente e o Irã e se disse decepcionado pela imposição, por parte da ONU, de novas sanções contra o governo de Teerã, apesar do acordo alcançado entre este e os regimes do Brasil e da Turquia: trocar com o segundo desses países urânio pouco enriquecido por porções do metal suficientes para o uso do reator nuclear iraniano. Com relação a esse último, o atual presidente do Mercosul ‘colocou o dedo na ferida’: "Hoje, me pergunto se realmente desejamos a paz ou se queremos manter um clima de instabilidade que existe, para justificar uma teoria de Maquiavel: ‘é necessário dividir para reinar’".
As declarações formuladas ontem pelo mandatário brasileiro permitem ponderar o peso que adquiriu seu país como um ator cada vez mais importante na diplomacia internacional. Em primeiro lugar, a mediação brasileira no conflito entre Caracas e Bogotá constitui, no momento atual, um elemento duplamente valioso: por um lado, porque ao manter uma equidistância entre ambas partes, o mandatário se apresenta como um interlocutor válido e desejável; por outro, porque ao propor uma via de negociação alternativa à Organização dos Estados Americanos (OEA), contribui para evitar o conflito da esfera de dominação geopolítica dos Estados Unidos, e o coloca em um cenário mais democrático, igualitário e propício para a negociação.
Além do mais, os chamados de Lula ao diálogo com o Irã e sua condenação ante o recrudescimento das sanções contra Teerã constituem indicadores da independência que o subcontinente tem adquirido -salvo os casos da Colômbia e do Peru- com respeito aos desígnios de Washington e de seus aliados.
Ao mesmo tempo, as declarações exibem um ponto de encontro entre Brasília e a República islâmica, concordância que não radica na justificação de processos armamentistas -como os que o Ocidente ataca Teerã-, mas na necessária defesa das soberanias nacionais frente à hegemonia dos poderes planetários nos âmbitos econômico, político, diplomático e militar.
Em suma, ante as posturas expressadas por Lula, é claro que o Brasil desempenha, hoje em dia, um papel lúcido e construtivo na solução de tensões no âmbito diplomático. A condição de interlocutor central e crível que o governante brasileiro adquiriu coloca seu país na posição de incidir positivamente em diversos conflitos que se desenvolvem dentro e fora do continente e cabe esperar que o consiga.”
FONTE: Editorial do “La Jornada” (México) publicado no portal “Vermelho”.
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